General Adriano: ‘Fizemos no Alemão o que não conseguiram fazer no Iraque’

‘Fizemos no Alemão o que não conseguiram fazer no Iraque’
General Adriano Pereira Júnior revela como comandou uma tropa de 1,6 mil homens na área mais bem armada pelo tráfico do Rio

CHRISTINA NASCIMENTO
Foto: João Laet/ Agência O Dia
Rio – Há um ano e meio, o general Adriano Pereira Júnior, 64 anos, assumia a maior operação de risco da sua carreira: comandar uma tropa de 1,6 mil homens na área mais bem armada pelo tráfico do Rio. “A gente não sabia como iria funcionar direito”, confessa, sem cerimônia. Os motivos estavam atrelados a um histórico pesado: por anos, os complexos da Penha e do Alemão foram inacessíveis às forças policiais.
Os bastidores revelam que, em uma semana, o Exército rastreou um espaço praticamente desconhecido para a Segurança Pública: “Não tínhamos o mapa de onde eram as áreas problemas nem de quem ainda estava lá dentro…”. A atuação despertou a curiosidade dos exércitos dos EUA, Alemanha e Chile. No espaço conflagrado, a farda, em alguns momentos, virou uma espécie de divã: “Um pai me contou, chorando, que teve que entregar filha de 14 anos para traficante passar a noite”.
DIA: Tem alguma estratégia diferente que o senhor adotaria se ocupasse novamente o Complexo do Alemão?
GAL ADRIANO: Muito difícil te responder isso, porque o início da operação foi uma situação: nós chegamos e entramos. Muitas coisas foram alteradas à medida que foi evoluindo. Entramos com toda patrulha usando fuzil. Fomos gradativamente desescalando o armamento. Com o tempo, colocamos pistola e usamos arma não-letal, spray de pimenta e bala de borracha. Mas eu não mudaria isso, porque essas coisas tinham que ser feitas. Se eu voltasse para uma situação semelhante, não teria coragem de entrar em outra comunidade sem estar todo mundo com fuzil. E, ali (Complexo do Alemão), era o QG do mal. Estamos falando do pior local, onde os traficantes eram mais fortes.
A chegada da tropa, então, foi o momento mais tenso…
Tudo que acontecesse, o responsável seria eu. Não tinha outro. Fui eu que montei a operação, que orientei a tropa. Quando fomos para lá, foi o momento mais tenso, porque tinha muito armamento e muitos bandidos. E, aí, você começa uma operação colocando 1.600 homens (militares) armados, circulando naquela área de topografia difícil. Fazíamos patrulhamento em tudo. Ocorrer uma troca de tiro num beco era uma coisa que não tinha como se prever. O bandido aparece, atira e some. E se um soldado meu disparasse uma arma? E se o tiro entrasse num barraco e pegasse uma família, uma criança, uma pessoa que não tinha nada a ver com o tráfico? Eu tinha muitos questionamentos. Talvez, o momento mais tenso da minha vida tenha sido o primeiro mês de operação. Eu praticamente ia todos os dias lá. Tinha essa preocupação de que ocorresse algum problema.
Foi usada a mesma estratégia no Haiti. Era preciso fazer dessa forma?
Foi uma operação de alto risco pela quantidade de tropa que colocamos. E a gente não sabia como iria funcionar direito, como seria a reação do traficante à nossa presença. Poderia haver muitos incidentes, ou poucos ou nenhum. Mas ninguém sabia o que iria acontecer, porque a gente não tinha o mapa apontando onde eram as áreas problemáticas, ou indicando quem ainda estava lá dentro. Na Rocinha agora, há o Batalhão de Choque preparando e examinando o local para a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora. Já nós, entramos lá (Complexo do Alemão), sem nada.
Então, o Exército fez um rastreamento da área que jamais tinha sido feito?
Eu acho que nunca tinha sido feito, porque as polícias Militar e Civil tinham sérias dificuldades para entrar. Aquilo era um fortaleza. Quem invadiu de fato (o Complexo do Alemão) foi a polícia. Até então, a gente ficava fazendo cerco. Nós só entramos no interior do complexo no dia 23 de dezembro de 2010. Então, até ali, acho que ninguém nunca tinha feito rastreamento, percorrido tantas áreas. A Inteligência foi levantando pouco a pouco quais eram as áreas de maior risco, as mais tranquilas.
