Por que a continência deve voltar ao pódio nos Jogos Olímpicos do Rio

Harry How/Getty Images
Rodrigo Mattos
Do UOL Esporte, no Rio de Janeiro
Assim como ocorreu no Pan de Toronto, as continências devem estar presentes nos pódios nos Jogos do Rio-2016. As Forças Armadas terão 100 atletas da delegação olímpica brasileira (um quarto do total), e preveem ganhar 10 medalhas (um terço das previstas).
No Canadá, a continência chamou a atenção porque poderia ser tomada como um gesto de propaganda ou político, o que é vetado pelo COI (Comitê Olímpico Internacional). Mas o COB rechaçou qualquer tipo de descumprimento do regulamento: entendeu que não havia marketing ou mensagem vetada pelas regras olímpicas. Por isso, está liberado nos Jogos do Rio-2016, mas não é obrigatória.
“Não houve ordem, orientação. A gente fica feliz. Vê como uma forma dele agradecer as Forças Armadas. Até diria que em muitos casos, o programa representou o limite entre prosseguir, ou abandonar a carreira. Foi espontâneo”, afirmou o diretor do Departamento Militar das Forças Armadas, vice-almirante Paulo Zuccaro.
Ele explicou que já existem 95 militares confirmados no Time Brasil: o objetivo final é atingir 100 membros. A estimativa de 10 medalhas se baseia em esportes como o judô (a equipe inteira), vela, vôlei de Praia, tiro e natação. No total, as Forças Armadas gastam R$ 15 milhões anuais com os salários para 670 atletas, e outros R$ 3 milhões para apoio.
Um exemplo é a judoca Mayra Aguiar, terceiro-sargento na Marinha, uma das favoritas na categoria até 78kg. Em Toronto, ela disse ter prestado a homenagem por um pedido das Forças, e ressaltou ter incorporado o militarismo.
No vôlei de praia, em que o Brasil é favorito, há cinco entre os oito atletas. Isso inclui Alison e Bruno Schmidt que são considerados a melhor dupla do mundo. Bruno é segundo sargento da Marinha e chega a ir a eventos de premiação olímpica de farda. Orgulha-se de ser militar por ter até um pai que era capitão de mar e guerra.
Outras que apareceram com o uniforme militar para receber prêmios olímpicos foram Martine Grael e Kahena Kunze, que são sargentos da marinha e favoritas na classe da Vela 49rFX. O uso das fardas foi uma orientação das Forças Armadas. Os salários vão até R$ 4 mil dependendo da patente, e os atletas ainda podem usar centros de fisioterapia e planos de saúde das Forças.
Planejamento pós-Olimpíada
Para depois dos Jogos, além da manutenção desses valores, as Forças Armadas contarão com novas instalações graças ao orçamento olímpico que reformará diversos dos seus equipamentos. A previsão é de R$ 120 milhões.
Isso inclui dois campos de padrão Fifa em centro de treinamento da Marinha, reformas em piscinas e instalações e equipamentos de tiros no Complexo de Deodoro, campos de rúgbi, pista de atletismo e ginásios poliesportivos em centros da Aeronáutica. Há previsão de convênios com confederações olímpicas para que essas utilizem as instalações.
Até porque a maioria dos atletas do programa militar não foi formado nas forças, e sim incorporado quando estava no alto nível. Apenas 66 deles, ou 10%, são de esportistas que efetivamente têm a carreira militar completa.
Os outros foram incorporados por meio do CPOR, isto é, em um regime de até oito anos. Alguns acabarão sua carreira em 2017 como prevê a lei. Mas as Forças Armadas pretendem tentar um mecanismo para estender a permanência de alguns.
“Não dá para ficar com todos senão não tem renovação da força olímpica”; completou Zuccaro. “Eles são militares atletas. Dedicam o seu dia a dia para o aperfeiçoamento de sua competência olímpica. A presença deles tem elevado muito o nível do desporto militar de maneira geral. Já somos uma potência militar mundialmente pelo que nos aportam, mais os investimentos nestas instalações.”
Assim, as Forças Armadas pretendem aprimorar o programa e torná-lo efetivamente um formador de atletas de excelência. A tese de Zuccaro é de que a presença dos esportistas já aumentou o nível de ciência e medicina esportiva, e instalações, nas forças, o que incentiva a formação de valores dentro das forças. Há ainda um programa social chamado Profesp, em conjunto com o Ministério do Esporte, que pode servir como peneira. Uma limitação é que as Forças Armadas não têm como incorporar menores promissores.
Entre os atletas de alto rendimento, a incorporação é feita por meio de um estágio e treinamento básicos em que eles são ensinados sobre as condutas militares. A partir daí, têm que respeitar o estatuto militar, avisar quando viajam para as bases, e ser avaliado pelas comissões esportivas.
A cada ano as comissões decidem se os atletas continuam nas Forças Armadas, ou não. “Se um determinado atleta não atende, a força pode dispensá-lo. Uma vez por ano, são analisados caso a caso para ver quem segue. São parâmetros bem específicos”, explicou Zuccaro. Mas, no dia a dia, treinam onde é mais conveniente para seu desenvolvimento.
Outro fator que leva à exclusão é o doping. Cada comissão das Forças Armadas decide pelo futuro de atletas flagrados, mas a regra é excluir todos os que tenham julgamento definitivo em tribunais esportivos. Há ciclistas militares que estão com testes positivos, e estão à espera da decisão final.
UOL/montedo.com

