Justiça Militar absolve cabo do Exército que atirou em carro e deixou morador da Maré paraplégico

A Justiça Militar absolveu, na tarde de ontem, o cabo do Exército Diego Neitzke pelos disparos que deixaram o morador do Complexo da Maré Vitor Santiago Borges paraplégico. O caso aconteceu em 2015, durante a ocupação militar do Complexo da Maré. O cabo, que serve em Porto Alegre, acompanhou a audiência por videoconferência.
A decisão — tomada em conjunto por quatro oficiais militares e pela juíza federal Marilena Bittencourt, da 4ª Auditoria do Fórum de Justiça Militar do Rio — seguiu posicionamento do Ministério Público Militar (MPM), que havia pedido a absolvição do cabo. O promotor Otávio Bravo defendeu a inocência de Neitzke com base na teoria da legítima defesa putativa, ou seja, o militar atirou porque imaginou que estava sob risco.
— O que aconteceu efetivamente nesse caso? O Estado, o Governo Federal, foi a Pelotas, no Rio Grande do Sul, a 250 quilômetros ao sul de Porto Alegre, pinçou o acusado com 21 anos de idade, botou na mão dele um fuzil 7,62, jogou ele no Complexo da Maré e falou: “Você vai trocar tiro com traficante”. Se ele errar, não é o Estado que responde pela política de segurança irresponsável, leviana e inconsequente — afirmou o promotor.
Na ocasião, Vitor Santiago voltava para casa, na Maré, com quatro amigos, após o grupo assistir a um jogo do Flamengo em um bar. Segundo a versão dos militares, o carro em que eles estavam furou uma blitz e Neitzke, integrante da Força de Pacificação, atirou seis vezes. Vitor e os amigos afirmam que não havia nenhuma sinalização de blitz no local. Além de ter ficado paraplégico, Vitor teve a perna esquerda amputada. Ele depende de ajuda até para sair do quarto, que fica no segundo andar de sua casa.

‘Corporativismo’
Vitor assistiu ao julgamento. No final, após a sentença, fez um desabafo.
— É militar julgando militar, né. Muito corporativismo. Eu estou aqui falar, para protestar. O Evaldo, de Guadalupe, não está mais. Até quando isso vai acontecer? — disse Vitor, se referindo ao músico Evaldo Rosa, fuzilado por militares no ano passado. Doze militares são réus no processo pelos homicídios de Rosa e do catador Luciano Macedo, que tentou ajudar o músico. O caso ainda está em andamento na Justiça Militar.
Ontem, a Advocacia Geral da União (AGU) foi responsável pela defesa do cabo Diego Neitzke a pedido do Comando do Exército. O militar respondia pelo crime militar de lesão corporal, com pena máxima de oito anos. Durante a audiência, o advogado da União Cláudio José Silva lançou dúvidas sobre os depoimentos de Vitor e de seus amigos e alegou que havia “discrepâncias” nos relatos, quanto ao consumo de bebida alcoólica pelas vítimas atacadas a tiros.
O motorista do carro naquela noite, Adriano Bezerra, chegou a ser denunciado pelo crime de desobediência, por não parar o carro. O processo contra Adriano, entretanto, foi arquivado. A Justiça Federal já condenou, em primeira instância, a União a pagar uma indenização a Vitor Santiago.
EXTRA/montedo.com

2 respostas

  1. O estresse de sobrevivência tem que ser colocado nas avaliações jurídicas sempre. Nenhum policial do Rio de Janeiro tem 100 por cento de certeza que voltará vivo para casa se o dia promete ser agitado. São fuzis nas mãos de bandidos…quase mil tiros por minuto. Os protocolos de reação do PM e postura do cidadão tem que ser criados e aceitos pela população. As reações dos policiais tem que ser rápidas e firmes. Pensar em algo diferente disto é expor quem nós defende à morte. O cidadão qdo se deparar com um policial civil, militar, federal, tropas em ocupação em ambientes deve levantar as mãos, se movimentar de forma lenta, mostrar documentos. As vezes a gente vê jovens tirar satisfação com o PM, o cacetete tem que ser usado para afastar, alguns jogam pedras, outros querem se aproximar demais, deixando o policial vulnerável a faca. Orando.

    1. O Brasil é um país surreal mesmo! Bandidos desfilam de fuzis, à luz do dia, e abrem fogo contra a polícia ou forças armadas com uma frequência assustadora! Em outros países, mais democráticos e desenvolvidos que o nosso, experimente “furar” um bloqueio policial…você vai virar uma peneira! Com todo o respaldo da justiça! Vi, recentemente, uma entrevista com “artistas e famosos” que vivem em cidades dos EUA e Europa…vem aqui só para ganharem seu dinheiro…aqui criticam a postura da polícia…mas indagados do porquê de morarem fora do Brasil…muitos responderam que procuraram segurança! Olha a hipocrisia e o oportunismo mostrando a sua cara…

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