Aqui o filho chora e a mãe não vê!

Ruben Barcellos*
São muitas as lendas sobre a vida nos quartéis. São muitas as lendas sobre os militares, a vida que levam e os trabalhos que passam. São muitas as versões de quem são esses que não têm hora pra si, nem dias feriados, nem natais, nem hora extra e nem direito de greve.
Meu vizinho João Vitor vai servir este ano. Milhares de jovens nessa faixa dos 18 anos vão servir este ano em todos os quartéis do Brasil. Milhares de mães vão chorar pela incerteza do futuro e pelos perigos que seus meninos vão passar com armas, granadas, noites escuras e fome e sede e madrugadas de renguear cusco. Não é de se pensar que se fosse um bicho de sete cabeças, ninguém sobreviveria a estas provas?
Vão cobrar deles, destes meninos, que corram até alguns caírem no chão? Vão. Vão fazê-los sentar e levantar um sem número de vezes até que suas pernas não lhe obedeçam? Vão. Vão gritar ordens diversas em seus ouvidos que mais os confunde que os orienta? Vão. Vão lhes dar pouca comida e pouca água e pouco sono? Vão. Vão exigir o uniforme limpo, o coturno lustrado e a barba feira todos os dias? Vão. E até no inverno quando a farda ficar na corda o dia todo e a umidade do ar não secar nadica de nada? Sim. Vão cobrar o cumprimento do horário caia raio ou rache o sol? Sim. Vão dizer “sim, senhor” e “não, senhor” pra todos os que chegaram antes deles e que fizeram exatamente o que cobram? Sim.
Também já fui um menino de 18 anos. Já esperei na fila do barbeiro, já esperei na fila do rancho, já esperei chegar a minha vez de lavar a cara, escovar os dentes e tomar banho. Já sentei no chão, rastejei no barro, usei corda como escada e o poncho quando chovia. Já esperei o dia romper a madrugada em noite de serviço com a roupa colada ao corpo pelo calor intenso. E já bati os pés pra espantar o frio antes que congelasse meus dedos dentro do coturno.
Por isso, cara pálida, fica frio. Tudo vai passar como passaram os anos desde que eras um menino mijado. Agora, teus braços e pernas precisam se fortalecer na barra e na flexão pra fazer o trabalho árduo que te espera. As ordens gritadas vão te ensinar a ouvir o essencial sem dar bola pra coisa que não te dizem respeito ou não levam a nada. A comida, a água e o sono serão irrelevantes diante das tuas missões recebidas e presumidamente cumpridas. O uniforme usado de maneira correta e digna vai dizer muito da tua formação e do teu caráter. E chegar na hora pra teus compromissos, vai te trazer confiabilidade em quem te rodeia.
Sim, senhor, teu pai viveu todas essas emoções.
Não, senhor, ele não é o super homem.
Abraço, boa sorte!
*Militar da reserva

14 respostas

  1. O texto é sobre o eb dos anos 80 e 90. Quase tudo que foi listado, montedo, hoje em dia, dá cadeia. Hoje é colocar sentadinho na sombra e pedir por favor, sem levantar muito o tom de voz.

    1. Falou tudo companheiro. Hoje os “novinhos” relutam até para respeitar os mais antigos. Eles gostam de falar: “hoje são outros tempos”. No meu entender os Regulamentos são os mesmos. Antigamente até o Comandante do Esquadrão chamava o Subtenente de Senhor. Lembro da farda verde oliva e aquele losango branco no ombro e os cabelos brancos na cabeça significava respeito, experiência e quem não respeitava era enquadrado na hora. Hoje é zap zap o tempo todo, garrafinha de água na mão e malhação.

      1. Tem que ver o sub “adjunto de comando” da minha om.
        E assim…
        Crossfit, garrafinha de água. Arma é perigoso entao usa uma pistola de airsoft na formatura.
        Meu Deus, algo vai muito mal!

    2. O eb dos anos 80/90…
      Generais que viram a revolucao de 1964

      O eb dos a os 60/70
      Generais que viram Montese

      O eb do counter strike, powpow
      Pais vermelho lose

      Aiai… as vezes invejo pessoas como voces que viram um exercito em sua atividade fim, nao esse bando de embusteiro cheio de medalha rolha e curso que nunca teve chance de empregar…

      Aos alvos em frente, fogo a vontade. Papel nao reage.

    3. Bom dia! Vivi esse bom tempo e Infelizmente hoje o jovem que vai servir já vem da família mal formado pisicologicamnte e o pior a falta de educação nem se fala porque não aprendeu respeitar as pessoas em casa e dai chega no quartel e tem mais direitos que deveres. Daí pra não terem problemas com o futuro da nação muitos instrutores simplesmente fazem apenas o básico e nós recebemos nas OMs um jovem que deveria voltar pras suas famílias com outra visão da vida e muitas vezes volta pior que quando chegou.

  2. Bom dia, Montedo?! Pública tudo sobre militares, se um sargento quebrar a unha do pé e rasgar o banco do ônibus, com certeza vai aparecer no site do Montedo. Não vai falar hoje do general Décio Brasil?!

  3. Eu sou moderno (2006), mas sinto saudade deste EB que não vivi, mas ouvi bastante do meu Subao.
    Lembro que só os Capitães com ESAO chamavam o Sub pelo nome.
    Hj como o amigo acima falou, o Sub tá postando foto em academia no instagran.

    Hj é uma baixaria total, tenho vergonha dos meus Sub e quando tento enquadrar os terceiros que não querem nada, sou taxado e odiado.

    Infelizmente a culpa do EB estar assim, é das turmas de 1996 pra cá, foi onde comecei a perceber os primeiros traços de promiscuidade entre os mais modernos, onde deixavam o terceiro com 10 anos a menos chama-los pelo nome etc etc.

    Mais uma vez, eu como Sgt ESA 06, acho na minha humilde opinião que a turma de 1996 foi o início no fim da Velha Escola.

    95 pra trás, os caras se dão o respeito…

  4. Isso realmente acontecia no passado, hoje no chamado “novos tempos” se gritar com o recruta é humilhação, infelizmente na era da ditadura jurídica, somos refens de advogados charlatões que são sem ideais, vivemos duas décadas perdidas, de homens sem valores, sem moral, sem sangue na veia.
    Tomara que mude, se continuar assim estanos indo rumo a falência da sociedade.

  5. Infelizmente, tudo é passado; me lembro muito bem das grandes manobras, já participei de comboios com mais de 100 viaturas no asfalto. Hoje, se virem mais de 3 viaturas no asfalto, vão dizer que é a revolução. Os militares da minha época tinha uma máxima que era comandar pelo exemplo. Me lembro que quando era Sgt Brigada, estava me preparando para a Parada Diária no alojamento engraxando o coturno, quando entraram uns Sgt modernos, ficaram espantados com a cena, ao verem um antigão engraxando o coturno. Pra mim, valeu tudo a pena, desde soldadinho medroso e sonhador a subtenente antigão.

  6. Sem querer ofender:
    Até 1985 tínhamos militares de verdade dentro das forças armadas, machos que vestiam a farda e se faziam respeitar, hoje temos um bando de servidores públicos fardados que se acham militares, salvo raras exceções.

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