Oficiais-generais mais jovens

Roberto Lopes*
Exército uruguaio já tem generais de 51 anos e 52 anos de idade, algo comum nas Forças Armadas americanas, que prestigiam oficiais combatentes com maior resistência física.
O aumento das operações conjuntas das Forças Armadas na Amazônia e na faixa de fronteiras brasileira e, sobretudo, o crescente empenho de forças nacionais em missões expedicionárias a serviço das Nações Unidas, recomendam a indicação de oficiais mais jovens – de vigor físico naturalmente maior – para assumirem as responsabilidades do comando.
Mas essa constatação colide com a realidade da carreira das Armas no Brasil.
Temos oficiais-generais numa faixa etária mais avançada do que seria aconselhável – e alguns com problemas significativos de manutenção da forma.
Várias décadas atrás, o Exército brasileiro recorreu à equação que fixou a permanência de um oficial no generalato em, no máximo, 12 anos (quatro para cada uma das três patentes de general), com passagem compulsória do militar para a reserva aos 65 anos.
Na Força Terrestre – que possui o número mais elevado de oficiais-generais (149) – o coronel ascende à patente de general-de-brigada, normalmente, aos 53 anos (completos ou incompletos).
Seria mais indicado que tanto no Exército como na tropa de Fuzileiros Navais, pudéssemos ter combatentes de duas estrelas (generais-de-brigada e contra-almirantes) com 50 anos de idade ou até um pouco menos do que isso.
Uma classificação das faixas etárias para atividade física e esportiva (classificação WINTER/1977) esclarece que, aos 46 anos – idade em que um oficial do Exército brasileiro normalmente é promovido ao posto de coronel –, já é clara a diminuição do desempenho do corpo, principalmente no aspecto coordenação. Itens como velocidade e resistência também mostram depauperação. A força ainda se preserva, mas apenas no indivíduo treinado é possível observar certa conservação dos valores essenciais ao esforço físico.
A Medicina Ortomolecular não deixa margem a dúvidas: aos 50 anos os músculos que movimentam os pulmões do ser humano só permitem um volume de inspiração da ordem de 4,2 litros de ar (contra 5,6 litros aos 30 anos de idade), e a massa muscular das mãos suportam apenas 34 quilos de peso (contra 37 quilos aos 30 anos de idade). O homem de 50 tem uma perda de capacidade auditiva da ordem de 20% em relação ao de 30, e, em situação de repouso, seu coração não bombeia mais do que três litros de sangue por minuto pelo organismo – enquanto o coração de um homem sadio, de 30 anos de idade, espalha, a cada 60 segundos, 3,4 litros de sangue pelo corpo.
A antecipação do auge da carreira militar poderia ser facilmente obtida pela redução das etapas do oficialato nas patentes de capitão e de coronel – as mais longas da vida na caserna. E o aceleramento das promoções também produziria outro efeito benéfico: o acesso do oficial, com mais rapidez, aos patamares mais bem remunerados da hierarquia.
A opção de formar oficiais-generais com mais celeridade, aproveitando melhor o vigor físico dessas lideranças, já não é novidade em vários exércitos do mundo. A carreira do almirante americano Sam Locklear é exemplo disso.
Oficial-general de quatro estrelas – penúltimo grau da oficialidade naval em seu país –, Samuel J. Locklear III, chefe do Comando dos Estados Unidos no Pacífico, sediado no Havaí (uma das mais importantes estruturas de combate americana), completou, em outubro passado, o seu 59º aniversário.
Enquanto Sam Locklear alcançou a nomeação para a chefia das forças estadunidenses no Oceano Pacífico após 36 anos de formado na Academia Naval de Anápolis, no Brasil o novo chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Carlos Augusto de Souza, precisou de 40 para atingir a patente de almirante-de-esquadra, a mais alta de sua profissão. Na Marinha brasileira um oficial com 36 anos de formado seria, quando muito, vice-almirante.
O caso do General aviador de quatro estrelas Gilmary Michael Mike Hostage, de 58 anos, atual chefe do Comando de Combate da Força Aérea americana é ainda mais impressionante.
Declarado 2º Tenente a 7 de setembro de 1977, ele alcançou o generalato no primeiro dia de 2002, aos 47 anos incompletos, e a quarta estrela em setembro de 2011, aos 56, após completar 34 anos de serviço. Na Força Aérea Brasileira, um oficial com 34 anos de carreira não seria mais do que brigadeiro-do-ar antigo ou major-brigadeiro recém-promovido.
No US Marine Corps, o famoso Corpo de Fuzileiros dos EUA, um oficial combatente também pode alcançar a patente inicial do generalato – brigadeiro-general, de uma estrela – aos 46 ou 47 anos de idade. Em situações extraordinárias, criadas por promoções por extremo merecimento, até antes disso.
Na França, generais e almirantes chegam ao comando de forças operacionais importantes no patamar dos 50 anos, e na Espanha, uma equipe de nove parlamentares instalada mês passado no Ministério da Defesa – em um órgão intitulado “Observatório da Vida Militar” – vai analisar a conveniência de suas Forças Armadas conferirem mais peso ao critério da resistência física para as promoções ao generalato, bem como avaliar a necessidade de uma reforma na carreira, objetivando a incorporação de generais combatentes mais bem dispostos.
Até o pequeno Exército do Uruguai (15.000 homens), onde o militar costuma (ou costumava) alcançar o generalato após ter completado 54 anos – nele permanecendo pelo prazo máximo de oito anos –, decidiu experimentar um arejamento do seu grupo de 16 generais.
Neste 1º de fevereiro de 2014, a corporação uruguaia implementou uma renovação qualificada pelo governo de “histórica”: seis coronéis com idades entre 51 e 54 anos (dois de Cavalaria, dois de Engenharia, um de Infantaria e um de Comunicações) estão sendo promovidos a general.
Na verdade, a própria escolha feita pelo presidente uruguaio Pepe Mujica (ainda no fim do ano passado) do oficial que comandará o Exército a partir deste mês de fevereiro já sinalizava para a tendência da corporação pelo rejuvenescimento dos seus quadros de mando.
Juan A. Villagrán, um militar da Cavalaria, nasceu a 23 de fevereiro de 1954, e em 2007, aos 53 anos incompletos, foi nomeado general. Ex-Adido Militar em Madri, ele chefiou o Departamento de Inteligência Nacional e, mais recentemente, comandava a 3ª Divisão do Exército. Agora, aos 59 anos, ocupará o cargo máximo de sua Instituição Militar.
No Brasil, aos 59 anos, um militar que alcançou o generalato não passa de general-de-divisão (e assim mesmo, relativamente moderno no posto).
*Jornalista especializado em assuntos militares. Em 2000 graduou-se em Gestão e Planejamento de Defesa
no Colégio de Estudos de Defesa Hemisférica da Universidade de Defesa Nacional dos Estados Unidos, em Washington (Fort Leslie F. McNair).
É também pesquisador associado ao Laboratório de Estudos da Etnicidade, Racismo e Discriminação da Universidade de São Paulo.
Autor de vários livros, em maio de 2001 publicou a monografia “Oportunidade para Civis na Condução dos Assuntos da Defesa Nacional: o Caso do Brasil”.
DEFESA NET/montedo.com

