O voto: essa arma que o militar insiste em ignorar!

João Bitencourt *
QUEM NÃO TEM BANCADA NÃO TEM NADA! SEM REPRESENTAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO!
Um dos piores defeitos do ser humano é a ignorância sobre assuntos que lhe dizem respeito e a insistência em se manter assim, mesmo quando para isso é chamado à razão!
Há muitos anos, ainda sargento da FAB, já politizado no meu Rio Grande do Sul, Estado onde a política e a politização fazem parte da nossa formação como cidadão e da nossa conscientizaç

ão enquanto pessoa, coisa que vivemos e respiramos desde cedo, vi que algo estava errado e que precisava fazer alguma coisa para modificar aquele estado de letargia que habita a caserna, já que os colegas nada faziam e ainda recriminavam quem ousasse falar ou fazer política no meio, além de possíveis represálias vindas dos superiores, me fizeram lançar o desafio e colocar à prova a máxima de que o militar não fala e não faz política, coisa que mais ouvia no meio, até em tom de ameaça. Desde lá, já tinha tomado a decisão de que iria enfrentar o sistema e lutar pela formação de uma bancada militar no Congresso, sabendo que isso iria me custar caro, como custou: fui preso e perseguido, por ousar pedir em manifesto escrito, melhores salários, 13º salário, direito de vender parte das férias e também o direito de voto a cabos soldados e taifeiros das FFAA e auxiliares, direito que não tinham. O preço foi alto, mas não me arrependo porque venci e hoje aqueles que até então não votavam e nem podiam ser votados, HOJE votam, além do que, tivemos aumento à época, passamos a poder vender parte das férias e conquistamos o direito ao 13º, estes, dados ainda pelo então Presidente Sarney, fato divulgado pelos principais jornais do Rio de Janeiro. Vejam o JB da época – abril de 1986!