9 respostas

  1. Essa história de atleta militar parece muito com aquele caso do militar temporário que põe terno pra visitar a antiga unidade. A primeira vista, tem um certo sentido,todos nós queremos ser ou parecer-já em um segundo momento, não apresenta vantagem alguma, somente um leve e momentâneo orgulho que o preço do terno talvez não compense.

  2. Dinheiro este que poderia ser gasto em construção de pnr, principalmente para subtenentes e sargentos nas guarnições. Não precisamos deste marketing, a população nos confia pelo que fazemos no dia a dia na nossa missão constitucional.

  3. Para algumas autoridades militares a necessidade de aparecer é maior do que o bem estar da família militar e do público interno. Faltam PNrs, sgt ganhando menos que guarda de trânsito, por conseguinte oficial sup ganhando que nem sgt de PM, interstícios gigantescos para as praças, um monte de alegorias travestidas de valorização para as praças (adj de cmdo por ex…), milhões e milhões gastos com atletas travestidos de militar, fazendo continências grotescas num pódio para satisfação de meia dúzia de generais. Realmente a fé nesta instituição se desvaneceu. Tomara que nunca atrase o pagamento, pois nada mais pode se esperar do exército de Caxias.

  4. Tirar serviço de escala, ir pra campo, fazer sindicância, integrar força de pacificação em favela do RJ; isso ninguém quer né??

  5. Com ou sem a continência, esperamos é desempenho. esse pessoal pegou o "bonde andando", ficando na primeira classe, dando a expectativa de resultados excelentes e não estamos vendo tantos assim.Eles entraram sem concurso? Pode? Que tal fazer o mesmo com jovens campeões de matemática e gênios das ciências? Trariam muito mais "créditos".

  6. A pretensão de estender a carreira de alguns que deveriam sair em 2017 é "sarna que estão arrumando pra se coçar", pois todo militar, ao completar 10 anos de serviço, atinge a estabilidade na carreira. Então, vão transformar esses temporários em militares de carreira na maior cara de pau! E, se os colocarem na rua, eles entrarão na Justiça e não precisa ser advogado para saber que ganharão. Só fazem M.

  7. As FFAA não privilegiam o intelecto do militar quanto o fazem com quem apenas joga futebol, pude observar isto quando fui militar. Pedi transferência para outra unidade e, lá, só perguntavam para quem me conhecia se eu "jogava bola", não estavam nem aí para a minha especialização. KKK… "Né brinquedo não!!!"

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