Com doença degenerativa, general diz ter ‘forças’ para comandar o Exército

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General Villas Bôas, 66, que comanda 215 mil homens do Exército
General Villas Bôas (Credito Tomaz Silva /Agência Brasil)
JAIRO MARQUES
DE SÃO PAULO
No comando do Exército Brasileiro e à frente de 215 mil homens dos quais é exigido pleno vigor físico, o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, 66, depara-se com dilemas de acessibilidade, precisa de apoio para atividades e pensa todos os dias até quando irá conseguir resistir ao poder da doença degenerativa grave que o acomete.
Embora o militar não diga o nome da enfermidade, nem mesmo em suas postagens em redes sociais, as características de sua doença se aproximam da esclerose lateral amiotrófica (ELA), mundialmente conhecida pela campanha do balde de gelo que arrecadou fundos para pesquisas. Existem, porém, outras doenças que acometem os neurônios motores.
Villas Bôas tem perda de mobilidade e já é visto em cadeira de rodas e também tem problemas respiratórios. “O que está em pé e muito vivo hoje é minha mente, além dos princípios e valores aprendidos no Exército desde a minha adolescência”, diz.
Sua condição atual o fez ampliar debates de inclusão dentro das Forças Armadas. Os colégios militares estão passando por reformas de adequação de acesso, e professores estão sendo treinados para promover educação inclusiva, o que deve estar totalmente pronto até 2023.
Sobre pessoas com deficiência desempenhando funções militares, o general avalia que é possível aproveitar potenciais, mas que mais estudos precisam ser feitos. General desde 2011 e comandante do Exército desde 2015, Villas Bôas não pretende deixar o cargo. “É possível manter o padrão de profissionalismo e entusiasmo mesmo enfrentando grandes dificuldades pessoais.”
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O general com Temer, durante evento em Brasília
O General com o Presidente Temer durante evento em Brasília (Beto Barata/PR)
Folha -O Exército exige perfeita condição física e sensorial. A nova condição do sr. provocou reflexão sobre isso?
Eduardo Villas Bôas – Neste momento nos aproximamos mais de Deus e da família. Além disso, tenho recebido apoio de todos dentro da Força. Os amigos têm um papel muito importante nestas horas, e, neste caso, a carreira militar tem uma grande vantagem, pois a camaradagem é uma marca da profissão. Temos pessoas dentro da caserna que são mais ligadas a nós do que algumas pessoas da nossa própria família e constantemente nos prestam apoio e incentivam. Tudo isso me incentiva a superar as exigências físicas da minha profissão. A reflexão que faço diariamente é até quando poderei seguir trabalhando. Enquanto estiver colaborando para que o Exército possa seguir cumprindo suas missões constitucionais, permaneço.
Pessoas com deficiência não poderiam dar alguma contribuição ao país? O Exército poderia ser mais inclusivo?
O Exército já tem um projeto na área do ensino. Temos alunos com necessidades especiais que foram admitidos recentemente em nossos colégios militares. Em 2017, dois colégios, de Brasília e de Belo Horizonte, realizaram o concurso de admissão com reserva de vagas para alunos com deficiência. Até 2023 queremos que todas as unidades estejam recebendo esses jovens. Em Brasília, estamos capacitando pessoas, fazendo cursos de especialização e formação específica em educação inclusiva. Estão sendo feitas reformas de instalações, construção de rampas, adaptação de banheiros e colocação de sinalizações táteis. Além disso, estão sendo criadas salas com recursos multifuncionais para alunos com altas habilidades ou deficiência, com tecnologia de apoio e jogos pedagógicos que potencializam a aprendizagem do aluno e facilitam a compreensão de conhecimentos. Com relação a ser mais inclusivo, o Exército tem procurado através de sua política de pessoal aproveitar todo nosso potencial humano. É fato que uma ou outra limitação não impede o indivíduo de ser aproveitado em outra área. Mas é preciso que a Força conduza mais estudos sobre o aproveitamento de pessoas com algum tipo de deficiência.
É desafiante comandar 215 mil homens em uma condição física diferente, sem poder, por exemplo, ficar em pé?
Estou participando das atividades, mesmo com limitações, pois durante toda a carreira sempre gostei de estar presente em tudo. O que está em pé e muito vivo hoje é minha mente, além dos princípios e valores aprendidos no Exército desde a minha adolescência. A carreira, a vibração como militar e o contato com a tropa é o que me motiva. Sempre que puder, enquanto tiver forças, vou estar presente, encarando cada dia como um novo desafio.
Por que decidiu seguir em frente no comando? Sente-se de alguma forma um exemplo?
A decisão de permanecer não coube só a mim, pois o presidente da República é quem define o comandante do Exército. Coloquei meu cargo à disposição, mas ele [Michel Temer] achou por bem que eu deveria permanecer no comando. Nossa carreira sempre é repleta de desafios. Não esperava, ao final da minha carreira, enfrentar este tipo de problema. Creio que, após tudo isso, ficará claro para todos os nossos militares que é possível manter o padrão de profissionalismo e entusiasmo mesmo enfrentando grandes dificuldades pessoais. Sabemos que todos enfrentam problemas, até piores do que o meu, mas não podemos perder a fé e a vontade de lutar por aquilo que acreditamos. Temos incorporado ao nosso juramento a frase ‘com o sacrifício da própria vida’. Estou defendendo os interesses do país fazendo exatamente isto. Creio que, dessa maneira, este meu momento pessoal pode servir de motivação para os jovens e para aqueles que amam esta profissão.