19 respostas

  1. Excelente! Uma visão moderna da atuação militar. Diferente da doutrina adotada pelas FA desde a época de Caxias. O grande desafio das FA é deixar de ser um dinossauro apático e lento e se adaptar as novas tecnologias, principalmente no que se refere à resposta às novas mudanças tecnológicas e sociais. Militares com competência pra responder de imediato as determinações do comando com as novas técnicas de comunicações, e, acima de tudo, mais aproximação dos generais com o comandante do GC. Vide Gen Santos Cruz. Exemplo para qualquer combatente.

  2. Caramba ! Realmente isso é um GRANDE PROBLEMA a ser resolvido nas Forças Armadas! General velho e barrigudo ou General novo ?
    Num Exército não-operacional e dividido por castas sem meritocracia operacional – o mérito é definido em concursos público – na prática não faz diferença a idade de um General.
    As Forças Armadas brasileiras se assemelham muito com um regime monárquico, os de 'cima' estão lá somente para criar e manter seus privilégios em relação aos 'de baixo'. Num sistema que diferencia a qualidade de comida servida aos Oficiais (nobres) e servida aos Praças (plebeus) ainda terá que mudar muito para conseguir uma coesão de mentes e esforços dos seus integrantes em prol do interesse comum, qual seja, a defesa da nação.
    Vejam que o sistema monárquico não se manifesta somente na discriminação de confortos e privilégios, mas também simbolicamente através do singelo "BASTÃO DE COMANDO" ostentado pelos Generais do Exército Brasileiro, bastão este que remete à ideia de um CETRO REAL (símbolo de realeza) ou de uma VARA DE AÇOITE (utilizada para bater em animais) com a qual, ironicamente, se comanda homens.

    Sgt Sandino

  3. O camaradinha de 11 de fevereiro de 2014 01:09 não está preocupado porque com toda certeza não tem nenhum horizonte à vista. provavelmente sabe que jamais sairá do lugar onde se enterrou e por isso deve viver apenas empurrando seu futuro com a barriga, sem perspectiva alguma.
    Um conselho pra você: Joga na megasena!

  4. Porque não implanta a figura dos "sergeant-major", assim como nas grande Democracias (US) por exemplo. Vivemos em um Exercito ainda Colonial. Qual é a moral que se têm para manter o sistema de "Conceito", apenas para sacanear e repreender, a fim de manterem seus privilégios!

