O Adjunto de Comando e um texto didático

Por vezes, pinço algum texto da área de comentários e posto aqui. Este é um deles. O autor não se identificou.

Não sei exatamente o nível de influência do “Sergeant Major” Americano na criação e adoção do Adj Cmdo, mas sei que o cargo brasileiro surgiu em decorrência das boas práticas trazidas pelos SGTs que realizaram o curso de Sargento Maior naquele país e que foram em grande parte implantadas na EASA. Esse trabalho na EASA aliás começou em 1993, sob o comando do então TC Cav, hoje Gen Ex Etchegoyen. Quem passou pela EASA naquela época conta que foram muitas as críticas e algumas vezes o projeto esteve por acabar. Mas acabou vingando. As ideias iniciais foram aperfeiçoadas e hoje a EASA é vista como referência, tanto que será berço do novo curso de Adj Cmdo. 

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O Adjunto de Comando e um pouco de História

Comecei falando do Sergeant Major e é interessante contar um pouco de sua história. O Sargento Maior Americano foi criado durante a Guerra de Independência Americana em 1775, inspirado justamente nos inimigos britânicos que já possuíam esse cargo desde aproximadamente 1598. Em 1920 o cargo foi extinto retornando em 1962. Junto com a “nova” graduação vieram também inúmeros problemas, como por exemplo falta de vagas para promoção de todos os que possuíam méritos, o que fazer com os que não fossem promovidos, questões relativas à carona caso um mais moderno assumisse a função, mas o principal problema foi determinar exatamente a função do Major. Muita confusão e dúvidas surgiram sobre qual a relação entre o Cmt OM e o Major, sua posição no EM do Cmt, sua posição perante a tropa, etc. Essas confusões perduraram até a Guerra do Vietnam, quando a falta de liderança e entrosamento entre sargentos e oficiais em combate causaram a morte de inúmeros soldados americanos. A graduação sofreu várias mudanças e ajustes desde então e em 1977 foi criada a Academia de Sargentos Maiores do Exército Americano. Desde lá essa escola vem formando Sargentos Maiores com base na doutrina que também foi desenvolvida para acomodar a nova graduação. Em 1980 foi criado o Manual dos Deveres, responsabilidades e autoridade dos graduados e a cadeia de comando dos graduados foi oficialmente formalizada, tendo o Sargento Maior em seu ápice. 
Cabe lembrar que o Sargento Maior é um sujeito que entrou no exército como soldado, tendo passado por todas as graduações desde cabo. Como no Exército Americano não existe concurso para ingresso das Praças nem estabilidade antes dos vinte anos de serviço, os que chegam nessa graduação são militares com vasta experiência e mérito, uma vez que também não há promoção por antiguidade e o militar que deixa de ser promovido dentro do período previsto não recebe reengajamento. 
Se considerarmos apenas o período entre a criação da academia teremos 39 anos dessa graduação, e ainda hoje existem problemas que continuamente são alvos de debate, simpósios e discussões. Então vejam senhores que o projeto do EB ainda está engatinhando. Muito tempo será necessário para que essa nova função se estabeleça e quem sabe se torne uma nova graduação. Agora mesmo temos dois projetos caminhando paralelos: Um é o CHQAO o outro o Adj Cmdo. Não podemos precisar, mas é quase certo que o QAO não seja extinto sem antes contemplar todos aqueles os que já estão na Força e possuem alguma expectativa de serem promovidos no QAO. Mas também não é difícil imaginar que no futuro, os dois cursos possam convergir em uma mesma direção, e que o QAO e o Adj Cmdo se tornem uma nova graduação no círculo dos Praças. Dessa maneira um jovem que comece sua carreia como Al do CFS hoje poderá vislumbrar a possibilidade de promoções e funções além daquelas previstas para o ST, que hoje equipara-se ao SGT Maior. Muito tempo será necessário ainda. Isso não é para nós.
SGT MWF

26 respostas

  1. Acho em nossa cultura portuguesa só sairá um monstrengo nisso.
    Nos EUA há faixa de salários conforme o tempo de serviço onde um posto/graduação ultrapassa a faixa salarial da imediatamente superior. Na média um Capitão ganha mais do que um Master Sargent, mas há alguns (pelo tempo de serviço) que ganham mais do que um Capitão e eles entendem e acham isso normal. Aqui é muito diferente e os nossos ficarão em evidência sem ganhar nada a mais. Para mim natimorto este projeto com a estrutura salarial atual. Demais setores do funcionalismo possuem gratificações extras (função gratificada) em nossas FFAA isso não entra na cabecinha de alguns oficiais e olha que oficial sou, mas no caso da FAB onde Controladores de Tráfego Aéreo são invejados por míseros 20% a mais no soldo.