Chateia o impedimento de não conseguir desenvolver atividades práticas ou participar de cerimônias formais?
Não tem coisa melhor para o militar do que participar de exercícios militares e das formaturas, principalmente nas escolas de formação. Ainda consigo participar de algumas e isso contribui como um importante estímulo e fonte de motivação, para o meu prosseguimento na missão. Por outro lado, participo orientando, emitindo diretrizes, motivando, liderando como comandante do Exército. De igual forma, tenho procurado ser ativo nas redes sociais e, com isso, aproximo-me mais dos militares e de todos que desejam saber qual a posição da força terrestre em diversas questões. As Forças Armadas poderiam contribuir para melhores condições arquitetônicas do país? O tema acessibilidade é importante e deve ser discutido pela sociedade. Só pode ser resolvido com um amplo debate envolvendo os poderes constituídos e o cidadão. O Exército sempre estará à disposição para contribuir, mas não tem atuação direta para mudar infraestruturas. Exemplo disto é o trabalho da nossa engenharia, que tem contribuído para o desenvolvimento do país, construindo estradas, participando de obras de infraestrutura. Em seus projetos, procura levar em consideração as questões relativas à acessibilidade.
As Forças Armadas têm atuado em demandas sociais e isso aumenta a vulnerabilidade dos soldados. É adequada a proteção assistencial aos homens que, eventualmente, se ferem com gravidade?
Na maioria das operações, o militar atua em condições de risco. Com o aumento do emprego das tropas em missões reais, a vulnerabilidade aumentará na mesma proporção. O Exército possui mecanismos que amparam o militar e sua família caso aconteça algum acidente em serviço ou em operação. Em minha diretriz de comando determinei que a família militar e a saúde sempre tivessem prioridade. Além disso, nosso sistema de saúde é capacitado e bem aparelhado, contando com quadros bastante habilitados para tratar o militar assim como sua família.
O senhor fala com otimismo sobre o controle de sua doença. Qual o estágio dela hoje?
Fui acometido por uma doença degenerativa do neurônio motor. Ela atingiu alguns grupos musculares. Estou com dificuldade para caminhar e com alguma dificuldade respiratória, porém isto não tem me impedido de participar de todos os assuntos relativos ao comando da Força. Tenho uma rotina de fisioterapia, medicamentos e consultas periódicas que, no momento, não tem atrapalhado o desempenho da minha função. O tratamento ajuda a gerenciar os efeitos colaterais que a doença me traz, de forma a não gerar maiores consequências para os trabalhos que devo desempenhar.
RAIO-X
IDADE 66
FUNÇÃO Comandante do Exército brasileiro
NASCIMENTO Cruz Alta (RS)
CARREIRA No Exército desde 1967, é comandante desde 2015 e general desde 2011; já recebeu 14 condecorações nacionais. Destacou-se pelo trabalho na região Amazônica, onde foi chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia. É casado e pai de uma filha
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

24 respostas

  1. Ele pode até ter "forças" pra comandar o Exército, mas lhe falta vigor físico e isso é o motivo que centenas de militares anualmente tem suas carreiras interrompidas…
    Esses militares reformados ex officio também possuem, em sua maioria, "força" pra continuar….mas as juntas são taxativas.
    A vaidade do comando não sobrepõe a lei, o regulamento e o interesse público.
    Afinal, o tratamento dispensado ao Cmt do EB é diverso ao restante de seus comandados doentes…e isso fere a isonomia material.

