Buchas de canhão.

Há 2.400 militares cumprindo uma função para a qual não são treinados, a de policiamento, e servindo como buchas de canhão para que as elites da cidade se achem protegidas.

Luiz Fernando Vianna
Militares na Maré (Foto: Fernando Quevedo/ O Globo)

Rio de Janeiro – O cabo Michel Mikami, de 21 anos, foi morto por traficantes na sexta-feira passada, num tiroteio no Complexo da Maré. No dia seguinte, o governador Luiz Fernando Pezão pediu a terceira prorrogação da permanência do Exército. Pode ter dado a senha para que outros jovens militares sejam assassinados.
As Forças Armadas estão desde abril na Maré. No início, boa parte do efetivo era do Rio de Janeiro, e a “ocupação do território” exigia movimentação constante.
A necessária substituição de tropas trouxe mais homens de fora do Estado, como o paulista Mikami, nascido em Vinhedo e que servia em Campinas. Encontraram uma realidade pesada, em que traficantes muito armados se deslocam em lugares de difícil circulação, numa área de 800 mil metros quadrados.
Moradores perceberam que os militares passaram a ficar mais tempo fixos em seus postos. As facções do tráfico (há três em ação na Maré, além das milícias) também perceberam. Com áreas livres, retomaram os confrontos por pontos de venda de drogas. Bandidos que tinham fugido começaram a voltar. Em setembro, um líder comunitário apoiador das UPPs foi assassinado. Parados e inexperientes, jovens como Mikami se tornaram alvos fáceis.
Pezão, o ex-governador Sérgio Cabral e o governo federal acham que “pacificação” se faz com tanques nas ruas, violência contra moradores, sem políticas sociais ou interesse em ouvir as 130 mil pessoas que vivem nas 16 comunidades. Há 2.400 militares cumprindo uma função para a qual não são treinados, a de policiamento, e servindo como buchas de canhão para que as elites da cidade se achem protegidas.
O novo comandante das UPPs é mais um coronel egresso do Bope, batalhão que entra em favelas para levar a morte, não a paz. Com tal paradoxo não se vai longe.
FOLHA DE SÃO PAULO, via Resenha do EB/montedo.com

4 respostas

  1. Já que tá assim a coisa e parece que não vai melhorar e nem mudar, que tal então passar o salário de policiais que não querem nada com nada para os militares do EB que estão encarando essa maldita missão boca podre, principalmente para os soldados que recebem uma merreca e meia para arriscar a vida num local onde todos sabem que 'NÃO MAIS CONDIÇÕES DE MELHORA', assim como o governo do PT, nossos salários e a condição que o militar passa ao ser excluído a bem da disciplina.

  2. O problema é que o Exército não se atualizou para a atual realidade dos atuais combates pelo mundo, ainda está na época de cavar trincheira numa cota e ficar esperando o inimigo tomar de assalto, e o inimigo sobe em linha com a ridícula situação de "tomar" a cota como se fosse isso que vemos hoje. É hora de se atualizar, se adequar para as atuais missões, preparar realmente a tropa para situações como a do Rio de Janeiro. Já que a moda é empregar a tropa como polícia, então incluam de verdade nas instruções de TODOS, inclusive os Quadros, instruções e exercícios sobre as operações tipo polícia. Fora isso vamos continuar servindo de chacota para os marginais

  3. Concordo com o amigo aqui de cima, não adianta ficar jogando a culpa toda no Pezão. É óbvio que não queremos nossos homens sendo assassinados por bandidos, mas o exército brasileiro tem que se adaptar à nossa realidade.

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