Militares começam a articular candidaturas para eleições municipais

candidatos militares

Sucesso da empreitada pode dar a dimensão da capilarização e popularidade do bolsonarismo

Marcelo Godoy, O Estado de S.Paulo
Caro leitor,
Oficiais e praças estão se articulando. Querem aprofundar a presença da classe na política. O objetivo agora é lançar candidaturas às eleições 2020. O sucesso dessa empreitada pode dar a dimensão da capilarização do movimento, iniciado em 2018 e coordenado então pelo general e deputado federal Roberto Sebastião Peternelli (PSL-SP).
O exemplo de Brasília pode levar muito militar das Forças Armadas e das PMs a preencher a ficha de filiação partidária e a concorrer às prefeituras e às câmaras municipais. A votação deles deve aferir a popularidade e capacidade de mobilização do bolsonarismo, caso o movimento não consiga registrar seu partido a tempo de concorrer ao pleito.
Esse movimento, entretanto, começa a sofrer críticas de militares da reserva que veem aí um aumento dos riscos à democracia, em razão da partidarização de instituições que devem servir ao Estado e não a governos. Em outras palavras: qual a isenção de quem deve vigiar o pleito para evitar crimes eleitorais, quando seus membros são candidatos de um grupo político que recebe do governo benesses, cargos e salários? Enfim, quem vai fiscalizar o fiscal?
Marco da volta dos militares à política foi a manifestação do general Villas Bôas, então comandante do Exército, pelo Twitter, em 2018, contra a concessão de habeas corpus ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A ação do comandante teve efeito avassalador. Dezenas de oficiais seguiram o chefe e abriram contas na mesma rede social. E passaram a fazer postagens de caráter político-partidário – quase todas em apoio a Bolsonaro.
Ninguém foi punido. A panfletagem tuiteira dos homens da ativa deixou um rastro público de ruptura da isenção e da neutralidade partidária de integrantes da instituição. Em um mundo em que as correntes de WhatsApp mobilizam mais do que as reuniões do Clube Militar, o impacto da ação de Villas Bôas não pode ser desprezado. “A palavra convence; o exemplo arrasta”, afirma um coronel crítico da partidarização dos colegas.
A ação do comandante não ficou só no Twitter. Os principais candidatos à Presidência passaram a ter um general para assessorá-los em suas campanhas. Só o petista Fernando Haddad não recebeu ninguém, mostrando que a política dos militares era sobretudo antipetista. Além da libertação de Lula, eles se opunham a mudanças na Lei de Anistia.
A campanha eleitoral entrou no Alto Comando do Exército. Quando o candidato in pectore dos generais – Bolsonaro – foi esfaqueado, em Juiz de Fora, houve quem chegasse a questionar a legitimidade da eleição. Ao mesmo tempo, oficiais da reserva se preparavam para a batalha das urnas. Mais de uma centena se candidatara – a maioria pelo DEM e pelo PSL.
No fim, elegeram seis deputados federais, entre eles Peternelli, que se diplomou usando a farda de general, mas, no Congresso, adotou o terno e a gravata. Ele pretende agora voltar ao combate. E reunir e promover candidaturas militares nas eleições deste ano. Em Manaus – ele conta –, o empresário e major do Exército Romero Reis, que deixou o PSL e entrou no Novo, deve disputar a prefeitura. Peternelli tenta ainda convencer outros militares.
Em 2018, não teve sucesso com os generais Sergio Etchgoyen, Santos Cruz, Adhemar da Costa Machado Filho e Manoel Morata, que, neste mês, recusou novo convite. A diferença em 2020 é que, além do bolsonarismo, outras forças políticas disputam esses candidatos. O governador de São Paulo, João Doria, por exemplo, convidou publicamente Santos Cruz a entrar no PSDB.
O movimento pode reeditar um passado em que civis usavam os militares para resolver suas pendências? Ou se testemunhará o surgimento de divisões nas Forças Armadas, como as de 1945 a 1977? Setores do bolsonarismo se esforçam para partidarizar os militares. Enfrentam a resistência de quem conhece a história, ou se lembra das razões que levaram Bolsonaro a sair do Exército ou se decepcionou com o governo. Entre os últimos está o general Santos Cruz.
Seis meses de convivência com as intrigas bolsonaristas lhe bastaram. Hoje diz que o governo se afastou do combate à corrupção, critica a falta de política para a Amazônia, o extremismo ideológico, o alinhamento automático com os EUA, a contratação de militares para o INSS e a fala nazista do ex-secretário da Cultura. Mas o que seria Santos Cruz? O vice de quem deseja atrair a base de Bolsonaro ou o candidato dos militares caso a reeleição naufrague? Teria a companhia de Etchgoyen, outro crítico do governo?
Não há nada que o impeça de se candidatar. Vale, no entanto, lembrar a advertência de Gilberto Freyre em Nação e Exército: “O País onde o Exército seja a única, ou quase a única, força organizada necessita de urgente organização”. Do contrário, essa Nação correrá “o risco de se transformar em cenário de paradas ou simples campo de manobras”. Na descida aos infernos da política, os militares vão encontrar os espíritos de sua instituição? Será preciso um Tirésias para saber aonde tudo isso pode acabar.
ESTADÃO/montedo.com

