Comandante manda retirar cruz da frente do quartel e causa polêmica no RS

Atualização: 13h35

Ausência de um símbolo
Retirada de cruz missioneira da frente de quartel em Santo Ângelo causa polêmica
Remoção foi vista com estranheza pelos moradores do município

Militares do 1º Batalhão de Comunicações do Exército trabalham na retirada do símbolo
Foto: Juliana Gomes / Agência RBS

Juliana Gomes

A retirada da cruz missioneira da frente do 1º Batalhão de Comunicações do Exército de Santo Ângelo está gerando polêmica entre a comunidade. Há 18 anos instalada na frente do quartel, a ausência do símbolo foi vista com estranheza pelos moradores do município, cuja identidade cultural está fortemente associada à história da colonização jesuítico-guarani.
Segundo o tenente-coronel Luiz Carlos Damasceno, 43 anos, que está à frente dos 660 militares que trabalham no 1º Batalhão de Comunicações, a retirada da cruz é parte de uma reforma do quartel. As mudanças pretendem melhorar a segurança e a acessibilidade.
Para isso, um novo portão, exclusivo para pedestres, facilitará o controle da entrada e saída de pessoas. Outra entrada ficará disponível apenas para os veículos, a fim de evitar possíveis ataques de violência, motivados pela presença de armas, munições e caixas eletrônicos existentes no local.
Segundo o tenente-coronel, outra razão para retirar a cruz é garantir a universalidade de credos.
— Embora, a fé seja valorizada por nós, o Exército é uma instituição laica e de todos. Se a opção for manter a cruz, teremos que instalar também um símbolo evangélico, outro muçulmano, um espírita e de todas as outras religiões. Além disso, a cruz lembrava um túmulo. Uma daquelas cruzes de beira de estrada, que simbolizam mortes por acidentes de trânsito. Se a cobrança for de que a gente mantenha a cruz missioneira, então todas as empresas da cidade também devem ter uma — argumenta Damasceno.
Cruz Missioneira, à direita, quando ainda estava diante do batalhão (imagem do Skrapper City)
Presente na música, na poesia e na fotografia da região das Missões, a cruz missioneira, também conhecida como cruz de Caravachia, foi trazida para o Rio Grande do Sul pelos padres jesuítas em 1626 durante a colonização do Brasil. Fundador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola foi um ex-militar que deu uma simbologia religiosa a uma espada usada pelos militares espanhóis durante as cruzadas na Idade Média.
Com a missão de ensinar aos indígenas a fé cristã, os religiosos administraram comunidades que receberam o nome de reduções, hoje consideradas os primeiros núcleos urbanos do Rio Grande do Sul. A partir das reduções, a Espanha pretendia tomar posse das terras ocupadas pelos indígenas.
Para a professora do curso de história da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Nadir Damiani, o simbolismo da cruz extrapola a religião.
— A região das Missões é conhecida nacionalmente pela cruz missioneira. É uma referência à origem do nosso povo, à nossa história. A simbologia cultural é mais presente do que a religiosa, neste caso — explica.
A pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil Cláudia Patrícia Pacheco questiona a decisão dos militares.
— Por que retirar Cristo da frente do quartel? A cruz missioneira não representa apenas Jesus, um nome maior do que qualquer religião. A presença dela serve como questionamento da nossa história, da nossa postura como sociedade. Na minha opinião, mais cruzes missioneiras deviam ser erguidas em todos os lugares — opina.
ZERO HORA/montedo.com

Comento:
A medida tomada pelo comandante do 1º Batalhão de Comunicações só não é mais equivocada do que a justificativa. Aliás, poucas vezes li tantas impropriedades – para ser politicamente correto – reunidas em tão poucas palavras.
“Embora, a fé seja valorizada por nós, o Exército é uma instituição laica e de todos”.
O Brasil é laico, não apenas o Exército. O erro é confundir laicidade com ateísmo, num País em que a liberdade de crença está consagrada na Constituição Federal. O Exército- laico – incorporou, pela tradição, diversos símbolos e expressões religiosas que expressam o sincretismo religioso do povo brasileiro. Senão, que dizer deste verso da belíssima Canção do Expedicionário:
“Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!”


