Olha a patrulha aí, gente!!! Matéria da Folha questiona ‘livros com críticas a visões de esquerda’ da Biblioteca do Exército

Editora Biblioteca do Exército lança livros com críticas a visões de esquerda
FELIPE BÄCHTOLD
DE PORTO ALEGRE
“O livro descreve as tentativas de tomada do poder pelos comunistas. Lamentavelmente, a história vem sendo construída de forma unilateral pelos derrotados, com suas versões distorcidas.” Obras com descrições de forte apelo ideológico, como “A Grande Mentira”, do general Agnaldo del Nero Augusto, e títulos em defesa da ditadura militar (1964-85), são comercializados na rede e em feiras literárias pela editora Biblioteca do Exército, mantida por uma das Forças Armadas.
Além de biografias, livros sobre estratégia militar e relatos históricos, muitos deles sobre guerras importantes, há uma série de títulos com críticas à esquerda, como “A Revolução Gramscista no Ocidente” ou “O Comunismo”.
Entre as obras, destaca-se “A Arte de Governar”, de autoria de Margaret Thatcher (1925-2013), em que a ex-primeira-ministra britânica, símbolo do conservadorismo, analisa fatos da política mundial desde a Guerra Fria.
Vários títulos tratam de temas internacionais contemporâneos, como as guerras do Iraque e do Afeganistão, terrorismo islâmico e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Tenente da reserva que atua no setor de vendas –na editora, todos são militares da ativa ou reformados–, Ricardo Rocha, 55, conta que representantes participam de feiras fora do país, como a de Frankfurt –evento mais importante do mundo no gênero–, a fim de prospectar títulos.
ORÇAMENTO
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, a editora gastou R$ 821 mil com serviços gráficos para imprimir os exemplares desde 2013 e outros R$ 1,85 milhão na logística de venda.
O dinheiro arrecadado com a comercialização dos livros ajuda a custear a operação. Segundo os responsáveis, todo o trabalho de edição e diagramação é feito por membros das Forças Armadas.
Os lançamentos –cerca de dez por ano– são definidos por um conselho editorial, que inclui oficiais da reserva e professores universitários. Cada livro lançado sai com 2.500 exemplares, tiragem similar à de grandes editoras.
SELEÇÃO
Apesar de se centrar em assuntos militares, a Biblioteca do Exército busca atrair o público geral. Uma das opções de vendas é um sistema de assinaturas parecido com o extinto Círculo do Livro, em que o participante paga uma anuidade e recebe periodicamente um título recém-lançado. Também há um plano para integrar a biblioteca virtual Nuvem de Livros.
A Bibliex, como é conhecida, foi criada no século 19, mas passou a lançar livros a partir de 1937, quando o general Eurico Gaspar Dutra era ministro do governo de Getúlio Vargas. Há quase dois meses, a editora participou da Feira do Livro de Porto Alegre. Uma banca foi montada pela instituição no evento ao lado de editoras e livrarias convencionais, e sargentos administravam as vendas.
“Não Somos Racistas”, livro crítico ao sistema de cotas raciais, de autoria do diretor-geral de Jornalismo e Esporte da Globo, Ali Kamel, foi reeditado pelo selo militar e era um dos itens disponíveis.
Já o livro de Thatcher estava em promoção na capital gaúcha –de R$ 80 na venda pelo site, era oferecido a R$ 56.
VISÃO DA CASERNA
Em destaque na prateleira, havia um exemplar da coleção “História Oral do Exército”, sobre os acontecimentos de 1964, ano em que ocorreu o golpe militar. Além da feira em Porto Alegre, a Biblioteca do Exército já havia participado da Bienal do Livro do Rio.
O coronel da reserva Márcio Oliveira Ferreira, 54, responsável pelo marketing e vendas da casa editorial, afirma que as publicações “refletem o pensamento predominante na caserna”. “Se não escrevermos a história, quem irá? No meio acadêmico, há uma predominância da esquerda”, afirma.
Ele diz que, assim como universidades ou o Senado Federal mantêm editoras próprias, o Exército precisa de uma que corresponda às suas necessidades. Ferreira acredita que editoras convencionais dificilmente publicariam alguns títulos que são de interesse dos militares.
O tenente Rocha argumenta que raramente se “vê militares se manifestando” sobre algum assunto e, por isso, a editora ajuda a suprir o vazio. Com os livros, diz ele, é possível “mostrar à população” linhas de pensamento que estão presentes entre os militares.
O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro Carlos Fico, que coordena um grupo que pesquisa o regime militar no Brasil, diz que a editora segue a “interpretação benevolente” da ditadura que persiste nas Forças Armadas.
“A publicação de obras críticas ao comunismo, como se fosse reviver a Guerra Fria, é uma coisa anacrônica. A qualidade das obras é discutível em si. Mesmo considerando o perfil conservador, há intelectuais e pensadores muito mais qualificados.” O diretor-presidente da Associação Nacional de Livrarias, Afonso Martin, diz que o perfil de publicações da editora militar é “extremamente segmentado”.”São livros específicos, muito de nicho. Mesmo em livrarias com maior acervo, com seção de guerra, não é comum ver [livros da editora]. É uma atividade muito própria deles, não é de grande varejo”, diz Martin.
O Comando do Exército afirma que publicou cerca de mil títulos desde os anos 1930 e que “algumas publicações não são parâmetros para caracterizar uma tendência ideológica” por parte da editora.
Também afirmou que o conselho decide quais obras serão publicadas com base na “pertinência quanto ao interesse técnico-profissional” e é formado por integrantes com reconhecido mérito literário.
ALGUMAS DAS PUBLICAÇÕES DA EDITORA
“Camaradas nos Arquivos de Moscou: A História Secreta da Revolução Brasileira de 1935”, de William Waack
(1998, 381 págs., R$ 20)
Uma pesquisa sobre o frustrado levante comunista
“A Rebelião das Massas”, de José Ortega y Gasset
(2006, 266 págs., R$ 54)
Texto do filósofo espanhol (1883-1955), referência do pensamento conservador
“Poderosos e Humildes”, de Vernon A. Walters
(2000, 380 págs., R$ 56)
Textos do militar e diplomata americano, vice-diretor da CIA de 1972 a 1976
“Vozes da Guerra”, de Sírio Sebastião Frohlich
(2015, 376 págs., R$ 56)
Obra revisita a experiência de soldados brasileiros na Segunda Guerra Mundial
FOLHA DE SÃO PAULO/montedo.com