Moradores reclamaram da violência. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Nós tivemos um problema no dia 6 de setembro de 2011. Uma jovem morreu com um tiro na nuca. Cadê a tia que foi para frente das câmeras dizer que a sobrinha morreu com um tiro dado pelo Exército? Quem não estava lá dentro acha que o Exército fez uma violência, que houve troca de tiros e matou. É mentira, engodo. A maioria dos problemas que tivemos foi ou proporcionado por pessoas ligadas ao tráfico, incomodadas com a nossa presença, ou por pessoas que têm que ir para lá fazer o protesto, porque o traficante quer. No dia 4, houve um protesto contra a presença do Exército. Na segunda-feira, dia 5, tinha faixas caprichadas, muito bem feitas, arrumadas, com plástico e tudo. Participaram da manifestação menos de 60 pessoas, numa comunidade de 280 mil moradores. Até que ponto esse protesto era de moradores?
Teve um outro problema, mais recente, de um jovem que diz que foi torturado. O inquérito provou que não foi. Nenhum militar colocou a mão nele. Começou pelo reconhecimento, que foi conduzido pela Polícia Civil. Os dois militares que ele reconheceu (como agressores) estavam no Rio Grande do Sul de folga quando aconteceu o episódio.
Mas o jovem tinha marcas pelo corpo…
Sim. Ele estava com algema de metal, mas não tínhamos este tipo lá dentro. Se toda vez que acontecer alguma coisa, uma pessoa qualquer denunciar, sem ter averiguação, e eu publicar (na imprensa), eu estou desprestigiando o outro lado.
Não frustrava saber que o tráfico permanecia lá dentro ?
Mas em que lugar se conseguiu acabar com o tráfico? Nos países que têm as melhores policias existem traficantes. Lá, tinha e com muito consumidor interno. Não tinha mais o tráfico do camarada que vai do asfalto pegar, porque ele tinha receio de ser pego. Mas ali dentro, as boquinhas de fumo funcionavam, vendendo droga…Mostramos um vídeo para a imprensa.
Houve críticas da Cúpula de Segurança Pública por causa da liberação do vídeo?
Pelo contrário, recebi muito incentivo da população de lá, como das pessoas com quais eu me relaciono. Nosso trabalho foi motivo de interesse do Exército dos EUA, da Alemanha e do Chile. Os americanos vieram aqui, porque é uma operação considerada por eles muito difícil. Eu estava fazendo lá o que eles não conseguiam fazer no Iraque, que é você estar no meio de uma população, que você sabe que a maioria quer a paz, mas no meio deles, sem usar farda, tem alguém que quer te pegar.
A Alemanha faz parte da Otan. Então, ela participa de forças de paz, que atuam assim. Num conflito como do Iraque, eles vão ter que empregar a tropa fazendo isso. Era uma coisa nova e chamou atenção por isso. O Exército, nesta atuação, foi alvo de referências elogiosas no mundo inteiro. Porque não foi fácil conviver lá dentro e convencer o soldado jovem que ele está com um fuzil, mas não pode atirar, mesmo se ele receber tiro. Só poderia atirar se tivesse um alvo.
Algum militar que mora em favela pediu para deixar a operação?
No início, ocorreram algumas declarações de pessoas dizendo que as famílias de militares que estavam lá foram ameaçadas. Investigamos e nada foi confirmado. Tanto que não tiramos ninguém por causa disso. Neste problema que houve com a PM (ataque à UPP), saiu na imprensa que dois policiais tinham sido atacados na Pedra do Sapo. Você não via nunca dois soldados nossos andando sozinhos. Era sempre uma sargento, um cabo e quatro soldados.
As mulheres não fizeram patrulhamento…
O Exército ainda não usa o segmento feminino na área de combate. Ainda não chegamos lá. Tem muita gente que quer. Eu acho que não deve.
Por quê?
Vou te dar um exemplo. Aquela policial que morreu deu uma repercussão. Se fosse um policial, daria menos. Na nossa cultura, a mulher ainda não é para isso, não é para ser morta assim. A violência contra a mulher atinge mais a sociedade, fere mais do que contra o homem.
E por falar na policial da PM, o ataque à UPP o surpreendeu?
Não, porque aconteceu este e podem acontecer outros. Como aconteceram conosco. O camarada entra lá, faz um ataque contra a tropa e sai. O que eles querem? Manter a população mandriada. Eu acho que eles querem voltar. Se vão tentar, não sei. Ali é uma área estratégica.
O Dia Online/montedo.com

