A ameaça terrorista QBRN

img cel qbrnMárcio Luis do Nascimento Abreu Pereira*
Não é foco desta discussão a descrição ou enumeração de grupos terroristas e seus atos, porém buscar-se-á apresentar uma cronologia resumida que permita o leitor interpretar, à luz de dados históricos, o aumento da intensidade e do uso do terrorismo, especialmente nas duas últimas décadas e, em particular, no século XXI.
O Conflito de Quarta Geração se manifesta principalmente por intermédio de atos terroristas, que buscam a implantação do terror, tornando-se dedutível e compreensível o aumento no número de atentados terroristas nestas últimas décadas e a crescente busca, por parte de organizações terroristas, da aquisição de agentes QBNR, capazes de espalhar o pânico e causar grande número de baixas em curto espaço de tempo e com relativa facilidade de emprego.
Para que se tenha uma ideia do aumento da ameaça terrorista nas últimas décadas, considerando apenas os atos de maior repercussão na mídia, o período de 1990 a 2007 superou em cerca de 1.450 % as duas décadas anteriores (1970 e 1980), levando-se em consideração o número de baixas (mortos e feridos) dos atentados, com base nos dados do USA News, Australian Broadcasting Corporation e FBI.
O aumento do número de atentados terroristas reflete diretamente na tentativa de aquisição de agentes QBNR por parte das organizações terroristas.
O gráfico abaixo, elaborado pelo autor deste texto, com os dados extraídos do apêndice 1 do livro intitulado “A nova face do terrorismo: ameaças das armas de destruição em massa”, de autoria de Nadine Gurr e Benjamin Cole (2ª Edição – 2002 – 312p), demonstra, com base em dados históricos, o crescimento assombroso dos atos e tentativas de utilização de agentes QBNR por terroristas.
O banco de dados utilizado é uma lista de incidentes terroristas, mas também inclui as tentativas de adquirir armas QBNR; tentativa de uso de tais agentes; ameaças de usar armas QBNR sem qualquer evidência de capacidades reais; ameaças de uso envolvendo a posse efetiva dos agentes QBNR; fraudes; e incidentes correlatos. Existem também alguns incidentes com armas químicas e biológicas, a fim de dar ao banco de dados um contexto histórico, concentrado principalmente no século XX e XXI, porém, no entanto, não inclui o uso criminoso de armas QBNR, embora tenha havido muitos casos de tentativas de extorsão e de assassinos usando esses agentes, além de ameaças envolvendo a contaminação de alimentos ou água.
É importante notar que existe uma distinção entre o uso de agentes QBNR para fins de destruição em massa e sua utilização em ataques pequenos e limitados, como assassinatos individuais e homicídios com incapacidade para aterrorizar ou produzir contaminação.
Cabe ressaltar que existem muitos incidentes que não são notificados.
Tem sido também considerável a confusão em torno do uso de armas QBNR no passado por terroristas, devido à ambiguidade em termos semânticos, como o que se entende por ADM e agentes QBNR e o próprio termo terrorista, ainda não definido oficialmente no Brasil até o presente momento.
Inspirando-se em padrões passados da aquisição e utilização QBNR, os incidentes neste banco de dados podem destacar os sinais de advertência e fornecer uma compreensão mais abrangente das motivações subjacentes à ameaça.
Baseando-se em ameaças terroristas QBNR do passado os autores tentam identificar e quantificar as tendências atuais e definir o perfil desta ameaça.
O gráfico abaixo representa esses atentados ou incidentes, de forma quantitativa, para que se possa concluir sobre o aumento dos casos nesta última década, corroborando a teoria do Conflito de 4ª Geração (C4G) e a teoria da Guerra Híbrida (GH).
Para que se tenha uma ideia, ainda mais significativa, do aumento da atividade terrorista QBRN, usando como exemplo a área radiológica/nuclear, o aumento do tráfico ilícito de material nuclear nos últimos anos foi significativo, com pico nos anos de 2006 e 2007, inclusive com tentativas de cruzar fronteiras com quantidade de urânio altamente enriquecido ou plutônio suficientes para construção de bombas atômicas, como nos mostra o gráfico abaixo, extraído do banco de dados de tráfico ilícito da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
Este gráfico complementa as informações do gráfico anterior, com um detalhamento muito maior, pois é resultado do trabalho de todo um sistema de países interligados pela AIEA para este fim.
É evidente que existem informações que não são repassadas à AIEA e, também, que algumas das informações contidas neste gráfico são coincidentes com informações contidas no gráfico anterior.
Figura 4 – Outras atividades ou eventos não autorizados, reportados ao ITDB, 1993-2013
Fonte: Agência Internacional de Energia Atômica (www-ns.iaea.org)
Como se pode observar, a possibilidade de ocorrência de um atentado com material radioativo (bomba suja) não pode ser descartada.
O Brasil sediará os Jogos olímpicos em 2016 e há um consenso entre os estudiosos do assunto de que não há país que esteja livre de atentados terroristas, embora alguns afirmem que em certos países, como o Brasil, um atentado desta natureza não seria foco do interesse de terroristas pela repercussão contrária ao grupo autor que se refletiria em possíveis ações repressivas em excesso, diminuindo a “liberdade de ação” deste grupo em atingir objetivos de maior interesse para a sua causa. Porém, os chamados “lobos solitários” poderiam atuar livres de qualquer preocupação de retaliação por não representarem uma organização ou grupo específico, o que aumenta a possibilidade de ocorrência de atentados sem distinção de países.
Desta forma, torna-se fundamental que o Brasil esteja preparado para responder a um incidente desta natureza, mas, principalmente que esteja consciente desta vulnerabilidade comum a todos os países do mundo e que trabalhe diuturnamente nas atividades preventivas de não proliferação para que possamos garantir a segurança da população e a integridade das instalações vitais para o Estado Brasileiro.
*Coronel do Exército, Comandante do 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear
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