37 respostas

  1. Cresce o movimento “Praça vota em Praça” , divisão entre os próprios Generais…quem queria a divisão nas FFAA está conseguindo, resta identificá-los e sublinhar seus nomes na história. Não poderia dizer que é neste governo, ou eles estavam encubados em muitos outros governos e agora se manifestaram feito uma doença silenciosa.

    1. Eu confesso que me decepcionei um pouco com a Reestruturação da carreira militar promovida pelo Governo. Estou completamente decepcionado com o Hélio Negão. Porém, sempre que eu julgar ser merecedor da minha confiança, eu votarei em militar independente do seu posto ou graduação.

    2. Polícias Militares Motin 32 por cento de adicional para Coroneis e Menos para os Praças que estão permanentemente disponível pelo Mesmo Tempo. Será que Izalci e Bolsobaro conseguem arrumar esta ilegalidade, Antes da Judicialização? Soluçao: mesmo índice para todos

  2. É bem complexo tudo isso ,penso ser do jogo politico,espero que os graduados entrem nesse jogo e mostrem sua força ocupando seu espaço , quem deveria nos representar e ter um cuidado com nossa carreira ,simplesmente virou as costas e pensou em si próprio, não merecem mais nossa consideração ,jogaram tudo por terra ,agora é cada um por si,só sobrou o minimo de respeito dentro dos quarteis norteado pelos regulamentos ultrapassados para dar prosseguimento as atividades fim

  3. Vai ser preciso um Tiresias igual ao autor desse artigo.
    Tudo será resolvido sem convulsão social, ou um novo 64; em novembro sai um togado do STF, deve ser colocado um juiz de carreira, com moral e correto, no inicio do ano de 2021 serao trocados os presidentes da Câmara federal e senado. E em vários setores do governo continuará a substituição do pessoal não alinhado com os valores corretos, de um sociedade sadia e verdadeiramente democrática e livre.
    O governo se fortalecerá, ainda mas com mais militares na política, essa será a salvaçao do Brasil.

  4. meu comentário vai para o anônimo a partir de 09:13, camarada antes de publicar o que vc escreveu releia, para ver se vc mesmo consegue entender, não estou falando aqui de erros grotescos de português mas de frases sem sentindo que ficam dificeis de entender, mas o pouco que consegui entender do que vc escreveu cheguei a conclusão que continua o mimimi, que coisa chata, bixo na vida colhemos somente o que plantamos não acredite que com choradeira vão colher o que não plantaram, outra coisa nós militares não representamos nenhuma base eleitoral, tbm sou praça e os praças não estão descontentes com nada, pelo contrario.

