Servidores civis das Forças Armadas denunciam assédio moral

Voz às vítimas do assédio
Apesar de ainda temerem represália, servidores civis de unidades militares passaram a denunciar

HENRIQUE MORAES

Rio – De três a cinco servidores civis das Forças Armadas denunciam por mês desde junho casos de assédio moral nos quartéis do país. O número parece baixo, mas é significativo quando se compara com os últimos anos, quando quase nenhum caso vinha à tona. Os dados são do Instituto Ser de Direitos Humanos, que atribui a mudança de comportamento aos recentes protestos populares que resultaram em imensas manifestações nas capitais.
Presidente do instituto, o ex-sargento do Exército e militante gay Fernando Alcântara avalia que o sentimento de indignação da população brasileira com a corrupção e impunidade tem encorajado vítimas de assédio moral a denunciar. “A grande maioria dos servidores civis que sofrem violência moral de militares aguenta calada por medo de represália. Contudo, recentemente, com os protestos nas ruas, temos percebido que as pessoas estão tomando coragem de denunciar”, analisa Alcântara.
ELEVADOR SÓ PARA MILITAR
Secretária geral do Sindicato dos Servidores Civis do Ministério da Defesa (Sinfa-RJ), Arlene Carvalho diz que são os mais diversos os tipos de assédio moral sofridos nas três Forças. Ela cita um caso que vem ocorrendo há dois anos no Hospital Central do Exército, em Benfica, onde servidores do pavilhão do comando são proibidos de usar o elevador do prédio de três andares. A secretária do Sinfa diz que somente o diretor da unidade e outros militares podem circular no elevador.
“Há vários servidores de idade avançada e uns com artrose que sofrem para subir e descer de escada. Isto é assédio moral. O problema é que ninguém ainda formalizou a denúncia com medo de perseguição”, conta.
O Comando Militar do Leste (CML) negou, por meio de nota oficial, que haja a proibição. Informou que o HCE está passando por obras de reestruturação e que o elevador em questão está com defeito e será substituído.
CORTE DE TELEFONE
Um servidor civil da Marinha lotado no 1º Distrito Naval, na Praça Mauá, conta que há cerca de um mês chegou para trabalhar e encontrou seu telefone fixo de sua mesa mudo. Ele, que pediu para não ser identificado, disse que descobriu pouco tempo depois que sua linha tinha sido cedida, a pedido de seu superior, a um militar recém lotado na unidade. “O que mais me indignou foi a falta de respeito comigo. Em nenhum momento fui comunicado de decisão. Depois de muito reclamar puseram um ramal do telefone de minha colega de setor para dividirmos”, diz o servidor.
Em nota, a Marinha do Brasil afirmou que estava impedida de se posicionar alegando falta de dados concretos.
MEDO
O Sinfa-RJ recebe denuncias de assédio moral contra servidores civis praticado por militares. Entretanto, a cada 10 reclamações apenas uma é formalizada. “O número de assédio moral é alto, mas não dá para quantificar. O medo de denunciar ainda atrapalha o trabalho. A maioria dos relatos é anônima e quando o servidor se identifica, vindo inclusive pessoalmente ao sindicato, desiste assim que descobre que tem que formalizar a queixa”, conta a sindicalista da entidade.
Atendimento negado no hospital do Galeão
No Hospital de Força Aérea do Galeão (HFAG), um servidor civil da Base Aérea de Santa Cruz (BASC), que pediu anonimato, afirma ter tido o atendimento negado por uma major médica do hospital, alegando que ele não tinha direito. Afirmação que ele contesta. Diz que o fato ocorreu há cerca de um mês quando quebrou a perna num acidente em sua casa. “Fui obrigado a peregrinar em vários hospitais públicos até ser atendido. O revoltante é que passei por tudo isso tendo direito ao Hospital do Galeão”, reclama .
A Força Aérea Brasileira (FAB) informou, através de nota, que o Hospital do Galeão presta assistência a todo cidadão, seja militar, civil, servidor ou não da Aeronáutica que procure a instituição em caráter de emergência. Depois do atendimento básico, pacientes sem vínculo com a FAB e os servidores civis são encaminhados para a rede pública ou particular de saúde. Sobre o caso em questão, a Força Aérea alega que para dar uma resposta precisaria do nome do paciente e a data do ocorrido para investigar o caso.
(Colaborou: Roberto Alves, o ‘Chapa Quente’)
O DIA/montedo.com