  5. O Eminente Estudioso sabe quantas Generais têm o Brasil e melhor fez uma estatística proporcional em relação ao tamanho dos Exércitos Estudados! Tendenciosa essa reportagem Hein!

  6. O que digamos da carreira das praças, aumentou-se o interstício de todas as graduações. Militar 3º Sgt com mais de trinta e tendo que morder jaula com aspirantes e recrutas de 18, 19 anos. Isso ninguém fala!!!!!! mínimo de 8 anos para sair segundo mais 8 anos para sair primeiro, isso é covardia, isso é o cúmulo do absurdo aí vem me falar de promoções de Generais que são cargos políticos!!!!!!!!!!!!! Vamos pensar no todo, em todos os militares sem olhar distinção, afinal não é a mesma farda? o mesmo sangue?

  7. Parabéns ao jornalista. Saiba que muitos nas FFAA pensam como você. Entretanto, o poder de decisão não nos cabe. Este que vos escreve, inclusive, já disse isso para alguns Cmt que tive. Meu comentário sincero é de que as autoridades competentes sabem sobre o que foi escrito… mas mudar para quê? Um abraço a todos. TC REALISTA.

  8. General mais jovem? No Brasil só vai servir pra aumentar a longevidade deles nos cargos no governo, depois que vão pra reserva. Passam a carreira toda pensando nisso!

  9. Que absurdo….generais mais jovens que nada…As FFAA brasileiras é que estão na vanguarda….o negócio é "valorizar" a experiência dos mais velhos, a terceira e quarta idade, é possuir cada vez mais cargos de PTTC, os conselhos de "anciões", sábios, para que ter oficiais mais jovens no comando, para fazer mudanças bruscas, talvez eles não saberão respeitar as "tradições", o "legado", acho até que os oficiais generais poderiam ficar eternamente no comando, inclusive sendo "mumificados" como os faraós do egito, como símbolo de eterna legado entre a aliança, sacerdócio e amor às tradições, sendo criado um mausoléu para que seu corpo preservado sirva de inspiração e motivação a persistência dos militares que ainda sobrevirerem e insistirem em continuar na ativa, na esperança de um dia alcançar o tão almejado generalato.
    Que o digam nossos septuagenários…

  10. General sai da ativa e depois ainda fica vampirando até os 70 anos de idade, inclusive em cargos de chefia onde deveriam figurar oficias da ativa.
    Até os nossos Comandantes de Força são septuagenários, quando mesmo nos cargos de atribuições meramente intelectuais os são obrigados a se aposentarem aos 70 anos.

  11. Excelentes comentários anteriores, demonstram um certo consenso sobre o assunto. Em um exercito onde um general beira os setenta anos; uma quantidade imensa de vampiros; QCO que cumpre vinte anos de serviço e pede reserva, sem ter o que fazer volta como vampiro; com material e instalações que também estão vampirando; coronel comandante de esquadra etc, unidades completamente desnecessárias, e homens despreparados, pergunto; a quem interessa uma FFAA assim? Como os vampiros dos filmes de terror, só sobrevivem sugando o sangue do mais novos…

  12. Pra mim general bom, é general de pijama! Só servem pra atrapalhar a vida das praças com movimentações descompassadas da realidade e legado que interessam a realeza… PARABÉNS SGT SANDINO SUAS PALAVRAS foram na medida certa, brilhante!!! Fora os generais carreristas!!!

  13. "Colega" das 11:34, meu horizonte é muito melhor do que o teu, pois vou ganhar em início de carreira mais do que um Oficial Geeneral, cargo pelo qual o senhor vai engolir muito sapo, e esperar uns 40 anos HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAH.
    Juquinha

  14. "Colega" de 12 de fevereiro de 2014 14:34 – o fator de vc querer passar num concurso pra procurador da república ou similar, não significa que vc vai conseguir. Vc fala como se tivesse certo sua aprovação. QUE PRESUNÇOSO, SEU FALASTRÃO – SALVE, SALVE NÓS GENERAIS, A REALEZA VERDE-OLIVA.

  15. Sr. Roberto Lopes, o senhor deveria se informar melhor um pouco sobre a FAB, onde o Ten. Brig. Ar Raul Botelho , atual Chefe do Estado Maior da Aeronáutica e Negro, tem 59 Anos de Idade e foi promovido a:
    – Brigadeiro do Ar aos 49 Anos de Idade
    – Major Brigadeiro do Ar aos 53 Anos de Idade
    – Tenente Brigadeiro do Ar aos 57 Anos de Idade
    Igualmente o Tenente Brig do Ar Carlos Vuick de Aquino, atual Diretor do DECEA, o Tenente Brigadeiro do Ar Egito, atual Diretor do DCTA e o Tenente Brigadeiro do Ar Cury têm 59 Anos de Idade.

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