14 respostas

  1. VAI SER PRESENÇOSO ASSIM LA EM BRASILIA. BRASILIA QUE É A CAPITAL DA BRAVATA. TE ENXERGA, VA ESTUDAR HISTORIA, QUE SUA DECLARAÇÃO MOSTROU QUE NÃO SABE NADA. SE QUERES FAZER ALGUMA COISA UTIL PARA A TROPA QUE TAL COMEÇAR A PEDIR AUMENTO SALARIAL PARA A TROPA? HAAA, JÁ SEI,SÓ VAI RECLAMAR QUANDO PERDER O DIZIMO PETISTA E NÃO GANHAR UM CARGO DE ESTATAL. DESÇA DO PEDESTAL E DEIXE DE AUTO ELOGIOS.

  2. COMENTO:

    KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK…..
    COMPARAR O EB COM O US ARMY E O MORRO DO ALEMÃO COM O IRAQUE, É MUITO ENGRAÇADO… QUE FALTA DE PREPARO, DE CONHECIMENTO DE FUNDAMENTOS HISTÓRICOS, OU, POR OUTRO LADO, FALTA DE RESPEITO COM OS CIDADÃOS QUE TENHAM A MÍNIMA CONDIÇÃO DE TRAÇAR UM PARALELO HISTÓRICO-POLÍTICO-SOCIAL ENTRE AS DUAS REALIDADES. OU É UM DESPREPARADO, UM BUFÃO, OU ACREDITA NA IMBECILIDADE DOS CIDADÃOS.
    É LAMENTÁVEL…

    BOCA-BRABA

  3. comparar o rio com o iraque? será que é possível fazer essa comparação? cultura, princípios, religiaõ, motivação, inimigo externo, invasão do solo pátrio… são coisas totalmente diferentes do que enfrentar malandros metidos a traficantes, num local onde a polícia não entrava pq não havia interesse.
    no meu entender acho que o general está equivocado.

  4. Esse aí delirou geral. Comparar meia dúzia de bandidos pé de chinelo, subnutridos,que embora possuam algum armamento e até por que não dizer o comandamento do terreno não tem o menor noção de como usá-los eficientemente, onde a única motivação é adquirir conceito com os brothers e as minas, uma roupinhas legais e uns tênis e "marca", com o Iraque onde grupos altamente fundamentalistas, defendem o que acreditam com unhas e dentes, suas culturas, ideologias e filosofias que aos poucos são tragradas pelo bondolo Tio Sam, que só deseja o bem de todos, primeiramente o seu próprio é claro. É o fim a picada.

  5. Esse general deve estar blefando pois comparar O complexo do Alemão com um guerra onde tem outros militares atirando e também terrositas, ele deve estar de brincadeira.

  6. comparar o RIO com o Iraque? Deve ser o mesmo general que acha que os militares estão recebendo um salário compatível. Impressionante!

  7. Pior foi a desculpa que ele deu para não usar mulheres no combate. Já que é assim, elas não poderiam ser militares e jurar defender a pátria com o sacrifício da própria vida. Proteger a mulherada milica assim é mole… Esse generais e suas idéias mirabolantes…

  8. Excelência!!! gostaria de saber onde ficaram os conhecimentos sobre "fuga" que nos ensinaram na caserna, em matéria de combate, pois, não entendi até hoje o por quê daqueles bandidos fugirem pela mata sem que houvessem ali, combatentes fazendo o cerco para que não escapassem. Onde estava sua tropa e os policiais fazendo essa cobertura…? Os bandidos sairam fazendo festa por aquela mata, morro acima… Com a fuga, espalharam por nosso país, causando tantos mais transtornos que eram exclusivos do Rio de Janeiro.
    Ai eu pergunto: Será que havia interesse mesmo em prendê-los?