17 respostas

  1. Isso é um problema sério e crônico no EB. Desde aluno passamos por várias situações que podem ser caracterizados como assédio moral, em situações do dia a dia, não em exercício ou operações que teoricamente o tratamento mais rude pode ter aquela conotação de imitação do combate. Muitos militares não sabem lidar com as pessoas, não tem tato, não tem educação para se relacionar. Com mais de 20 anos de tropa já presenciou inúmeros casos de assédio moral, que ao foram exclusivos de oficias para praças, já soube de diversos casos de cabos como principais algozes dos soldados, casos de ofíciais para com outros oficiais. Eu mesmo, sofri muito com assédio moral em minha última OM. O ambiente da OM era tão ruim que comecei a desenvolver vários problemas psicológicos como transtornos de ansiedade, estresse e desmotivacao. Dei graças a Deus que consegui ser transferido de lá.

  2. Sinceramente eu não sei pra que existem esses servidores civis, o exército pode muito bem se virar sem civis, a grande maioria das unidades que passei não tinham servidores civis. Acho que o exército deveria acabar aos poucos com isso.Um problema a menos.

  3. O péssimo atendimento recebido ou dispensado nas diversas instituições/ repartições / OM não são ocasionados exclusivamente por militares. Servidores civis em condições de igualdade destratam quase que indiscriminadamente militares e outros civis. E privilegiam outros, prevaricando logicamente. O problema é a falta de educação, mal que atinge pessoas, independente de serem civis ou militares. Claro que quando o agente ativo da agressão é o militar, o ato em si se reveste de maior projeção. Mas para lembrar, a lei prevê tanto abuso de autoridade quanto desrespeito a funcionário público no desempenho da função, seja civil ou militar. E mais um dado que não vai entrar nas estatísticas e nem nos noticiários jornalísticos, militares nunca entram dão queixas por maus tratos ou atendimento inadequado por motivos óbvios. Sargento Roberto.

  4. Só começaram a denunciar agora???

    Se eu como militar, que como na mão do RDE, já denunciei várias vezes, imaginem se eu fosse civil…

    E já disse por aqui, basta! Comigo agora é tolerância zero: pisou no meu calo? Processo! Simples assim.

  5. Amigos, aprendam, a justiça comum está ávida por fazer-se prevalecer. Deve-se adotar a tolerância zero, porque infelizmente muitos militares(chefes,e cmts principalmente…) têm seu ego na extratosfera, e acham que o cabresto e o chicote do conceito, impropérios e perseguições são indispensáveis para manter a hierarquia e disciplina, utilizam a lealdade e camaradagem dos juramentos de escola de formação somente com militares mais antigos (que os avaliam….). Tolerância ZERO, ação judicial nos "aristocratas" de "sangue azul" que não veêm o ser humano, o pai/mãe de família por trás da farda, e humiliam, perseguem, menosprezam, pensam que conhecimento, competência, necessidades familiares e pessoais são hierarquizadas. Pau neles.
    Selva.

  6. Ao anônimo acima que acha que o melhor é se livrar dos servidores civis, é o mesmo que tirar o sofá da sala no qual foi traído. O problema continuará dentro dos quarteis, hospitais, policlínicas e órgãos federais que sub empregam militares. Alguns por má fé, outros por não ter o mínimo conhecimento do Direito Brasileiro, cometem e deixam que outros também o façam, os maiores abusos e injustiças com seus subordinados, inclusive o muito comum assédio moral. Tudo isso ocorre as barbas de uma JM que só se preocupa em se manter e também seus privilégios, com o soldado que falta mais de sete dias, e outros casos sem a mínima importância, chamados crimes militares, completamente dissonantes com o Estado Democrático de Direito e o tempo de paz no qual vivemos. Vejo assédio moral todos os dias de parte, geralmente, de incompetentes, e, não me venham vocês com aquela história: Não tá gostando vai embora, é o mesmo que dizer: Não gosta de mortes, roubos etc, vai embora da cidade. Outro abuso.

