Arsenal de Guerra do Exército vira ‘cidade-fantasma’

Antiga área de ações do Exército no RS vira ‘cidade fantasma’

PAULA SPERB
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM GENERAL CÂMARA (RS)
As paredes das casas racharam, a tinta azul das portas desbotou e os vidros estão quebrados. O mato tomou conta do entorno do hospital, há vacas e cavalos pastando nos pátios abandonados e quase não tem ninguém andando pelas ruas.
Uma área federal que foi o coração das ações do Exército Brasileiro no Rio Grande do Sul durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) ganhou ares de cidade fantasma no centro de General Câmara, município de 8.500 habitantes localizada a 80 km de Porto Alegre.
Durante a guerra, bailes, cinema e partidas de futebol animavam aquela região. Cerca de 2.000 militares e suas famílias, de todas as partes do país, viviam em uma espécie de vila encravada no centro da cidade. Hoje, 102 pessoas, entre militares e civis que prestam serviços ao Exército, ainda moram no Arsenal de Guerra, em imóveis cuja aparência bem cuidada destoa da parte abandonada.
Desde 2009, o destino dos cerca de 150 imóveis desocupados é alvo de um impasse entre o Arsenal –um dos três locais do país onde é feita a manutenção de armas– e a prefeitura. O município pede a doação da área para a habitação popular, mas as negociações estão emperradas.
Secretário municipal do Planejamento, Fábio Medeiros de Freitas diz que a burocracia dificulta o processo, enquanto o Exército alega que a prefeitura ainda tem de apresentar oficialmente uma proposta para a troca de terrenos e imóveis.
Segundo o secretário, a prefeitura se propõe a fazer a urbanização da área, com obras de pavimentação e iluminação. “Hoje não tem por que fazer esse serviço. Ninguém mora lá”, diz Freitas.
O município alega que não pode oferecer mais do que a urbanização como pagamento. Isso porque o complexo foi avaliado em cerca de R$ 30 milhões no ano passado, quase o dobro do orçamento da prefeitura, que em 2016 terá R$ 16 milhões para administrar a cidade.
“Eles [o Exército] não pagam IPTU. Isso é previsto na lei. Então, a prefeitura não arrecada nada com a área”, diz Freitas. O município calcula um deficit habitacional de cerca de 200 famílias, que poderia ser praticamente zerado com a doação das casas.
HOSPITAL E CLUBE
A estrutura do governo federal foi construída na década de 1930. Inclui 228 residências, um hospital, clubes e um pavilhão para a manutenção de armas. Com o fim da guerra, entrou em declínio. São 126 residências com rachaduras e mato. Na área degradada, o aluguel das casas foi proibido. Há apenas uma moradora remanescente, Leonor Nascimento, 66, que paga R$ 200 mensais ao Exército. A professora aposentada mora no local há 30 anos.
“Fizeram vistoria e viram as rachaduras, vieram com uma conversa de que era para eu sair para minha segurança. Ofereceram outra casa, mas não me agradei”, conta Leonor. Ela não faz reparos internos na casa com medo de “estragar”, mas mantém o jardim impecável.
Na casa ao lado da de Leonor, morava o comerciante Ângelo Domingos Santana de Brito, 57. “Gostava de jogar bola no campo de futebol, agora abandonado. O Arsenal tinha mais vida. A cidade girava em torno disso”, conta. Assim como Brito, muitos deixaram as casas com a chegada dos filhos. O ex-morador teme a demolição dos imóveis. “Torço para que a prefeitura assuma e coloque gente para morar lá”, diz.
Folha de São Paulo/montedo.com

11 respostas

  1. Nasci e morei em General Câmara até os 13 anos, é muito triste ler esta matéria, infelizmente entra Diretor e sai Diretor do AGGC e nada é feito, a pergunta é? A Diretoria que controla o Patrimônio tem ciência disso??? General Câmara está a 80 km de Porto Alegre, será que tem visitas de inspeção por parte da Região e CMS, e de Brasília, a Diretoria de Armamento…., o Arsenal nada mais é, do que uma indústria BÉLICA, no Brasil só tem 03 Arsenais, São Paulo, Rio de Janeiro e General Câmara, será que os Arsenais das capitais citadas, são tratadas com o mesmo descaso??? Os imóveis funcionais foram construídas pelo próprio Arsenal, material bruto, infelizmente boa parte desses imóveis se deteriorou com o tempo…, espero que os Militares façam algo pelo Arsenal…!

  2. Esse é o tipo de Unidade que deve ser extinta, lugar rolha, cidade rolha, nesse caso sou a favor de que os PNR sejam doados para distribuição pela prefeitura. Deviam fazer o mesmo com outras Unidades do Sul, qdo digo Sul, é Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mesmo pq aqui não é mais área provável de um conflito e tem muita OM rolha, que não serve para nada.Servem sim como castigo para os militares que batem de frente contra o sistema arcaico que se tornou nosso EB.

  3. Na cidade de Belém, pelo menos, grandes áreas utilizadas pelo Parque de material da FAB,foram devolvidas ao estado, já que não havia mais interesse e utilização delas após a desativação da unidade. Área muito nobre da cidade, hoje funciona o QG e outras unidades da PM e o hangar de aviões foi transformado em um belo centro de convenções, o HANGAR. Dizem que o estado, em troca, "realizou" algumas obras que não sei quais. As áreas estão sob a guarda ou cuidados de alguma Força. São áreas da união e podem ser devolvidas ao estado ou município. O problema é que, geralmente, estão em áreas muito nobres e isso desperta a cobiça de políticos e empresários.

  4. Tem muito militar de carreira lá no Forte Apache em Brasilia que nem sabe que essa OM existe. Esse é o tipo de OM para aonde só vai os esquecidos pela Força. Nosso Exercito atual é retrato do governo atual uma bagunça.

  5. No meu pouco entendimento, Quarteis ROLHAS são tds localizados em Grandes Centros Urbanos, ou seja, nas principais Cidades do País. O q a existência de Quarteis das Forças Armadas tem a oferecer para justificar sua presença em Brasília, Rio, São Paulo, Salvador, Curitiba, Fortaleza, JF, Recife, Santa Maria, etc. Qdo nossas fronteiras são desguarnecidas!!! Apenas 22% das tropas das Forças Armadas estão nas fronteiras!!!!
    Com a palavras os "especialistas"……

  6. é impressionante as opiniões de tantos frustrados que não serviram ao EB e sim se serviram dele. Unidade rolha…cidade rolha…putz, é muita falta de conhecimento sobre a função do EB no território nacional.

  7. Triste mesmo é ver bairristas e puxa sacos, que tem o mesmo nível intelectual, pq passaram no mesmo concurso, defendendo uma Instituição falida, apenas pq estão recebendo algumas migalhas que caem do Forte Apache para trairarem seus companheiros de farda, com certeza esses que falam muito em nível intelectual foram favorecidos outrora, em suas OM, com gabaritos, como faziam antigamente, onde apareciam sargentos temporários puxa sacos na escola que eram mandados por seus comandantes na mais puras peixadas, pq não tinham capacidade de passar no concurso como os demais. Esses são os críticos de hoje, muitos fizeram uma faculdade de merda, do tipo "pagou passou" e hoje se acham os intelectuais do EB, os chamados "idéiudos" da Instituição. Mas tenho que admitir que esses devem de verdade muito a Instituição, pois entraram através de meios obscuros, pela porta dos fundos, conheço muitos nessa situação.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo