Quem são eles?

ENTREVISTA COM O TENENTE SÍRIO – ESCRITOR DE “LONGA JORNADA”
Apresentação: Sirio Sebastião Fröhlich, natural de Santa Cruz do Sul-RS, é 1º Tenente do Exército, formado na Escola de Sargentos das Armas, em 1987. Em mais de 30 anos de serviço dedicados ao Exército, foi agraciado com as Medalhas da Vitória, Militar de Ouro, do Pacificador e Sargento Max Wolff Filho, entre outras. Atualmente, serve em Brasília-DF.

Ten SirioEBlog: Como surgiu o interesse de escrever sobre a II Guerra Mundial?
Ten Sírio: O meu interesse surgiu da observação. Em 2009, durante um desfile cívico-militar, em Santa Maria-RS, ouvi dois adolescentes, ao verem os veteranos da Força Expedicionária Brasileira conduzindo a Bandeira do Brasil, indagarem quem eram “aqueles velhinhos” e o que haviam feito para estarem ali. Além disso, meu filho, como muitos adolescentes, era fascinado pelo tema, sobretudo por jogos de guerra. Como a II Guerra é um assunto pouco conhecido da maioria dos brasileiros, surgiu a ideia de deixar os protagonistas contarem as suas histórias, que têm como pano de fundo a História Mundial e do Brasil.
EBlog: Qual a proposta da publicação “Longa Jornada”?
Ten Sírio: A proposta era apresentar os pracinhas ao público jovem, em textos simples, sucintos e ilustrados. Era mostrar que eles deram parte de suas vidas (quando não a própria) pelo ideal de paz e liberdade. Era contar histórias que comprovam que todas as pessoas, por mais simples e humildes que sejam, podem superar situações totalmente adversas e se tornarem cidadãos exemplares, e mostrar que esse exemplo poderia – e deve – ser um referencial em termos de dedicação e amor pelo Brasil.
EBlog: O que destacaria deste trabalho?
Ten Sírio: Temos excelentes obras sobre a participação brasileira, dentre as quais “Memórias” e “A FEB pelo seu Comandante”. Nelas o Mar. Mascarenhas de Moraes descreve a FEB e relata a experiência do Comandante. Há outras, de comandantes de pelotões, que narram o dia a dia em combate. Também há obras escritas por correspondentes de guerra, historiadores e pracinhas; todas enfatizam o valor combativo e humano dos brasileiros. Voltando à pergunta, eu destaco a leveza com que os pracinhas narram o dia a dia, desde a convocação até o retorno, passando pelo horror da guerra. Eles conseguiram simplificar um tema complexo como a guerra. Eu não defino este trabalho como um livro de História; para mim é um livro de histórias que complementa a História.
Capa do livro (Imagem: Segunda Guerra.Net)
EBlog: Na referida obra, o senhor faz uma referência à população civil: “o maior número de vítimas não usa farda”. O que o sensibilizou nessa questão?
Ten Sírio: Quando escrevi “Longa Jornada”, me baseei em depoimentos de pracinhas e em dados históricos: milhões de civis morrerem durante o bombardeio de cidades e centenas de milhares tiveram de abandonar suas casas e se refugiar no campo. Contudo, depois que estive na Itália, conversando com italianos que eram jovens e crianças durante a guerra, fiquei ainda mais convicto, pois além dos mutilados, a guerra faz vítimas que, apesar de não apresentarem qualquer dano físico, guardam traumas que atormentam a vida dessas pessoas. Exemplos pessoais, como o de uma italiana que só superou a fobia por cães há pouco, pois eles faziam-na recordar das fugas pelos bosques, perseguida pelos alemães e seus cães pastores. Outra mencionou os fogos de artifício. Para a maioria das pessoas, eles que externam a alegria; para ela, representam angústia e más recordações.

EBlog: O Sr prossegue nas pesquisas e registros?
Ten Sírio: Sim. O tema e apaixonante e inesgotável. “Longa Jornada” teve uma repercussão muita além da esperada, principalmente junto ao público-alvo. Como é um trabalho que focou nos pracinhas gaúchos, me senti estimulado a viajar a MG, RJ e SP em busca de novas histórias, totalizando 50 depoimentos. A essência desses depoimentos é semelhante, mas cada um viveu e sentiu a guerra de modo diferente. Assim, cada pracinha tem uma história única e; é uma pena não ser possível ouvir todas. Entre as entrevistas estão os das enfermeiras Carlota Mello e Virgínia Portocarrero, que permitiram traçar um belo perfil da participação feminina na FEB. Além disso, tive a oportunidade de entrevistar, nos caminhos da FEB na Itália, vários italianos que tiveram contato com os brasileiros durante a guerra. Todas essas histórias foram reunidas em “Vozes da Guerra” (título provisório), com previsão de lançamento para 2015, pela Bibliex.
EBlog: Qual o maior legado da FEB?
Ten Sírio: A paz! Só há paz onde há liberdade. Após entrevistar pracinhas e italianos isso ficou ainda mais evidente. A FEB deixou outros legados, como a modernização do Exército e a democratização do Brasil, decorrentes da participação brasileira na guerra junto às Forças Aliadas. Contudo, o legado de liberdade deixado para a humanidade supera qualquer outro. Na Toscana e na Emilia Romana, na Itália, os pracinhas são admirados e conhecidos como libertadores, pois devolveram a premissa da paz à população.
EBlog: O Sr gostaria de acrescentar algo?
Ten Sírio: Sim, no sentido de que os brasileiros e brasileiras que participaram da 2ª Guerra Mundial são merecedores do nosso mais profundo respeito e admiração pela abnegação que tiveram na luta pela liberdade e pela democracia e deveriam ser fonte de inspiração, pois continuam dando exemplos de amor à nossa Pátria.
EBlog/montedo.com

7 respostas

  1. Parabéns ao Ten Sírio pela sua obra, os feitos da FEB jamais poderão ser esquecidos. Aqui em Porto Alegre, fruto de uma visão ideológica caolha a esquerda que está afundando o Brasil, em seção na câmara de vereadores tirou o nome de um dos nossos heróis da FEB de uma importante avenida de Porto Alegre (Marechal Castelo Branco) por puro ranço ideológico. Enquanto países do primeiro mundo comemoram e agradecem a seus heróis pela liberdade, nós aqui no sul na contra-mão da história.

  2. Recomendo a esses adolescentes citados no texto o livro "Barbudos, Sujos e Fatigados", de César Campiani Maximiano. Publicado em 2010, é um relato sobre a participação do Brasil na 2ª Guerra Mundial contado pelos próprios "pracinhas" de então, os tais "velhinhos" dos adolescentes.

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