16 respostas

  1. Existem muitos livros bons, mas também aberrações que algum Cel da reserva escreveu verdadeiro lixo, só publicado devido a força da patente.

  2. Srs.!
    Se estāo tentando censurar é porque há muitos conteúdos interessantes que não desejam que sejam do conhecimento público, então, a partir de agora, não só vou me interessar pelos títulos, como também, vou ser um divulgador voluntário da BIBLIEX

  3. Enviei para a Folha!
    Seria a Folha comunista?
    Certa feita participava de um seminário sobre liberdade de expressão promovido pelo Instituto Millenium quando numa das mesas debatia entre outros o Dr Frias. Sardenberg mediava a discussão e passou a seguinte pergunta feita por alguém da platéia: Dr Frias, por que a Folha só contrata jornalista comunista? Ele se saiu muito bem, elegantemente respondeu que ele não pedia este tipo de informação no currículo dos candidatos a emprego. Felipe Batchold e o editor da Folha Ilustrada enquadram-se neste caso, haja visto a publicação vergonhosamente parcial sobre os livros editados pela tradicionalíssima Biblioteca do Exército. Ambos precisam muito ler os livros ali editados para se elucidar, por exemplo, que a sociedade brasileira promoveu uma reação democrática em março de 1964 e teve um regime de exceção até 1985. A obra A Grande Mentira citada na reportagem é apenas uma das explica muito bem o assunto. E, saibam de uma vez por todas, a única ditadura que existiu no Brasil foi a de Getúlio Vargas.

  4. Sabe por que estamos nesta situação vexatória? Porque nossas mentes continuam presas nos anos 60! Somos tipo cães amestrados que de tão condicionados pelos donos, não conseguimos perceber a realidade de que o Mundo e a sua polarização mudaram. É patética essa preocupação com o Comunismo quando, hoje, o problema não é mais Leste x Oeste, mas Norte x Sul. Nas Olimpíadas os senhores entenderão melhor o que digo. O PT só foi eleito, porque ninguém aguentava mais a podridão da direita. O problema é que ele traiu o povo, mas, não sejamos levianos a ponto de acharmos que antes do PT o Brasil era uma maravilha. Open your mind, because it not pain. Feliz 2016!

