Comandante do navio brasileiro diz que imigrantes resgatados não comiam há dois dias

Brasileiro que resgatou imigrantes diz que eles não comiam havia 2 dias
Imigrantes resgatados desembarcam do navio da Marinha brasileira Barroso, no porto de Catania, na Sicília (Itália)
Adriano Brito
Os 220 imigrantes resgatados pela Marinha brasileira no mar Mediterrâneo, na sexta-feira (4), vinham da Líbia, estavam havia sete dias no mar e não se alimentavam nem bebiam água havia dois dias, contou à BBC Brasil Alexandre Amendoeira Nunes, comandante da corveta Barroso, que efetuou o resgate.
A embarcação, que deixou o Rio de Janeiro no dia 8 de agosto, se dirigia ao Líbano para substituir a fragata brasileira que atua em missão de paz da ONU.
Por volta das 18h50 (13h30 no horário de Brasília), foi acionada pela guarda costeira italiana para ajudar a buscar um navio com centenas de imigrantes que corria o risco de naufragar a cerca de 50 quilômetros dali.
Segundo o comandante, os imigrantes foram visualizados aproximadamente duas horas mais tarde.
“Era um barco de pequeno porte, de madeira, semelhante a esses regionais que existem na Amazônia. Estava superlotado”, afirmou.
Ao todo, o navio brasileiro resgatou 220 pessoas – 94 mulheres, 89 homens e 37 crianças, entre elas quatro de colo. O traslado entre as embarcações levou cerca de uma hora.
“Havia duas lanchas da guarda costeira nas proximidades. Como nosso navio era maior, levamos o maior número de pessoas”, relatou Nunes.
De acordo com o militar, as condições eram muito precárias.
“Eles (os imigrantes) se encontravam muito debilitados, estavam havia sete dias no mar. Estavam muito desidratados, com assaduras, queimaduras de sol. Uma senhora estava com o braço quebrado”, contou.
Após serem embarcados, os imigrantes receberam primeiros socorros. “Usamos pomadas e hidratação oral. Nos casos mais graves, foi preciso usar hidratação intravenosa.”
Experiência inédita
Segundo Nunes, a Marinha está preparada e acostumada com casos de salvamento, mas essa experiência com imigrantes foi algo inédito.
“Tenho uma filha de nove anos. E são crianças que estavam ali. Mas você não pode se deixar abalar para poder fazer o salvamento da melhor forma possível. A tripulação reagiu bem”, contou.
Os imigrantes, disse, demonstraram preocupação ao ver um navio estrangeiro se aproximar, mas ficaram mais tranquilos ao saber que era brasileiro.
“Eles depois conseguiram dormir, descansar durante a noite. Muitos estavam havia dois dias sem água nem comida.”
De acordo com o militar, o navio da Marinha possuía suprimentos para atender essa demanda inesperada. “Temos sempre de sair preparados para esse tipo de ocorrência, para ficar 30 dias no mar”.
Riscos
O comandante falou com a BBC Brasil às 18h30 (13h30 no horário de Brasília) deste sábado (5), 30 minutos antes de a corveta reiniciar sua viagem ao Líbano – o navio deixou os imigrantes no porto de Catania, na Itália.
Ele disse que a tripulação considera a possibilidade de se deparar com situações semelhantes durante o trajeto e explicou os riscos de um resgate como esse.
“Nosso navio é grande. Ao se aproximar demais, pode fazer um movimento que pode quebrar (a embarcação menor) numa jogada do mar. Havia um petroleiro perto, mas que nada pode fazer por esse motivo”, disse.
O transporte dos imigrantes entre o barco de madeira e o navio brasileiro foi feito por meio das lanchas da guarda italiana.
Segundo Nunes, se elas não estivessem lá, o trabalho de resgate demoraria muito mais: a Marinha teria de lançar ao mar as duas pequenas embarcações que possui para esse tipo de ação – um bote e uma lancha -, o que tornaria possível o transporte de apenas cerca de vinte pessoas por vez.
BBC/montedo.com

6 respostas

  1. Este é o Brasil e está é nossa gloriosa marinha fazendo seu trabalho, parabéns a todos os militares desta embarcação Brasil acima de tudo!

  2. Palavras do Comandante Alexandre Amendoeira (comandante da Corveta Barroso) em entrevista ao G1.
    "Me sinto apenas um cidadão, um servidor da Marinha do Brasil. Sinto muito orgulho do que faço perante o Brasil. Nada de heroísmo, apenas a nossa função de salvaguarda da vida no mar, como somos treinados desde os bancos escolares. Não considero isso heroísmo, mas parte do nosso dever na Marinha do Brasil", afirmou Nunes.
    Acrescento a seguinte citação… Para que o mal triunfe basta que os bons se omitam!! (Edmund Burke) e vou além…
    As nações mais desenvolvidas assistem quase que inertes ao esfacelamento do oriente médio e de algumas regiões da África. Essas nações, a exemplo da WWII com a ousadia de Hitler, esperam o problema bater a sua porta para só então agir com alguma firmeza. Fingir que o problema não existe e que é só uma briga entre muçulmanos, lançar bombas de "precisão" toda vez que um atentado do ISIS é bem sucedido ou ainda entregar armas a exércitos inábeis para o combate que fogem em retirada quando o inimigo se aproxima (abandonando modernas armas nas mãos do inimigo) não irão devolver a paz àquela região. O extremismo religioso é um câncer igual ou pior que o nazismo e deve ser combatido na sua raiz. Toda as nações, não só americanos e europeus, devem se unir no esforço de pacificar a região ou estaremos fadados a ver mais imagens como a do garoto sírio afogado, até que elas não nos cause mais repulsa, mais ou menos como nos crimes de assassinato no Brasil, que já não chocam boa parte da população e muito menos ainda nossos "nobres" governantes devido a sua ocorrência cotidiana.
    O resgate realizado pelo navio brasileiro só reforça a importância de estar presente na hora e local certos, possibilitando assim alguma forma de reação para minimizar o mal causado, mas para extirpar esse mal é preciso que as botas estejam no solo!!!!
    Luciano Silva

  3. Parabéns ao Cmt da embarcação e a toda a sua tripulação. Sr Luciano Silva, resumiu com sabedoria esta trágica situação em que vivem os refugiados.

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