  7. Visitem um CM, perguntem aos militares que servem nessas OM qual a conduta dos FC, principalmente os professores, os militares cortam um dobrado com esse pessoal, cheios de direitos, mas com pouquíssimas obrigações e invariavelmente os comandantes não se metem com essa turma.

  8. Pessoal, o assedio existe e deve ser coibido sim. Acontece infelizmente não só no meio militar, mas também no meio civil, sendo, por tanto, um problema de educação e não de formação profissional. Temos que analisar o que esta sendo dito na reportagem, quem esta dizendo e porquê esta dizendo. No caso do HFAG, não ficou claro se o funcionário civil da FAB é também dependente de militar. Se é dependente, deveria ser atendido. (não me parece o caso).Porém se for apenas funcionário civil, ele não tem direito a usar nossos Hospitais, pois o caso descrito na reportagem não era de emergência. Lembro que todos nos descontamos um valor considerável por mês, apenas para esse fim. Além, é claro de recolher nossos impostos para financiar o SUS. Lembro ainda que existem algumas legislações que regem nossos fundos de saúde. Essas legislações restringem o uso dos nossos Hospitais apenas aos militares e seus dependentes, nos cobrando por isso. Cito o DECRETO Nº 92.512, DE 2 DE ABRIL DE 1986.
    Procurei a definição de Assedio Moral e trago a seguinte: ”É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções. ”
    Sobre o corte de telefone do servidor do 1º DN, não entendi que se tratou de uma situação humilhante nem constrangedora, se aconteceu da forma que foi descrito na reportagem, pode se dizer no máximo que foi falta de educação e nunca assedio moral. Já servi em uma unidade que so existia um telefone que fazia ligação externa, todos os outros eram ramais. Até o telefone do comandante era ramal. E aqueles que precisassem fazer ligações a serviço, tinham que levantar, ir até a sala onde ficava o referido telefone para fazer a ligação.
    Por fim, Há o caso do HCE. Já fui ao HCE algumas vezes e sempre usei os elevadores para acessar os andares do Pavilhão de Internação. Nunca tive problema com isso. Não sei sobre o acesso ao Pavilhão de Comando.
    Achei a reportagem sem conteúdo e tendenciosa. O assedio moral existe no meio militar e deve ser combatido, pois podemos ser vitimas desse mal amanhã.
    Temos que entender o que é o assedio e o que é apenas divergência de opinião.

  9. GOSTARIA DE SABER SE OS HOSPITAIS DA AERONÁUTICA, MARINHA , EXERCITO SÓ ATENDEM Emergência??? POSSO PEDIR UM TRATAMENTO ODONTOLÓGICO, FISIOTERAPIA OU OUTROS SEM PRECISAR PAGAR??? NUM TERMO GERAL SE POSSO SOLICITAR ATENDIMENTO SENDO UM CIVIL SEM QUALQUER ÔNUS OU SE ESTES HOSPITAIS SÃO APENAS PARA MILITARES E SEUS DEPENDENTES????
    OBRIGADO.

  10. Ao anônimo das 21:15
    Os Servidores Civis também pagam um valor considerável, que é descontado no contracheque, a título de Assistência Médica. Possuem um cartão do PASS e são obrigados a "serem atendidos" pelo Fusex.

  11. O assédio moral acontece tanto contra civis como para os militares. A questão de ser recorrente, é, e é feita por diferentes militares a civis, como também a outros militares. Considero perigoso o que foi dito na questão que os militares cortam um dobrado com os civis. Em todos os lugares há pessoas boas e comprometidas com o também os descomprometidos, sejam civis ou militares. O que não pode ocorrer é que os demais sofram assédio moral, perseguições, desrespeitos.

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