    1. Excelentíssimo senhor doutor boçal: se o sr. em vez de candidato a hater, preferir gastar o tempo com estudo, o sr. será mais útil à nossa causa e à Sociedade. Think about it.

  5. Fica com inveja, não, Anônimo das 10:53. Com um pouquinho de esforço, até você consegue aprender alguma coisa. Há cursos de idiomas gratuitos na Internet. Vai sem medo. Raciocinar não dói, não.

  6. Sou assinante a Biblioteca do Exército desde a Escola de Aperfeiçoamento e infelizmente muitos títulos deixam a desejar pelo conteúdo por vezes entediante e esgotado por outras obras.
    Percebo que alguns livros foram publicados apenas para satisfazer algum ego inflado e pouco acrescentam ao vasto conteúdo já publicado no que diz respeito a temas como A Guerra do Paraguai, 2ª Guerra Mundial , Comunismo/Socialismo e outras rolhas.
    Enfim espero que o editorial retorne aos "estudos sobre os problemas regionais e brasileiros" e assuntos internacionais relevantes para a contribuição cultural relevante e o esclarecimento aos leitores.

    1. Excelente visão crítica acerca do tema. É isso mesmo. Muita gente "fabricando rolha" apenas para saciar o ego inflado. Porém, nada acrescentaram ao que já fora dito. Isso também é vida inteligente nas FFAA.

  7. Sou da humilde opinião que a literatura da Caserna brasileira faz parte das obras literárias mais notáveis do mundo erudito. Eis que o Informex, supera qualquer comédia dantesca. Saboreai-vos, pois, esta narrativa dantesca, da lavra do Exmo Sr. General Enzo, de anos atrás, porém, e muito embora, contemporânea em nossos corações castrenses:

    INFORMAR E ESCLARECER É DEVER DO COMANDO

    *A PALAVRA OFICIAL DO EXÉRCITO*

    INFORMEX NR 001 – 10 DE JANEIRO DE 2008

    DISTRIBUIÇÃO: TODAS AS ORGANIZAÇÕES MILITARES

    DIFUSÃO: TODOS OS MILITARES

    ASSUNTO: REAJUSTE SALARIAL

    Em reunião realizada nesta data com os Comandantes das Forças Armadas, o Ministro da Defesa informou sobre os despachos com o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e, posteriormente, com o Presidente da República, ocasião em que ficou definido que:

    – estão mantidos os entendimentos para o reajuste salarial dos militares, aguardando-se somente a recomposição da proposta orçamentária que deverá ocorrer em meados do próximo mês; e

    – após a referida recomposição, serão definidas as condições para a concessão do reajuste.

    _______________________________________
    General-de-Exército ENZO MARTINS PERI
    Comandante do Exército

  8. Considero de grande importância as obras literárias escritas pelos associados a BIBLIEx, mas gostaria que estas literaturas fossem mais distribuidas junto às Organizações Militares, uma vez que isso ainda não ocorre. Outro ponto importante é construir um pensamento realista sobre a História pois boa parte de nossa nação sequer sabe a Verdade pois o que a mídia Sensacionalista fez nestas últimas décadas em nome da "liberdade de expressão" foi dar lugar a libertinagem e desconstrução dos valores familiares e patrióticos. Sou militar da ativa e confesso que nunca li um livro da BIBLIEx por falta de acesso. Isto precisa ser corrigido urgentemente.

  9. A verdade atual é a seguinte: tudo o que termina com Ex não presta. FUSEx, SIMATEx, SGEx, PLAMOGEx, SICAPEx, CASIPEx, POUPEx e pq seria diferente com a BIBLIEx. Tudo envolve interesses, na verdade, muito são cabides de emprego para oficiais aposentados que não tem o que fazer a reserva, pois diante de tanta mordomia que possuem na ativa, acabam não se preparando para uma eventual reserva. Ou alguém já viu uma praça publicando livro na BIBLIEx ou mesmo trabalhando, sem qualquer tipo de concurso, no FAM/ POUPEx.

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