  2. Enquanto houver um olha discriminatório entre os quadros, nada mudará nas forças armadas. O oficial de academia olha com desdém os demais oficiais, pois se acham superiores. O oficiais do quadro auxiliar olham com desdém os sargentos de escola, pois por terem saído do meio, se acham superiores em seu intelecto. Os sargentos de escola, olham com desde os sargentos QE, pois se acham intelectualmente superiores, e por aí vai. Vcs acham mesmo que em uma tropa com esse pensamento haverá alguma mudança no âmbito da carreira do seu pessoal? Tenho minhas dúvidas!

  3. Ahah!!! Ahahahahah!!! "o saergento de carreira se acha intelectualemnte superior ao sargento QE", eu sou do Quadro Especial e certa feita numa visita de inspeção, entre os militares da equipe havia um sargento encarregado de inspecionar os óticos da Unidade, formado na Escola de Material Bélico, este sargento de nível intelectual superior, simplesmente NÃO SABIA COMO REGULAR O FOCO DOS ANTIQUADOS NINÓCULOS DFV. Havia ujm outros também de "escola" que não sabia calibrar uma metralhadora .50 Browning, e por ai vai.

  4. Caro QE anônimo como eu, o que nosso comentarista escreveu não quer dizer que o sargento de escola é superior ao QE, mas sim que alguns se acham superiores e isso por acaso é mentira? Quanto ao fato de um sargento de escola desconhecer certas situações geralmente não é sua culpa, mas do próprio sistema, ou você acha que um sargento QE que trabalhou numa reserva de armamento a vida inteira deve saber menos que um sargento de escola que eventualmente teve contato com certos materiais durante a instrução.Outro exemplo são as seções, nas quais um sargento sem CAS (mesmo com ele, garanto que a instrução é insuficiente) é alocado e deve conciliar suas atividades com serviço, campo, instrução, entre outras, enquanto o QE passou toda a sua carreira lá e sabe tudo sobre a rotina da seção. Que fique bem claro que nada tenho contra ao Quadro Especial, pois já aprendi muito com esses valorosos militares (mesmo sendo de escola, acho normal aprender algo com especialistas em determinados assuntos, só o camarada que acha isso errado, talvez até por possuir algum complexo de inferioridade), mas tenho contra aqueles que ficam de rivalidades desnecessárias!

  5. Ao anônimo das 10:54

    Está óbvio que foi apenas um erro de digitação… a letra N fica ao lado da B no teclado… Ninóculos = Binóculos

    Bom senso por favor…

    P.S.: eu não sou QE, sou de carreira.

  6. Essas ideias inovadoras, e necessárias, somente serão concretizadas de modo eficaz quando o EB abrir mão das tais "tradições culturais". Até lá, não vão dar certo, pois segundo essas tradições o oficial é um nobre, sabe de tudo e deve ganhar muito mais e as praças são ignorantes, têm origem na escravidão e na miséria, são uma classe inferior e e não sabem pensar, por isso não necessitam ganhar mais do que já ganham.

    Quem aqui nunca presenciou, ou mesmo sentiu na pele, em pleno século XXI esse tratamento "tradicional" por parte dos nossos aristocráticos oficiais?

    Desculpem-me a franqueza, mas é apenas a realidade, nua e crua.

  7. O companheiro fez um comentário de que certas inovações são de difícil implementação devido a rusgas infantis dentro e entre círculos hierárquicos. Os comentários que se seguiram apenas exemplificaram a afirmação. Uma pena…

  8. Estou fazendo o CAS aqui em Cruz Alta. E realmente aqui o Sgt tem mais autonomia. É, inclusive o Cmt do Corpo de Alunos.
    Mas é da natureza do ser humano ficar reclamando ou se adaptar a mudanças.
    Para esses, até se receberem aumento, reclamarão…

    1. Inocente, o CAS tem prazo pra acabar. Depois, vida normal, ouviu sargento. Agora pode ir, e aproveita e me chama o meu canga…., kkkkkkk. Mais um inocente.