  9. PARA QUAL EXÉRCITO ESSE GENERAL SERVE? SÓ PODE SER O INGLÊS, POIS NO CANAL LIVRE DA BAND, AFIRMOU QUE EM 44 ANOS QUE ESTÁ NO EB, SÓ UMA VEZ FALTOU COMIDA. ISSO TA ME CHEIRANDO A UM CARGUINHO DEPOIS Q PASSAR P RESERVA. ONDE ELE ESTAVA EM 2002? AS VTRS E O ARMAMENTOS ESTÃO EM PERFEITAS CONDIÇÕES? E A EVASÃO DE MILITARES PARA TRIBUNAIS E OUTROS CARGOS MEDIANTE CONCURSO? ESTÁ TUDO BEM, AFINAL O EXÉRCITO DELE DEVE SER O INGLÊS.

  10. Esse General é um "brincante". E pensando bem… ele até que possui uma semelhança física com o personagem "DIQUE VIGARISTA" (desenho "A corrida maluca"). Não estou querendo dizer que ele é vigarista, longe de mim, mas o que ele afirma é algo que o personagem do desenho certamente afirmaria para conseguir alguma vantagem na corrida maluca, só que a corrida da qual este General participa é a corrida atrás de nobre cargo lá na ilha da fantasia, digo, Brasília.
    Fala sério General ! O EB só entrou na retomada do Complexo do Alemão depois que as polícias puseram os marginais para correr juntamente com os blindados (CLANF) da Marinha e os helicópteros da FAB. O EB só entrou depois por "ciúme institucional" após ter visto o êxito da participação dos blindados da Marinha. O Exército foi o último a chegar ! Não existe comparação entre a situação do IRAQUE e a retomada de uma Favela. No primeiro caso é um nacional, estudante, pai de família etc lutando para defender o seu território da invasão de um estrangeiro que atravessa o Atlântico para impor o seu modo de vida e sugar recursos naturais do seu país. Já no segundo caso é um grupo de marginais desorganizados e mal instruídos que só possuem apego ao dinheiro e às suas próprias vidas, que só tocavam o terror porque havia a conivência policial (corrupção), não por serem fortes e/ou organizados e poderosos.

  11. Tá aí a espécie de generais que o glorioso Exército Brasileiro possui, comparar o Alemão com o Iraque?! Acho que vou desistir de vez dessa força, é BRINCADEIRA!!!!

    SGT Major

  12. Muito interessante as palavras discorridas por esse oficial general. Somente quem veste farda e encontra-se num escalão inferior ou seja quem lida com a verdadeira realidade do Exército e das Forças Armadas, não somente no cotidiano da caserna quanto fora dela, chega a seguinte conclusão: quem nos prega sobre não faltar com a verdade desde a nossa formação nos bancos das escolas militares, faz completamente ao contrário quando comenta algo a respeito. Ele deveria de dizer que nos morros do Rio de Janeiro houve – um acordo, até os eventos (Copa e Olimpiadas), como é de conhecimento de que esteve lá.
    Se as Forças Armadas quisessem mesmo fazer um serviço com requinte de qualidade (ISO)e perfeição, começaria enquadrando os políticos do Estado do Rio de Janeiro e deles para baixo e, não a maquiagem de fora feita, com os bandidos ainda soltos e mais disciplinados, organizados e bem remunerados do que os militares das Forças Armadas.
    Até quando as estórias e as histórias que ocorrem no Brasil serão narradas com requinte de mentira?

  13. Gen Adriano

    O Sr. foi infeliz comparando o Alemão ao Iraque, são situações bem distintas, por óbvio, mas não podemos deixar de considerar o excelente trabalho que o EB realizou naquela comunidade, ainda que correndo o risco de termos sérias alterações (mas como Nosso Senhor é brasileiro e serviu o Exército, não tivemos grandes óbices a lamentar..ufa!).
    Quanto à "fuga" citada pelo amigo acima, se fosse para dizimar o inimigo, ou mesmo lhe oferecer a chance da rendição, o certo teria sido uma operação aeromóvel no alto do morro, posicionando elementos da 12 Bda Inf Leve de forma a cortar a possibilidade de fuga dos bandidos. Uma operação relativamente simples naquele cenário, com o uso de meios aéreos (aeronaves de Taubaté) para o transporte da tropa e apoio de fogo, se fosse o caso.
    Por óbvio, o espaço aéreo no setor deveria ser temporariamente "fechado" por NOTAM para evitar que helicópteros de emissoras de TV transmitissem cenas não muito agradáveis, além de dar munição para oportunistas dos "direitos humanos" e ONGs rolhas afins…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo