Canadá se oferece para substituir Brasil em missão de paz no Haiti

Dívida brasileira com a ONU sobe a R$ 1,3 bilhão e põe em risco o direito a voto do País na organização
Jamil Chade
Com o Brasil prestes a deixar o comando das forças de paz no Haiti depois de mais de uma década no país caribenho, o Canadá se apresenta para assumir as operações das Nações Unidas. O novo primeiro-ministro, Justin Trudeau, começou em fevereiro a negociar a transferência com o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon. A meta de Ottawa é a de enviar até 2 mil homens ao Haiti.
Hoje, cerca de 2,3 mil soldados, 2,6 mil policiais e 1,5 mil civis atuam em nome da ONU no país. Até o fim do ano, além da troca no comando das tropas de paz, o Brasil também precisa enviar recursos para quitar parte do que deve à ONU.
O País acumula uma dívida inédita de US$ 380 milhões (cerca de R$ 1,3 bilhão) com a organização, o segundo maior déficit de um governo com a instituição. Caso não arque com cerca de US$ 110 milhões, poderá até perder direito a voto.
Não apenas contas antigas não foram pagas, como uma reformulação do orçamento das operações de Paz da ONU fez a contribuição do Brasil crescer. A desvalorização do real também influiu no salto do déficit. Até o fechamento desta edição, o Ministério das Relações Exteriores não havia respondido à reportagem sobre a existência de alguma negociação em relação aos depósitos na ONU.
O Ministério da Defesa já havia declarado que, em outubro, entregará o comando das tropas e, desde o início do ano, a cúpula das Nações Unidas passou a negociar com outros países uma transferência.
Parte do esforço brasileiro para assumir as funções de comando em 2004 tinha como objetivo demonstrar à comunidade internacional que o País estava disposto a aumentar sua responsabilidades nos esforços por paz e segurança no mundo, gesto que foi saudado pela ONU.
Além das tropas, o governo fez doações para programas de combate à fome, foi eleito para dirigir entidades internacionais e aumentou aportes financeiros para o Alto Comissariado da ONU.
Mais de uma década depois, a situação do governo brasileiro com a ONU é diferente. Planilhas internas das contas da organização revelam que, em apenas oito meses, o buraco nas contribuições do País deu um salto de US$ 95 milhões.
Só no financiamento das diversas operações de paz no mundo, a dívida brasileira é de US$ 148 milhões. Entre os 193 países da ONU, apenas a dívida dos EUA, de US$ 1,1 bilhão, é maior. Isso sem contar com os gastos específicos do governo brasileiro para manter seus soldados no Haiti, que superaram a marca de R$ 2 bilhões. Desse total, o Brasil foi ressarcido em cerca de R$ 1,2 bilhão pela ONU.
Para o orçamento regular das Nações Unidas, a dívida brasileira era de US$ 220 milhões até ontem, superando os US$ 190 milhões do Japão, o segundo maior doador das Nações Unidas. Outros US$ 10 milhões faltam nas contas brasileiras para os tribunais internacionais bancados pela entidade.
Os números internos mostram que o déficit não parou de crescer desde o fim de 2014. Naquele momento, ele era de US$ 190 milhões. No dia 4 de agosto de 2015, o buraco já chegava a US$ 285 milhões.
Em agosto do ano passado, o Ministério do Planejamento indicou que pretendia “regularizar o mais rapidamente possível o pagamento do valor devido” e, em reuniões em Nova York, a diplomacia brasileira chegou a indicar aos responsáveis pela contabilidade da ONU que o governo tinha como prioridade quitar as dívidas, como demonstração de seu “compromisso com o multilateralismo”.
O Estado de São Paulo/montedo.com

14 respostas

  1. Já era para ter saído. Quem não consegue nem cuidar da própria casa, não pode querer bancar o competente de faixada para cuidar da casa dos outros. O Brasil está uma bagunça e as forças armadas a cada dia mais destruídas em todos os sentidos. Chega de encenação.

  2. Um primo meu, fuzileiro naval, para ganhar um dinheiro, se inscreveu para defender a embaixada brasileira na Nigéria na década de 90. Só que depois de 15 dias ele aloprou. Dia e noite as metralhadoras não paravam de atirar e a embaixada ficava entre os dois fogos. Resultado: mandaram meu primo de volta ao Brasil e deixaram-no por 29 dias preso e incomunicável. Ele que foi por duas vezes condecorado como militar padrão, depois dessa viagem foi mandado para a reserva como medroso. Acabou com a carreira dele. Meu primo deve ter sido uma exceção mas, na verdade, essas missões não são para qualquer um e o Brasil devendo a ONU e sem dinheiro para as necessidades básicas como Educação, Saúde, Segurança,..deveria desistir dessas missões até regularizar a situação.

  3. Daniel Camilo, desculpe a sinceridade, mas esse seu primo não servia mesmo para as FFAA. Só de ouvir as metralhadoras dos insurgentes já deu tique nervoso? Ora, faça-me o favor. O risco faz parte da profissão, quem não suporta a pressão de ter a sua vida exposta não pode seguir carreira militar nas Armas. Estive na missão no Haiti por 6 meses e foi tudo bem. Temos de nos preparar para a guerra!!! E na guerra "tudo é horrível, apenas a vitória é bonita, o restante é horrível!" (Gen Newton Cruz).

  4. Deve ser muito bom pois, 90% do efetivo do Exército Brasileiro quer ir para o Haiti. Só pensam em dólares. Ninguem quer ficar no Brasil fazendo documento no SPED. Impressionante.

  5. Companheiro, então vc prefere ficar num carpete ao invés de cumprir missão de natureza militar? Bem, o Exército tem espaço para todos, mas respeite quem foi numa missão no exterior recebendo menos do que aqueles que vão realizar cursos no exterior, visitas, servir em aditância, embaixada, etc., e ainda correndo o risco de sair ferido, seja por ação inimiga, seja por um desastre natural, como os mortos no terremoto do Haiti (ou vc já esqueceu dos companheiros que perderam as suas vidas naquele evento?). Respeite para ser respeitado.

  6. eu até entendo a situação e necessidade do haiti, mas acredito que a violência por lá hoje seja menor que a do Rio de Janeiro e Brasil.

  7. Ja passou da hora. Se tivesse tomado conta do quintal de cada não estaria essa bagunça sem falar dos milhares que caem de paraquedas aqui… mais bolsa família…

  8. Tenho orgulho de ter passado 6 meses no Haiti, Brabat 19,sendo Comandado pelo Ilustre Gen David e pelo Subcomandante Cel Santos França, só quem esteve lá sabe como é a situação.

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