  2. Com todo respeito que é merecido ao General Villas Boas, mas ele não tem condições físicas para exercer o comando maior do Exército Brasileiro.
    O General não tem mais a higidez física exigido dos militares para que possam bem desempenhar as múltiplas atividades relacionadas com a profissão das armas, tais como Instruções diversas , Exercícios no Terreno, Treinamento Físico-Militar, Formaturas, viagens entre tantas outras não estão sendo levando em consideração. O EB tem 15 Oficiais Generais 04 estrelas, todos aptos a exercerem o comando da nossa força terrestre.

  3. Fico na dúvida se a permanência no cargo de Comandante do Exército é por vontade dele, do Presidente ou do Ministro da Defesa.

    Não existe outro general que possuem as competências necessárias para ser Comandante do Exército?

    A permanência ou a saída dele do cargo de Comandante do Exército vai influenciar na política interna ou externa do país?

  4. Me sinto "constrangido" com essa atitude do Cmt do EB, pois a Legislação é clara e penso que que seria para todos, quando explicita que nessa condição "física" apresentada, o mesmo já deveria ter ido passar em inspeção de saúde e ser reformado. Isso é um mal exemplo! Quero ver agora um Cmt de OM de ofício, amparado pela legislação, mandar para inspeção de saúde um de seu subordinado que esteja com problema de saúde? Lastimável isso, a cada dia que passa mais somos achincalhados pela opinião pública.

  5. Fico a pensar….qual realmente é o pretexto dele de ainda estar desempenhando essa função.
    O que há por trás disso tudo? O Tempo dirá.

  6. A grande verdade é que o general está empatando a fila de andar, tudo por causa de não dá o braço a torcer para que outro general de pulso mais firme,venha intervir na política brasileira.

  7. Ele ainda vai surpreender a todos com o reconhecimento por parte do presidente Temer,Comandante Supremo,que as Forças Armadas não devem ter seus salários, menores, entre funcionários públicos e que é preciso valoriza-las.Aguardem.

  8. Respeito a doença dele, pode ter feito o que for pelo EB, mas qualquer subordinado que não possa fazer TFM, passa por uma junta médica (besteira) e leva um I gigante na sua ficha e alem de uma sindicância, te jogam no fundo do poço, passa a ser o pior militar do mundo porque não faz uma porcaria de um TAF, totalmente fora da realidade.Esta historia de que é para um é para todos é pura balela. tive um problema e não fiz 3 TAFs, a 3a Seção já estava querendo me dar um I, comandantes gordos, se arrastando. Pena, mas acredito que moralmente nosso Cmt não tem força para lutar por nós.

  9. Todos os militares que foram reformados ex-ofício, procurem um advogado e busquem suas promoções e seus atrasados, não e possível no Exército de Caxias, ter um peso e duas medidas.

    Ou, existe linguiça debaixo deste pirão…

  10. Para quem não sabe, o cargo de cmt das Forças é exercido por generais que, ao assumirem o comando, passam automaticamente para a reserva remunerada, o cargo dele é de confiança, fora as cerimônias, ele apenas desempenha funções administrativas, querendo ou não, ele fala mais ao nosso favor do que todos que conheci.

  11. Não está em condições físicas, como também mental. Chancelou a Portaria ilegal do EME de Nr 419, agora investida pelo MPF.