Pois bem, lá atrás, há mais de 25 anos, como disse acima, eu já via o voto como arma/instrumento de transformação social e meio de lutas numa sociedade plural e democrática. Como sou contra rupturas institucionais e defensor das lutas democráticas vi que a nossa classe, a dos militares, como as demais classes trabalhadoras podia e pode, usar essa arma, o voto, como ferramenta e até mesmo como instrumento de lutas e reivindicações, sem sofrer qualquer impedimento legal ou de seus superiores, já que é proibida pelos mecanismos castrenses, opressores e controladores, arcaicos e destoantes das leis civis vigentes. Por ele e através dele, tudo podemos sem medo ou opressão, pois na solidão da cabine de votação, podemos expressar nossa vontade, sem controle interno ou externo!
Mas passados mais de vinte e cinco anos, vejo que nada mudou na mente forjada e ferro e fogo nas nossas escolas de formação, onde velhos e arcaicos regulamentos nos são apresentados como forma de conduta e ações na vida da caserna assim como na vida civil, como se fossemos um cidadão não comum e uma classe trabalhadora estanque das demais. Ledo engano!
Tenho “pregado no deserto” a importância do VOTO, e não é de hoje, mas vejo que a grande maioria dos colegas, o ignora, e não conhecem sua importância na vida em sociedade de um país democrático, como o nosso se apresenta, e que essa é, no nosso caso, a arma de transformação mais poderosa que temos e que, como tenho dito, infelizmente não sabemos usar, até por certa ignorância sobre a mesma e o medo que nos impingiram em doutrinamentos nos quartéis, de como usá-lo, e fazer valer nossa vontade política.
Cumpre aqui fazer publicamente, um elogio ao colega Roberto Alves, esse incansável guerreiro que, tem envidado esforços diuturnamente, para informar e abrir corações e mentes de colegas, com suas consultorias e esclarecimentos aos colegas que apresentam suas mais diferentes dúvidas sobre assuntos em geral. Foi ele que, na última eleição para o Congresso, criou uma corrente no meio militar pedindo a cada colega que, mesmo morando em outro Estado da Federação, tendo parentes no Rio, SP, etc., pedisse a eles que conclamassem seus parentes distantes, amigos e colegas de farda a votarem em candidatos militares no seu domicílio. Ou seja: eu no Rio, pediria para meus parentes do RS, votarem num determinado candidato naquele Estado, e assim por diante. Brilhante essa ideia e que deve ser levada a cabo, no próximo pleito e em outros doravante. Ele mesmo, após conhecer a histórias de candidatos que lhe foram apresentadas e com ela(s) se afeiçoou, pedia, semanalmente: “votem no nosso candidato militar no RJ, SP, MG, etc”. Assim fez durante todo aquele pleito!
Importante dizer ainda que no assunto VOTO, tema desse artigo, mesmo que não gostemos e eu não gosto, os Petralhas, lá na década de 80, quando surgiram no cenário político nacional, hão de lembrar, que eles se organizaram e passaram a perseguir uma estruturação para a conquista do Poder, conscientizando seus adeptos de que unidos seriam fortes e passaram a construir suas bases, pelo VOTO, iniciando pela vereança, depois o executivo municipal, as Assembleias estaduais, depois o governo dos Estados, senadores e, por fim, o Poder Central, esse conquistado depois de quatro tentativas com o molusco barbudo, e hoje, ameaçam se perpetuarem no Planalto, se nada fizermos e, repito, a arma para defenestrá-los é o VOTO, essa arma que ainda não nos tiraram o nosso direito de USAR.
A caserna e seus comandantes sabem e sempre souberam da importância do VOTO como arma de luta, como instrumento de libertação, e que isso, de certa forma, e em suas visões estrábicas, representava perigo! Foi assim que, durante o regime militar, condicionou aos Clubes Militares, principalmente os dos graduados – esses militares que são a maioria -, a colocarem em seus estatutos, como condicionante para o chamado desconto em folha, das mensalidades dos associados, a não permissão de envolvimento com política ou com políticos, mesmo candidatos da classe, em suas dependências, sob pena de cancelar aquele desconto, o que manietou(amarrou) essas Entidades da nossa Classe, impedindo-as de qualquer ação ou manifestação de cunho político ou de apoio qualquer a candidatos, sufocando-os e aprisionando-os num toma lá da cá, vil e covarde que não cabe mais em pleno século 21.
Me veio à memória um diálogo que tive com amigos do RS, aqui no Rio, para mostrar a importância da politização e da consciência política na hora do VOTO. Os Petralhas na década de 90, se não estou enganado, comandaram, ininterruptamente, Porto Alegre, por dezesseis anos e transforamaram a capital gaúcha, num brinco, com perimetrais, orçamento participativo , transpostre de qualidade, etc, mas os portoalegrenses resolveram tirá-los do comando municipal, elegendo prefeito o pemedebista José, o que me fez questioná-los sobre a mudança radical e de comportamento dos eleitores, e a resposta foi simples e objetiva: “O Poder na mão de um grupo por muito tempo, é PERIGOSO”!
Lembrem: Um povo culto e politizado é insuscetível de ser manobrado!
O medo de perder de vez a interlocução com o governo, perdida que esta desde que lhes foi ceifado o cargo de ministro e passaram a ser estafetas de luxo de um paisano que Comanda a Defesa, o faz serem contra e trabalharem incisivamente para que uma bancada não se forme no Congresso, dificultando e até perseguindo colegas destemidos e que vêm esse caminho como o único capaz de mudar a situação atual de penúria, de salários aviltados e Forças sucateadas por uma política de destruição das mesmas, que marcha a passos largos e sem oposição daqueles que deviam e têm a obrigação legal e constitucional de por um basta nisso, como soe acontecer nas Unidades dos Afonsos e Santa Cruz/Rio.
Tenho que ressalta ainda, a importante campanha empreendida no MONTEDO no sentido de exortar colegas a transferirem seus títulos de eleitor e de familiares, para os domicílios eleitorais onde hoje residem para votarem em colegas candidatos, coisa que a maioria não faz preferindo justificar a ausência, tudo por preguiça de exercer a cidadania.
Por fim, aqueles que não me conhecem e desconhecem a minha LUTA incessante, desde 1986, pela formação de uma bancada militar no Congresso e me atacam de forma vil e covarde porque escondidos pelo anonimato, os exorto a conhecerem e verem quem realmente sou e porque, aqui fora, ainda insisto em defender a família militar, coisa que certamente, “eles”, nunca fizeram e não farão. Lembro ainda que fui do EB antes de ir para a FAB, totalizando mais de 20 anos de serviço, somados os dois períodos, até ser preso em 1986, lutando por direitos dos militares!
Repetindo e chamando a atenção sobre esse grupelho instalado no Poder Central, indo para doze anos e que pode chegar a dezesseis, pelo voto, e que tem um projeto de poder, e não político: “O Poder na mão de um, grupo por muito tempo, é PERIGOSO”!.
Quero deixar mais uma vez o meu apelo para que deixemos de lado as questiúnculas insanas e desagregadoras que permeiam a classe, desde muito tempo, para um engajamento com reunião e união de todos afim de construir a nossa bancada militar, usando como arma o poderosa VOTO, sem o que continuaremos a professar lamentos, “nos alojamentos das unidades”, como disse outro dia um colega. E ai, Inês é morta!.
QUEM NÃO TEM BANCADA NÃO TEM NADA!
SEM REPRESENTAÇÃO NÃO HÁ SOLUÇÃO!
Pensem nisso!
*Advogado criminalista e ex-Sargento da FAB

5 respostas

  1. Parabéns pelo excelente artigo.

    Basta conversar com os nossos companheiros de caserna, para ver o grau de alienação e desinteresse, bem como a divisão que existe entre oficiais e praças. Um não vota no outro. E nem no colega por inveja, dizendo com a sua mente perversa, que ele quer se dar bem.

    A metade ou mais não transfere o seu título e os dos seus dependentes. Prefere justificar o voto. Pega fila do mesmo jeito.

    Omissão, omissão, omissão …

    A maioria só enxerga os seus mesquinhos interesses pessoais, só quer se dar bem e reclamar dia e noite. Uns fingidores.

    Nunca seremos mais do que somos.

    Vida que segue …

  2. Se a politização dos militares interessasse às autoridades militares ela seria incentivada. Infelizmente NUNCA, nos meus 20 anos de caserna, vi NINGUÉM tocar no assunto nas milhares de reuniões das quais participei (e participo). Conversa-se, sim, muito sobre a politicagem interna para promoções, indicação para missões no exterior ou "bocas ricas" em gabinetes de Brasília. Mas sobre REPRESENTATIVIDADE, que é bom, nada. E sabe porquê? Simples! Se politizarmos a tropa, ou seja, a massa tida como "ignorante", ela vai adquirir tanto poder que as autoridades militares não perderão o controle sobre essa grande parcela de militares, sobra a "plebe rude", a mão-de-obra barata. E isso seria a derrocada da "hierarquia e disciplina".
    Não é por menos que existe essa cultura da marginalização do militar que se envolve com política. É o maior pavor dos generais.

    Se liguem.

  3. Se os Comandos têm medo da nossa politização, significa que este é seu ponto fraco. SUN TZU diz: Ataque a fraqueza, evite a força. Politizemo-nos.

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