“Se a opção for manter a cruz, teremos que instalar também um símbolo evangélico, outro muçulmano, um espírita e de todas as outras religiões”.
Como espírita, dispenso a preocupação em instalar qualquer símbolo, visto que a doutrina que sigo não contempla esse costume. Por outro lado, não creio que muçulmanos ou evangélicos fizessem exigência tão descabida.
“Além disso, a cruz lembrava um túmulo. Uma daquelas cruzes de beira de estrada, que simbolizam mortes por acidentes de trânsito.”
Se a cruz realmente assinalava a morte de alguém, com mais razão deveria ser mantida, como expressão de respeito.
 “Se a cobrança for de que a gente mantenha a cruz missioneira, então todas as empresas da cidade também devem ter uma”.
Empresas são organizações privadas que visam geralmente o lucro e lidam com valores muitos diversos dos que norteiam instituições nacionais e respeitáveis como o Exército Brasileiro.
Mas o cerne do problema é outro: como definiu muito bem a professora citada na reportagem, a questão é muito mais cultural do que religiosa. Quem conhece a região das Missões do Rio Grande do Sul sabe da importância simbólica  da cruz de Lorena na formação histórico-cultural do povo missioneiro. Rebatizada de cruz Missioneira, é um ícone regional que ultrapassa qualquer interpretação puramente teológica, um símbolo que permeia grande parte das manifestações artístico-culturais, políticas e até mesmo comerciais.
Tão forte é seu significado simbólico que a cruz Missioneira foi incorporada ao estandarte da 16ª Brigada de Infantaria (Brigada das Missões), originária de Santo Ângelo, hoje sediada no Amazonas.

E – surpresa! – também faz parte do símbolo do próprio 1º Batalhão de Comunicações!


´
Imagino o desconforto que assolou o nobre oficial ao ter que assumir o comando de sua unidade sob a égide da Cruz Missioneira, conforme esta imagem:

Passagem de comando do 1º BCom, em 10 jan 12: do centro para a direita, em primeiro plano, o General Etchgoyen, o coronel Braga (passando o comando),   e o tenente coronel  Luiz Carlos, assumindo o batalhão sob os auspícios da cruz da polêmica

A julgar por sua preocupação com a laicidade, suponho que o comandante do batalhão já tenha encaminhado proposta para retirar a cruz do símbolo da unidade que comanda.


PS: cá pra nós, coronel, se o problema era liberar a entrada para pedestres, coloque a cruz de volta, num local que não atrapalhe o trânsito e pare de ‘gastar pólvora com chimango’. O senhor deve ter coisas mais importantes para fazer.

23 respostas

  1. Corretíssima a atitude deste Comandante( esse merece C maiúsculo), vivemos em um país laico e um simbolo religioso em uma instituição publica contraria a constituição.
    Vamos ver até quando ele vai manter a posição e não permitir que a opinião pública mande em sua OM.