  9. Kkk estão passando a bola para os praças, a missão dos oficiais serão transferidas para eles, sem a devida valorização monetária, a criação destes cargos sem ser por lei é uma mera invenção, sem amparo legal. Se querem realmente valorizar o praça devem criar uma lei para isso. Vi muitos Sgt Major sendo enquadrados por oficiais de 45 dias de formação. Enquanto não há lei fazem do praças um monte de abestalhados correndo atrás de reconhecimento para promoção a QAO.

    Sem lei, sem invenção.

  10. Tudo que tentarmos copiar dos militares dos EUA tem que ser mitigado quando pretendido ser aplicado aqui no Brasil. Eu explico: lá existe um Exército que pratica guerra de verdade, já aqui temos um Exército burocrático, cartorário e com mentalidade aristocrática. Lá nos EUA os militares são reconhecidos pela sua capacidade combativa, já aqui são reconhecidos pela capacidade burocrática de confeccionar documentos bem elaborados e dentro dos prazos, pelos títulos e pela capacidade de não opinar em desfavor das decisões do chefe. Aqui não teria como avaliar a capacidade operacional/combativa da maioria dos militares, pois como já disse é um Exército burocrático onde homens ostentam diversas medalhas por terem cumprido "X" tempo de serviço (apenas por estarem vivos) em contexto de paz trabalhando atrás de mesas e assinando papéis tal como qualquer servidor público comum. Lá nos EUA qualquer General já participou no mínimo de um conflito/guerra real pelo mundo. Já aqui vemos Coronéis que passaram a maior parte da vida como 'estudantes militares' fazendo cursos rolhas fora do Brasil e vivendo de aditância em aditância passando a maior parte da vida 'militar' fora da rotina dos quartéis de verdade e ao final são considerados bons para serem Generais porque acumularam bom conceito e pontos pela vida burocrática que levaram. Isso tudo considerado, será mesmo que será possível criar uma função (Adj Cmdo /Sgt Major) cujos valores que lhes deram origem não são encontrados no Exército Brasileiro ? Eu acho que não!!!

  11. Não é competência do Comandante do Exército a criação de cargos, é de competência do Congresso Nacional, conforme a Constituição Federal.

    DAS ATRIBUIÇÕES DO CONGRESSO NACIONAL

    Art. 48. Cabe ao Congresso Nacional, com a sanção do Presidente da República, não exigida esta para o especificado nos arts. 49, 51 e 52, dispor sobre todas as matérias de competência da União, especialmente sobre:
    X – criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, observado o que estabelece o art. 84, VI, b

    1. Lógico que sim….
      Pois os postos e graduações estão tipificados no Estatuto que é Lei Federal…
      Mas com certeza os nobres generais estão pensando nisso também!!!!

  12. Ao anônimo 12 Abr 18:31 – Boa a sua colocação mais o EB não cumpre as Leis veja que existe uma lei que regula como deve ser redigido os regulamentos, portarias, etc que é a lei complementar 095 de Fev 98, é só verificarem que a Port 006 de 9 Jan 15, não foi redigida de acordo com essa lei, prejudicando a promoção de muitos graduados que foram ultrapassados por militares da turma subsequente.
    Parece que vivemos nos anos da ditadura onde nossos chefes fazem o que bem quer, sem serem incomodados pois os praças não tem coragem de cobrar a execução dos regulamentos da maneira como foram redigidos, vejam que a referida portaria não foi redigida com clareza conforme determina a lei.
    Então nossos chefes criam funções e cargos sem serem incomodados, pois não será um praça que irá bater de frente e dizer que eles não estão cumprindo a CF e se fizer será perseguido pelo resto de sua carreira.
    É issso que o Adj de Cmdo deve debater com o Cmt do EB e parar com essas injustiça que existem dentro da força contra os praças, ou alguém acha que é justo promover militares que estão na graduação com 66 meses e outros só serem promovidos seis meses depois com 78 meses na graduação, se alguém achar que é justo é porque foi beneficiado pelo sistema.

