Entrevista: General Arruda, comandante das Forças Especiais

GEN ARRUDA – COMANDO DE OPERAÇÕES ESPECIAIS – ENTREVISTA EXCLUSIVA
General-de-Brigada Júlio Cesar de Arruda, Comandante do Comando de Forças Especiais. Foto – DefesaNet
Uma obra de Ficção?
Os dois helicópteros H-60L Blackhawks, do 5º/8º GAV Grupo de Aviação, Esquadrão Pantera, voam no breu da noite rente ao solo. A técnica usada é chamada NOE, em um bom português é com o “Nariz no Chão”. Os pilotos usam óculos de visão noturna (NVGs).
A bordo dois grupos de Forças Especiais (FE), que serão infiltrados atrás das linhas inimigas e o alvo a destruição de centro de comando do inimigo.
Mais acima o VANT RQ-450 (Hermes 450), do 1°/12° GAV, Esquadrão Horus, monitora a área de operações.
O desembarque dos FEs e a entrada em ação é rápido e pega as forças opositoras de surpresa. Os FEs colocam dispositivos nos alvos para marcar ou “iluminar “os alvos para as munições de precisão guiadas a laser.
Soldado Força Especial usando o “Shemagh” -lenço comum aos FE – é muito prático porque protege do vento frio, de queimaduras de sol, serve de toalha, de tipóia e de atadura para ferimento, etc. Foto – Agência FAB
Dado o sinal aeronaves A-29 e A-1 lançam a distância segura e fora do alcance dos Sistemas Antiaéreos, bombas guiadas a laser.
As explosões acordam o inimigo, que aciona um grupo de blindados em direção ao local do ataque. Monitorados pelo RQ-450 as aeronaves, que estavam em apoio atacam a coluna e dão cobertura para a exfiltração das Forças Especiais.
O Centro de Comando das Forças Especiais localizado a dois mil quilômetros (cercanias de Goiânia – GO), acompanhou e deu instruções para a operação em tempo real, com linhas de comunição seguras (criptografadas).
No controle o Comandante de Operações Especiais, do Exército Brasileiro o General-de-Brigada. Júlio Cesar de Arruda. Um roteiro de ficção? O desenvolvimento da ação descrita acima ocorreu na Operação Laçador, realizada na área do Comando Militar do Sul (CMS), em Setembro de 2013.
DefesaNet teve a oportunidade de entrevistar o General-de-Brigada Júlio Cesar de Arruda, Comandante do Comando de Operações Especiais. É uma rara oportunidade que o líder dos “Guerreiros das Sombras”, no Brasil, os Forças Especiais (FEs), nos atualize sobre os avanços recentes.
O Comando de Operações Especiais, é órgão responsável pela coordenação do eixo Prevenção e Combate ao Terrorismo e Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear nos Grandes Eventos (Copa 2014 e Olimpíadas Rio 2016).
Sob o comando do Gen Arruda atuarão: Forças de Operações Especiais das Forças Armadas, das polícias estaduais civis e militares, da Polícia Federal e membros da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
O Comando de Operações Especiais, sediado na cidade de Goiania (GO), que equivale a uma Brigada, tem sob sua subordinação diversas organizações militares (OM). Uma dessas OM é o Centro de Intrução de Operações Especiais (C I Op Esp), situado em Niterói (RJ).
DefesaNet: As Forças Especiais, além dos destaques que sempre têm, saíram da discrição, da sombra usual das suas operações. Na Operação Laçador em vários momentos foi dado destaque público às ações dos FEs, isso é uma fato inédito, e gostaríamos que o senhor falasse sobre como o Comando de Operações Especiais viu essa participação na Operação Laçador?
General-de-Brigada Júlio Cesar de Arruda: Isso é uma tendência mundial. Tendência moderna de que as Operações Especiais apareçam cada vez mais. No caso da Operação Laçador, ela foi uma Força Componente no mesmo nível da Força Terrestre, da Força Naval e da Força Aérea. O comandante do Teatro de Operações(TO), tem a Força Naval Componente, a Força Terrestre Componente, a Força Aérea Componente e no mesmo nível a Força Conjunta de Operações Especiais e o Comando Logístico.
FEs preparam-se para a ação. Observa a jaqueta em padrão
Então isso já foi um grande ganho. As Operações Especiais, desde o início, sempre atuaram em conjunto na sua formação: a Marinha – Grupamento de Mergulhadores de Combate – que é a vocação mais para o mar, o Batalhão de Operações Especiais, os Comandos Anfíbios. Nós nos conhecemos mutuamente. A cultura de trabalhar em conjunto já está arraigada, já há bastante tempo. Sempre atuamos em conjunto. Hora o Exército comanda por que tem um oficial-general que é do Comando de Operações Especiais, uma grande unidade. Hora a Marinha designa um almirante também para comandante.
Este comando único varia entre Exército e Marinha. A Força Aérea tem um esquadrão de operações especiais, mais conhecido como PARASAR, que era no Rio de Janeiro e agora se mudou para Campo Grande (MS), também sempre atuou junto conosco. O Comando de Operações Especiais, quando foi para Goiânia, em 2004, a Brigada que agora virou Comando, além de ter seu efetivo aumentado, criou novas unidades, que estão participando de todas as operações, quer seja exercícios ou operações reais, no Brasil e no exterior.
O que temos observado nos conflitos modernos é que o apoio das Operações Especiais para as tropas chamadas de “convencionais” tem aumentado cada vez mais. A relevância aparece.
O helicóptero H-60L Blackhawk, do 5º/8º GAV Grupo de Aviação, Esquadrão Pantera, prepara-se para decolar no voo noturno em missão de infiltração de FEs. Foto Agência FAB
