Brasileiro relembra convocação para exército da Ucrânia em plena guerra: ‘Foi um susto’

André Donke e Vladimir Bianchini, do ESPN.com.br
O brasileiro Edmar chegou em 2002 na Ucrânia e adaptou-se tão bem país do leste europeu que construiu toda uma vida. Casou-se com uma local, naturalizou-se cidadão ucraniano e defendeu a seleção. Quando atuava pelo Metalist, em 2014, passou pelo maior susto da carreira: em plena guerra, recebeu uma convocação nada desejada.
“Estava na pré-temporada fora do país quando algumas pessoas foram chamadas pelo exército. Chegou um comunicado na minha casa e a minha esposa que recebeu. Ela me ligou preocupada, o primeiro impacto foi de susto e não achei normal”, contou o meia, em entrevista ao ESPN.com.br.
“Depois desse susto, liguei para o pessoal do clube que resolveu tudo rapidinho. Não precisei usar farda, até porque nem sei como seria. Nem fiz ‘Tiro de Guerra’ no Brasil, fui dispensado por excesso de contingente”, afirmou.
O conflito que começou no final de 2013, quando a o país ficou divido entre os partidários pró-Rússia e pró-Europa. A guerra fez times mudarem de cidades, como Shakhtar, Metalurg e Olimpik, que precisaram sair de Donetsk. O clube que dominou o campeonato local por cinco vezes seguidas teve a Donbass Arena bombardeada e perdeu a hegemonia na temporada passada para o Dinamo de Kiev.
O impacto econômico foi grande nos clubes, com a saída de vários jogadores importantes. No Metalist Kharkiv a folha de pagamento foi reduzida drasticamente. A equipe perdeu no período nomes como Cleiton Xavier, Márcio Azevedo, Diego Souza, Rodrigo Moledo, Jajá e Marlos. Além disso, o presidente do time precisou se mudar do país.
Atualmente os salários estão atrasados em seis meses para alguns atletas. Se antes a equipe lutava pelas primeiras posições da Liga da Ucrânia e chegou até mesmo a participar da Uefa Champions League, hoje o elenco é basicamente formado por ucranianos e ocupa apenas a 11ª colocação, em um campeonato com 14 clubes.
“O futebol estava numa evolução muito grande e perdeu demais, muitos jogadores saíram.
Aonde eu morava era fronteira com a Rússia, mas não teve bombardeios. Tivemos problemas com atrasos de salários”, lamentou Edmar, que mesmo sendo capitão e ídolo, não resistiu a crise e assinou com o Dnipro.

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Com tantos anos no leste europeu, o meia de 35 anos estreitou os laços com o país a ponto de casar-se com Tetiana Halovska, de quem adotou o sobrenome, e ter dois filhos nascidos em Kharkiv. Tornou-se cidadão local em 2011, defendeu a seleção ucraniana por 15 vezes e marcou um gol. “Quando me naturalizei foi com a intenção de criar um vínculo maior, não era o fator de ir para a seleção apenas”, analisou.
Mesmo com todos os problemas, ele não pensa em deixar a Ucrânia tão cedo.Minha relação com o país é fantástico. Nunca quero perder esse laço e o Brasil é a minha casa. Eu vou esperar o tempo para saber o que irei fazer. Torço muito para o país sair dessa situação. É um povo batalhador, tem muita gente do bem”, ponderou.
Nada mal para quem foi um dos primeiros brasileiros a desbravar uma das antigas repúblicas da União Soviética. Revelado pelo Independente de Limeira, do interior de São Paulo, ele foi comprado pela Parmalat e foi para o Etti Jundiaí (hoje Paulista). Lá atuou ao lado de Nenê (Vasco), Marcinho (ex-Palmeiras e Corinthians), Arthur (ex-goleiro do Benfica) até chamar a atenção do emergente futebol ucraniano.
“Eu posso dizer que roí o osso, viu (risos). A situação para os brasileiros aqui era muito complicada, não tínhamos tradutor nem nada. O futebol também era um nível bem abaixo”, recordou o jogador que primeiro atuou por .
“Quando tinha uns dois meses que estava morando aqui fui em um mercado pequeno comprar queijo e presunto. Esperei a fila, achei que conseguiria comprar mostrando com o dedo porque estava sem tradutor. Na minha vez mostrei para a vendedora o que queria, mas não entendeu nada. Daí ela me passou de lado, nem se preocupou em me ajudar (risos). Fui embora com fome e com vontade chorar de tanta raiva e frustração”, relembrou.
Depois de oito meses de muito estudo, porém, veio a satisfação.”Voltei no mesmo mercado e a mesma atendente estava por lá. Entao fui lá e pedi tudo certinho em russo. Ela então me me tratou de forma diferente (risos). Depois conversamos, expliquei minha situação de estrangeiro, ela até me pediu desculpas por aquele dia. Disse que estava muito cansada e estressada, sem problemas”, finalizou.
ESPN/montedo.com

5 respostas

  1. Devia ter ido para a guerra, já que preferiu se naturalizar Ucraniano, que vá defender o seu pais e onde contituiu a familia.
    É o minimo que tem que fazer já que trocou a patria que nasceu. Cada um com seus problemas…

  2. Queria ver como nosso "herói" Neymar ou outros jogadores ou surfistas que recebem tal título da imprensa e de parte da população reagiriam se o Brasil entrasse em guerra e eles fossem convocados. Acredito que todo o papel higiênico produzido no Brasil não seria suficiente para limpá-los.

  3. Caro comentarista do dia 4 de janeiro de 2016 17:26

    Acredito q esses "heróis" fariam idêntico ao ucraniano naturalizado: ligariam para os presidentes dos clubes e estes "resolveriam" tudo rapidinho!!!!

  4. Calma amigo, patriotismo descabido cheira mal. Não é por que o rapaz se naturalizou, constituiu família e joga no país que ele deve ir pra guerra, principalmente uma guerra levada a cabo pelo governo ilegítimo da Ucrania. Lembre-se ou saiba que o presidente foi deposto por um golpe, imagine se fosse no Brasil? além do mais, fora os mercenários, o governo está mandando lutar na guerra (conta sua própria população) soldados recrutas não profissionais e estes estão sendo dizimados aos milhares. Dia destes três regimentos inteiros foram massacrados. Estamos falando de guerra, é gente que está morrendo e, mandar um recruta para morte certa não é uma coisa muito cristã. Entre viver e morrer amigo, o jogador escolheu viver.
    Obs: Além do mais, nunca Brasil e Ucrania vão entrar em guerra.

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