  13. Excelentes as colocações do Anônimo (12 de abril de 2016 18:19), nosso Exército é diferente do americano…. nosso EB é de parada, de viés burocrático e aristocrático. os oficiais referem-se à AMAN como um legítimo Olimpo dos trópicos. Deus queira que dê certo o projeto do Adj Cmdo, mas vejo como um dos entraves os preconceitos ainda existentes na Força, tais como entre oficiais versus praças, entre temporários versus de carreira, entre Of QEMA versus Of QSG versus QCO versus QAO etc…

  14. Certa vez presenciei uma cena triste no QG em que eu servia. Um Maj Cav QEMA (E3), altamente aristocrático, no telefone querendo falar c/ o S4 de uma OMDS, dizendo que só falaria com o Cap S4 e não com o Adjunto da seção que era um 1º Ten QAO. Isso porque para ele QAO era um mero oficial auxiliar.

    1. Esses chefes machões que só sabem gritar de trás de um birô.. Machões para descontar em as frustrações no subordinado. Queria ver tais figuras trocando tiros e tomando decisões sob pressão, a mesma que inflingem aos comandados por vaidade. Graças a DEUS nosso país é pacífico. Estaríamos mortos por conta de muitos aristocratas que vemos comandando.

  15. Nosso EB precisa de GUERRA, uma Guerra com um país organizado, com exercito profissional!!! Comigo já na reserva, óbvio, pois vai ser um chafurdio!!!
    Vai ser um novo 7×1 pra Alemanha!!!
    É infantaria que não se bica com cavalaria, artilheiro que não se entende com os outros engenheiros, todos sacaneando os intendentes e comunicantes…
    É o FE que não fala com ninguém que não seja FE….
    PQD que sacaneia pé preto…
    Guerra na selva que se acha o invencível….
    Sem falar, é claro, nas castas e segmentos formados pelos postos e graduações, diferenças de formação, de área..
    E assim vai….no EB é assim, MUITA DESUNIÃO, DESCONFIANÇA e BUROCRACIA…

  16. Foi um prazer ler o texto.
    Independente do assunto tratado, foi uma excelente redação.
    Um texto bem elaborado deve ser degustado como se degusta uma comida saborosa.
    Alguns comentários também alcançaram nível excelente, e quase todos, foram interessantes.

    Ten Luiz – 6ª Cia Com

  17. Ahah!!! Ahahahahah!!! "o saergento de carreira se acha intelectualmente superior ao sargento QE", eu sou do Quadro Especial e certa feita numa visita de inspeção, entre os militares da equipe havia um sargento encarregado de inspecionar os óticos da Unidade, formado na Escola de Material Bélico, este sargento de nível intelectual superior, simplesmente NÃO SABIA COMO REGULAR O FOCO DOS ANTIQUADOS BINÓCULOS DFV (DF Vasconcelos 6×30 da década de 1950). Havia um outro também de "escola" que não sabia calibrar uma metralhadora .50 Browning, e por ai vai.
    AGORA POSTO SEM ERROS DE DIGITAÇÃO. Me desculpem os companheiros sargentos de escola, mas acredito que só a experiência prática aliada ao ESTUDO (ainda que seja de forma autodidata) leva ao verdadeiro aprendizado e a capacidade no bem executar. OBS. erros de digitação acontecem, o que não pode acontecer é um militar ser formado em uma escola de formação militar renomada e não saber ou não ter se interessado em aprender práticas tão básicas relativas a sua profissão.

  18. Anonimo de 13 de abr 16, o problema todo é o plano de carreira e não o sargento de carreira. O tempo que vc passou praticando na tropa, o sgt de carreira nasceu,estudou,prestou concurso e foi aprovado, porém porque vc não prestou concurso ? Por que o plano de carreira não é compativel para quem já é da Força ? Aprender no dia a dia é a melhor escola, mas a melhor direção vem dos centros de formação como a EASA, pois temos que ter respeito por aqueles que perderam finais de semana estudando enquanto outros aprendiam na marra,.a marreta, na escola da vida.

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