  5. Alguém conseguiu acessar a página do CPEx para ver o “novo” contracheque? Só está dando página indisponível…querem que todos tenham uma feliz surpresa ou ainda não conseguiram calcular os proventos?

  6. Na história do Brasil não existem militares que ocuparam cargo político e fizeram algo a favor da própria classe, pelo contrário só fizeram prejudicar. Se existiu alguém? informe, quem e o que fez.

  7. Na história do Brasil, não existem militares que ocuparam cargo político e fizeram algo a favor da própria classe, pelo contrário só conseguiram prejudicar. Se existiu alguém? informe, quem e o que fez.

    1. É só os praças não fazerem parte deste partido! Se querem uma representatividade de todos os militares, a obrigação é ter representantes de todas as classes! Infestar o partido de oficiais e oficiais generais com pouquíssimos praças para representar o contingente que é sua imensa maioria é dar um tiro no pé! Se pertenço à maioria ou não que só irá votar em praças, isso é um problema meu ! Obs: Não há a mínima condição de votar no praça Hélio Lopes por questões amplamente já debatidas neste blog!

  8. O fato è: o general e deputado federal Peternelli (PSL) perdeu força policita junto as praças, pois foi contra a alguns anseios da categoria na PL 1645, inclusive discutiu com um Sub Ten nos corredores da câmera. praça vota em praça. #praçavotaempraça

  9. Novamente essa istoria? Vão pedir apoio para generais e oficiais superior? Acho que a experiência não foi tão boa quanto muitos pensava!

  10. Temos vários militares no governo…no Congresso…espalhados pela política…mas nenhum teve a coragem de repor nossas perdas salariais! O PL não trouxe a correção salarial necessária aos nossos proventos! Abri o contracheque hoje e o “aumento” é de um pouco mais de duzentos reais…e não adianta vir com papo de meritocracia e dos cursos de altos estudos…eu tenho…mas acredito ser NECESSÁRIO corrigir as nossas perdas salariais, hoje em torno de 30%, e proporcionar uma remuneração à todos os nossos companheiros! Não penso só no meu umbigo! E começo a não acreditar em militares políticos…

  11. Caso não seja corrigido o PL 1645/19. Estarei com faixa nos comícios de Bolsonaro com os dizeres “Não votamos em Traidor de SGT QE, QESA, CABOS, SOLDADOS ENGAJADOS APOSENTADOS E PENSIONISTAS que tiveram seus salários redizidos”. Não votem em Bolsonaro provedor de injustiça salárial aos militares menos favorecidos do Brasil no PL 1645/19 – Não votem nos Senadores e Deputados que nos prejudicaram na aprovação da referida PL.

  12. Militares acordem, (praças) pois essa classe é a menos favorecida, os salários estão defasados a muito tempo, é vergonhoso. Exemplo salário família R$ 0,64 (centavos). Alguém sabe explicar?.

  13. Sou praça e voto em praça, mas não em qualquer praça. Por exemplo, não voto em praça apoiado por esse governo, ou por generais, tipo Hélio que só se elegeu porque tinha o aval do Bolsonaro. Não voto em praça que tenha aval de oficiais. Voto em praça que enxergue sua realidade e saiba que militar não é sinônimo de oficial apenas. Jair Bolsonaro mostrou que sua ideia de militar é somente aqueles que adentram a academia. Cercou-se apenas de generais, ouve somente a eles, e privilegia o topo da pirâmide em detrimento da base. Claro que como pano de fundo permite algum benefício para alguns praças da ativa, e relega os praças da ativa ao esquecimento. Não somos representados pelas associações, não somos representados pelos generais, não somos representados pelo presidente, necessitamos eleger representantes de verdade, gente como a gente, praças de verdade.

  14. Bolsonaro traiu a reserva, junto com seus generais. Nunca mais terão meu voto, inclusive alguns praças que sabiam da sacanagem e nada fizeram.

  15. No contracheque o “salário família” serve apenas para reduzir o desconto de Imposto de Renda e notificar quem é dependente do FUSEx…

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