Sugestão de ato na porta de quartéis exposta em rede social de Bolsonaro alarma militares

Matéria Especial - Entrevista com Deputado Federal Jair Bonsonaro

Chamamento apócrifo para manifestação em frente a quartéis é citado pelo presidente no Twitter

Igor Gielow
SÃO PAULO

As redes sociais bolsonaristas começaram a circular, nesta terça (17), o chamamento para um novo protesto em favor do governo e contra o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.
Desta vez, a repetição do ato do domingo (15) seria “na frente dos quartéis”, pois “agora é guerra!”.
A data? O 31 de março que marca os 56 anos do golpe que instaurou a ditadura de 1964, regime admirado pelo presidente Jair Bolsonaro.
A postagem é apócrifa, e até aqui organizadores do ato de domingo não fizeram nenhuma nova convocação.
Mas o próprio Bolsonaro indicou apoio, a seu estilo. Publicou no Twitter um questionamento feito pela jornalista Vera Magalhães sobre ele autorizar ou não aquele tipo de ato, na qual aparecia a imagem do chamamento.
Ele a destratou sem responder, mas seu objetivo estava consumado: expôs a ideia para todos seus apoiadores.
A convocação caiu como uma bomba dentro de alguns dos quartéis citados no texto.
Os grupos de WhatsApp do alto oficialato das três Forças passaram a discutir a conveniência e o sentido de tal convocação. Oficiais-generais disseram acreditar ser uma provocação barata, visando associar os militares aos polêmicos atos que pedem o fechamento do Congresso e do Supremo.
Isso já havia acontecido antes do protesto do dia 15, quando circularam imagens apócrifas de generais como Augusto Heleno (Segurança Institucional) ao lado de palavras de ordem invocando uma intervenção militar.
Heleno, o estopim do ato do dia 15 por ter dito que o Congresso chantageava o governo na discussão sobre o destino de R$ 30 bilhões do Orçamento, teve de dizer que não tinha emprestado seu nome para pedir apoio a manifestações.
Mais incisivo foi o vice-presidente Hamilton Mourão, outro general de quatro estrelas da reserva, que criticou o uso de sua imagem, embora tenha contemporizado o fato de que Bolsonaro havia divulgado vídeo chamando para o ato —que acabou unindo contra o presidente os líderes do Legislativo e do Judiciário.
Já outros militares acreditam que a postagem se trata de um balão de ensaio para ver se a ideia pega, até ser encampada por alguma instância apoiadora do governo, como o Movimento Conservador.
A intervenção virtual de Bolsonaro no Twitter indica que tudo foi bolado pelo entorno familiar do presidente, hábil nesse tipo de ação.
Neste caso, o problema é ainda maior para os fardados, porque inevitavelmente obrigará a ativa e a ala militar abrigada no governo a se manifestar sobre a ideia. O tema é extremamente sensível, particularmente no Exército, líder do golpe de 1964.
Os militares consideram, via de regra, que o que houve foi uma revolução que impediu que o governo de João Goulart descambasse para o socialismo. Mas a linha geral é a de tentar situar isso como uma etapa histórica e celebrar a volta à democracia —ainda que ela só tenha ocorrido 21 anos depois.
Esse foi o tom da nota do Ministério da Defesa sobre os 55 anos do golpe, a primeira sob Bolsonaro, um entusiasta do regime.
A ideia é deixar 1964 para trás, e associações como a sugerida no panfleto virtual não facilitam a vida dos chefes militares mais moderados. Pior, entre oficiais mais novos e para baixo na cadeia de comando, é conhecido o entusiasmo pela agenda antidemocrática associada a esses bolsonaristas.
Ela se repete nos estratos estaduais, as polícias militares. Elas são subordinadas ao Exército, mas foram moldadas na ditadura e constitucionalmente servem de força auxiliar aos generais em caso de necessidade.
Nelas, a influência do bolsonarismo é forte, como o episódio em que o chefe da Força Nacional confraternizou-se com integrantes do motim da PM cearense no começo do mês.
Essa associação já chama a atenção de políticos. O governador tucano de São Paulo, João Doria, disse à Folha na semana passada que via uma tentativa de “miliciamento” das polícias brasileiras por parte do Planalto.
Um general afirmou que, por todo esse clima, o pior que poderia haver agora seria a disputa entre Poderes envolver também as Forças Armadas. Ele torce para que a publicação seja apócrifa, mas admite que o espírito dela já está enraizado nos quadrantes mais radicais que ainda apoiam Bolsonaro.
Folha de São Paulo/montedo.com

8 respostas

  1. Senhores…se preocupem com a epidemia que ceifará muitas vidas no Brasil e atinge, em cheio, nossa economia! Deixem a política para depois! O momento é muito grave!

  2. Deixemos claro o seguinte: Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente, pelo voto dado pela esmagadora maioria da população brasileira, estabeleceu como meta de campanha dar um basta ao caos estabelecido pelos 30 anos da esquerda no Brasil e desde que tomou posse, sempre procurou estar em sintonia com os anseios, interesses e a vontade soberana do nosso povo. A atual situação político-institucional do país é grave porém, não devemos confundir uma Intervenção Cívico-Militar ( como a que ocorreu em 1968 ) com uma Ditadura, haja vista que são coisas totalmente distintas. Não podemos esquecer que a adoção dessa drástica medida, é prerrogativa constitucional dos Presidentes de cada uma dos Três Poderes da República, quando a situação do país estiver fora de controle e colocando em risco a governabilidade, soberania ou a garantia da lei e da ordem em todo o território nacional. ( Ítem III, Art.14 e Art.142 da Constituição Federal ). Por último, se o povo foi às ruas pedir por uma Intervenção Militar é porque sabiamente chegou à conclusão de que, com a grande maioria dos atuais componentes do STF e do Congresso Nacional ( Especialmente seus Presidentes ), não só Bolsonaro mas nenhum outro nome que venha a ocupar a cadeira da Presidência da República, conseguirá governar se não se submeter ou fizer o espúrio e corrupto jogo deles, o famigerado, abominável e inaceitável toma-lá-dá-cá.

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