DefesaNet: No caso da Operação Laçador, houve menção do Comando Conjunto de Forças Especiais. A interação que é mencionada entre Exército, Marinha e a Força Aérea, então agora ela está subordinada a uma operação conjunta como se tivesse nas forças convencionais.
General Arruda: Como é que você atua? Normalmente nós atuamos em conjunto, quando falo em conjunto é a força em conjunto ou Força Tarefa Conjunta. No caso, na Operação Laçador foi formada uma Força Tarefa de Operações Especiais. Você reúne essas FEs, cada uma com suas capacidades. Então, quando as juntamos, uma complementa a outra. Você pode atuar no mar, na terra, fazer infiltrações em vários ambientes, ou seja, o número de missões que você pode executar aumenta.
A atuação das Operações Especiais ocorre durante toda a campanha, todas as fases. Tem determinada Força que atua mais em uma fase, nós não. Até antes do início do conflito, nós estamos atuando. Realizamos o que chamamos de Ações Diretas, normalmente conhecidas como Ações de Comandos, Ações de Choque, aquele “golpe de mão”, como era chamado antigamente. Você vai lá e executa a ação num alvo estratégico.
Sempre que a missão exigir, como é uma tropa “muito nobre”, tem que ser em um alvo compensador, um alvo estratégico. A atuação que fazemos nas ações diretas como nosso destacamento de Ação de Comando, como de elementos dos Comandos Anfíbios ou Mergulhadores de Combate (GRUMEC) é em alvos que vão causar um dano para o inimigo e aquele dano vai ser significativo. Isso é um tipo de ação.
Outro tipo, Reconhecimento Especial, a nossa área de atuação é dentro do território inimigo. Você infiltra pessoas das nossas tropas dentro do território inimigo e ai ele passa a fazer observações e passa a relatar o que vê. Então aqueles dados importantes, por exemplo, a onde está se deslocando a principal tropa do inimigo. Você tem condições de infiltrar alguém lá e ele tem condições de observar e vai reportar. Então é o que nós denominamos Operações de Reconhecimento Especiais dentro do território inimigo.
DefesaNet: Podemos dizer que dentro da Operação Laçador foi um grande exercício e aprimoramento para 2014 para os grandes eventos?
General Arruda: Todos os exercícios são. A Operação Laçador por ser um exercício consagrado, há um grande envolvimento dessas tropas. Aprendemos muito alí. Além disso, também, estamos testamos novas capacidades, por exemplo, de Comando de Controle (C2).
Eu coordenei a operação lá de Goiânia, Nós temos o nosso Centro de Comando e Controle (C2), utilizando os meios modernos de tecnologia da informação, comunicações seguras e confiáveis (criptografadas). Nós temos condições de influir numa ação de um destacamento lá em Rosário do Sul (RS), por exemplo.
Era uma infiltração, eles foram fazer uma ação. O que aconteceu: eu estava observando a ação lá em Brasília, pois estava participando de um seminário, assisti ao vivo e a cores e podia interferir. Foi assistido daqui de Porto Alegre (RS), de Brasília DF e Goiânia (GO). Numa transmissão ao vivo utilizando o que temos de mais moderno hoje que é a aeronave remotamente pilotada – VANT, e também nós temos um sistemas empregam visão termal, mesmo sendo noturno, totalmente escuro (sem a luz de estrelas) ou com mau tempo, você observa toda a ação.
DefesaNet: Percebemos que a tropa está bem equipada com o que há de mais moderno.
General Arruda: Temos as armas mais modernas (ver nota abaixo), estamos bem equipados e na parte de defesa química, também, que é uma parte que a gente está atuando. Defesa química, radiológica e nuclear, o que há de mais moderno no mundo nós temos, foi adquirido, por causa dos grandes eventos e é um legado que está ai pra gente (Nota o entrevista refere-se ao recém formado 1º Batalhão de Defesa Química, Biológica, Radiológica e Nuclear – 1º Btl DQBRN. Até então era uma Companhia).
DefesaNet: Está em uso a jaqueta de padrão americano, é por causa do frio?
General Arruda: Ela é mais leve, tem mais mobilidade.
DefesaNet: Já é padrão?
General Arruda: Para nós é padrão!
Nota DefesaNet 
A resposta acima do Gen Arruda indica bem a postura dos FEs, não só brasileiros, mas do mundo todo – “Buscam o melhor equipamento e empregam a tática que creem seja a mais apropriada, independente do Padrão da Força dita Convencional.”
1-. A jaqueta é americana, a padronagem da camuflagem é a WOODLAND utilizada por muitas FFAA do mundo, entre elas a Argentina e a Paraguaia. Esta jaqueta em especial é uma ECWCS Woodland, basicamente uma jaqueta de Goretex com forro térmico destacável. que é impermeável e protege do frio e do vento, sendo muito leve e prática.
2. O “Shemagh” (lenço comum aos FE) é muito prático porque protege do vento frio, de queimaduras de sol, serve de toalha, de tipóia e de atadura para ferimento, etc..
3. O NVG (Night Vision Gogle) que é um AN/PVS-14 monocular
4. A MINIMI MK.46 Mod.0 virou padrão nos Comandos,em todo o mundo.
5. As miras EO Tech são as preferidas no Brasil, ao contrário dos americanos que preferem as Aimpoint. É a mira padrão da PF também.
DEFESANET/montedo.com

7 respostas

  1. Pra esse General eu tiro o chapéu, comandante na ESAEx em 2009, sempre abria as pistas , mostrando o que deve ser feito pelo Exemplo. Líder e não chefe, pois chefe qualquer um pode ser.

  2. COpEsp???? Acho que não, Obrigado. Prefiro ficar na convencional com a minha linda, desengonçada e enorme japona convencional e ter uma vida normal.

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