Conheça o senhor de 83 anos que é colecionador de motocicletas Harley-Davidson e ícone da paixão que os belo-horizontinos têm por essa marca americana
Bruna Sales – Encontro Digital
“Harley Davidson é uma paixão, é um vírus”. É assim que o mineiro José Senra Moreira, hoje com 83 anos, que ficou mais conhecido como capitão Senra, define sua relação de mais de 60 anos com as motocicletas da marca. O ex-capitão da polícia – e que já escoltou autoridades como o presidente da república Juscelino Kubitschek – deu início a uma longa historia de amor pela Harley-Davidson ainda criança, quando ajudava o pai a lavar suas duas motocicletas da famosa marca americana.
Uma moto do pai era do ano de 1929, e a outra, de 1936. Aliás, esta foi a primeira que Senra pilotou. “Por volta dos 14 anos, comecei a me apaixonar pela Harley. Sempre cuidava dela junto com meu pai, sonhando sobre o dia em que poderia desfilar pelas ruas com elas. Aprendi a pilotar no quintal de casa, e por volta dos 18 anos, meu pai me deixou sair com a motocicleta”, lembra o icônico morador de Belo Horizonte.
Em 1954, empolgado, Senra entrou para o exército, depois de assistir às propagandas da época, que traziam soldados pilotando motocicletas Harley-Davidson. “Tive a sorte de começar pilotando a moto americana no exército. Realizei várias funções no grupamento, e quase todas ligadas ao veículo”, conta o aposentado.
Quando Senra foi trabalhar para a polícia do exército, chegou a fazer escoltas para diversas autoridades nacionais e estrangeiras, entre elas a rainha Elizabeth II, em passagem pelo país na década de 1960. Ele lembra com orgulho as escoltas que fazia para o ex-presidente Juscelino Kubitschek, na década de 1950. Aliás, nesse período, um episódio lhe rendeu um amassado em uma de suas motos. “Estávamos na estrada para Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro, quando sofri uma queda. Imediatamente, JK veio me socorrer e verificar se tudo estava bem”. Senra ainda preserva as marcas do acidente com a moto, pois as considera uma relíquia. “Não desamasso a Harley por nada. Todas as escoltas que eu fiz foram importantes para mim, mas as que envolviam Juscelino são as mais significativas”, completa, orgulhoso.
De geração em geração
A paixão pelas motos já alcançou a quarta geração da família Senra. “Minha maior alegria, hoje, é ver meus filhos e netos compartilhando o meu hobby. O meu pai começou tudo, mas minha esposa e meus três filhos também gostavam de motocicletas. Agora, minhas duas netas já estão até pilotando. O próprio Willie G., neto de um dos fundadores da Harley-Davidson, chegou a dizer que é difícil encontrar uma pessoa que consiga me superar. A minha vida inteira foi, e ainda é, dedicada às motos da tradicional marca americana”, conta.
Fundador do clube Águias de Aço, que é restrito ao grande público e reúne apaixonados pelas motos da Harley-Davidson, capitão Senra ganhou notoriedade no Brasil e, consequentemente, muitas amizades. Isso acabou atraindo a atenção da cervejaria artesanal Backer, de Belo Horizonte, que lançou uma marca de cerveja com seu nome.
“No meu aniversario de 80 anos, em Araxá, a cervejaria patrocinou o evento. Pessoas de várias partes do país prestigiaram a festa. Então, a partir daí, a Backer decidiu me prestar uma homenagem, lançando a cerveja capitão Senra. Eu pedi que ela tivesse o sabor dos anos 1950, e eles atenderam”, explica o célebre motociclista.
A proprietária da cervejaria Backer, Paula Lebbos, se orgulha do lançamento da cerveja especial capitão Senra. “Ele é uma pessoa inspiradora, de alma jovem, por isso foi tão prazeroso o processo de criação da bebida. A cerveja é do estilo amber lager, que é mais encorpada, com aroma e paladar diferenciados das que existem hoje no mercado”, explica.
Além de ser imortalizado com a cerveja, capitão Senra recebeu inúmeras homenagens, mas, para ele, a mais emocionante se deu no aniversário de 110 anos da Harley-Davidson. Ele foi escolhido como cliente símbolo da marca no Brasil e homenageado por Bill Davidson, filho do lendário Willie G., e bisneto de William A. Davidson, um dos fundadores da montadora americana.
Questionado sobre quantas motos fazem parte de seu acervo, capitão Senra não revela o número, mas conta que já distribuiu grande parte delas, ao longo da vida, entre seus filhos. Mas faz questão que todas permaneçam em seu galpão. Com mais de 10 motocicletas, ele ainda demonstra entusiasmo ao adquirir outros modelos da marca: “Eu penso em comprar um triciclo da Harley-Davidson. Quem sabe eu ainda não realizo esse desejo?”.
ENCONTRO/montedo.com