    Acho que o Montedo já deve ter arrependido de ter dito que o VB foi o melhor comandante que o EB já teve. kkkk

  12. Com todo respeito ao Sr e ao Seu propósito dentro da Força Sr Gen, mas me sinto muito injustiçado com esta notícia,pois sou Sd Ef Profl acidentado em serviço com AO, desenvolvi uma lesão degenerativa. Com 11 anos de serviço ativo no Exército solicitei minha estabilidade prevista na Constituição,recebi um baita de um INDEFIRIDO por parte de um Gen de Bda , pois eu não atendia aos requisitos da Lei do Serviço Militar que exige por parte do militar ROBUSTEZ FISICA, eu cumpri expediente normal durante 6 anos na condição de adido e produzindo administrativamente dentro da minha limitação 4 anos sem férias, acho eu que estamos na mesma Força independente de Sd Cb Sgt St Of,Reforma é a solução independente de ter sanidade mental. Pode ser que não faça a diferença meu comentário , mas não pude deixar de me expressar. Brasil!!!

  13. Se esses ratos de alojamento tivessem pelo menos 1% da fibra e garra do Gen VB nosso exército seria muito melhor. Com que moral criticam uma pessoa que decide lutar até o fim, que não se entrega. Vocês devem ter vergonha sim, mas é da sua total falta de força moral e fraqueza de caráter. Vocês leões (ratos) de alojamento me causam asco!
    1 SGT Infa Brazil 93

    1. Humilhante para os demais Oficiais Generais… O governo… Mantendo esse General… sem condições alguma… e ainda dando trabalho para terceiros… Está reduzindo os demais a um bando de incompetentes… Eu aprendi nos bancos escolares que no EB… Ninguém… Digo ninguém é insubstituível… O que aconteceu… Mudaram o jargão pq é um General de Exército… Ao longo de minha carreira vi muitos companheiros por muito menos serem reformados na graduação… Lamentável… Excelência… Com todo respeito… Peça para ir embora… O senhor melhor que ninguém… Sabe que está errado… É uma questão de responsabilidade e respeito aos demais… Pense nisso… Isso é dar munição para a mídia e para os comunistas desse país… Já estamos por demais humilhados perante a sociedade… Por tudo que sofremos nos últimos governos… Pense nisso…

  14. Senhores, ele já não mais está no serviço ativo do Exército.
    Art.4º […] § 2o Se o oficial-general indicado para o cargo de Comandante da sua respectiva Força estiver na ativa, será transferido para a reserva remunerada, quando empossado no cargo. Como disseram acima, seu cargo é de confiança, não há como uma junta médica retirá-lo do serviço ativo pois ele já está fora, apenas o presidente da república pode demiti-lo. Concordo que é constrangedor tem um comandante numa cadeira de rodas. Ele mesmo deveria ter a sensibilidade de pedir demissão do comando.

    1. O assunto aqui cidadão, não é saber se ele está na ativa ou na reserva… Isso não interessa… O que importa é que ele deixe um cargo pelo qual não deve estar exercendo por não preencher condições de saúde e tbm de higidez física… para a função que hora ocupa… estando na reserva ou na ativa… Ele está errado… A fila anda…

  15. Senhores, minha opinião: não tem nenhuma importância se o Cmt do EB é ou será maratonista ou cadeirante, pois será sempre general formado na mesma fábrica. Ou alguém acredita que se um outro general assumisse agora o comando algo mudaria no status quo?

    O grande problema do EB é a tal da cultura, dos "valores tradicionais" que se resumem em continuar a manter a instituição sob dois pilares, quais sejam, a "casa-grande" e a "senzala".

    Simples assim.

  16. DECLARAÇÕES importantes do Comandante do Exército sobre militares e envolvimento na política – 09/01/2018

    Nessa terça-feira muita gente que acompanha os tweets do Comandante do Exército questionou o que ele estava querendo dizer quando postou: O “controle civil objetivo” e a consequente profissionalização do estamento policial, é condição estruturante das sociedades maduras, onde o poder civil tem o dever de atender aos desejos explicitados nas urnas.

    https://www.sociedademilitar.com.br/wp/2018/01/declaracoes-importantes-do-comandante-do-exercito-sobre-militares-e-envolvimento-na-politica.html

    O futuro do Brasil não é como aquele "câncer marolinha", General Eduardo Dias da Costa Villas Bôas!

    Padre Marcelo Rossi – Levanta e Anda

    padremarceloVEVO

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