  2. Concordo com esse comandante! Ele tomou uma postura equilibrada em retirar um símbolo religioso de uma repartição pública, haja vista que nem todos os militares, e menos ainda, brasileiros professam a mesma religião. No Brasil não existe religião oficial, tenta-se por força da cultura e maior influência do catolicismo, empurrar os símbolos do cristianismo goela abaixo. Vejam o exemplo do batismo na igreja católica, em que vários católicos não praticantes realizam em seus filhos ainda na tenra idade, mas depois nunca mais pisam numa igreja católica. O ato do batismo se tornou mais uma ação influenciada pela cultura do que pela fé religiosa, pois muitos desses pais que hoje batizam seus filhos nas igrejas católicas não seguem os dogmas do catolicismo, tem outra religião, e as vezes batizam seus filhos apenas para que estes não sejam "mal vistos" na sociedade e não se deparem com questionamentos sociais incômodos tais como a inconveniente indagação "nossa, vc não é batizado?". Dentro de uma organização pública, que são também os quartéis, a maior demonstração de respeito à religiosidade é a não existência de símbolos religiosos, pois como não tem como colocar os símbolos de todas as religiões existentes no mundo, que retirem-se todos os símbolos remanescentes. E a não existência de símbolos é até uma forma de respeito àqueles que não professam nenhuma religião. E da mesma forma como foi acertada a decisão desse Ten Cel em retirar o símbolo, acho que também seria acertada a não disponibilização de espaços exclusivos dentro dos quartéis para que militares praticantes de alguma religião possam fazer cultos, pois imaginem se todos os militares de outras religiões invocassem o mesmo tratamento ? O quartel teria que ser todo repartido em seções de religião tal e qual. Acho que uma força militar tem que contar com a coesão de seus integrantes e, o que nós vemos na prática do dia a dia nos quartéis é que essa segregação de espaços religiosos dentro da caserna gera mais a união entre os membros da religião sem que esses se sintam unidos ao restante do quartel. Na prática criam-se pequenos grupos ao estilo maçonaria, em que eles se ajudam mutuamente mas não ajudam os outros não religiosos ou de outras religiões. Acho que manifestação religiosa, política, assim como a própria sexualidade do militar, devem ficar afastadas do ambiente de trabalho, devem ficar restrita à residência do indivíduo ou aos locais próprios para isso (templos, clubes privados etc), pois do contrário vira bagunça e desrespeito, pois não há como atender aos anseios de todos os religiosos das diversas religiões que só das mais conhecidas contam-se 20. Só para não deixar dúvida antes que algum alienado venha a se manifestar fervorosamente em defesa dos símbolos criticando emocionalmente a minha opinião: não sou PTista ou tenho simpatia pelo comunismo !

  3. Nesse caso, com base na segunda parte da argumentação desse comandante, deveremos retirar a segunda estrofe da Canção do Expedicionáio, que diz:
    "Eu venho da minha terra,
    Da casa branca da serra
    E do luar do meu sertão;
    Venho da minha Maria
    Cujo nome principia
    Na palma da minha mão,
    Braços mornos de Moema,
    Lábios de mel de Iracema
    Estendidos para mim.
    Ó minha terra querida
    Da Senhora Aparecida
    E do Senhor do Bonfim!"
    O motivo é que esta estrofe afirma que o Brasil é "Da Senhora Aparecida e do Senhor do Bonfim…
    Outra atitude que esse comandante de deve tomar é encaminhar ofício ao Comando do EB, solicitando que se acabe com o quadro de capelães e que aproveite as instalações das capelas dos quartéis para outras finalidades.

  4. Estão fazendo uma guerrinha por causa de símbolos religiosos? Não tem coisas mais importantes pra fazer do que isso. Não importa se mandarem retirar todas as cruzes de todas as repartições militares, pois quem crê, continuará na sua crença. Aguns tem medo da cruz, por que? São vampiros?(kkk) De um certo modo são. Agora, não me digam que vão colocar uma…foice… ou uma… estrela … mudar as cores para vermelho… .

  5. tomara que ele não morra como aconteceu com diversas pessoas que desconsideraram Jesus!
    Cmt do Titanic
    Tancredo Neves
    Elton John
    e outras muitas!
    hehehehe…..

  6. O comandante está ERRADO! A Cruz Missioneira ESTÁ colocada na CALÇADA DO QUARTEL. PORTANTO, FORA DA COMPETÊNCIA E DO ALCANCE do DIREITO DE COMANDO. Nesse local, – A CALÇADA, QUE É PATRIMÔNIO PÚBLICO, – é competência DA PREFEITURA DESSA CIDADE GAÚCHA.

  7. Parabéns Cmt!!!

    Corretíssima sua posição e erradíssima os que pensam o contrário.

    Não é questão de se ter fé em alguma crença ou não.

    A justificativa é apenas uma e é o bastante: o Estado brasileiro é laico e o Exército faz parte do Estado brasileiro.

    Lugar de símbolos religiosos é em cada templo de sua crença e já basta!

    Parabéns meu Cmt!!!

  8. Desculpa esfarrapada a desse comandante brincalhao… vejam pelas fotos que a Cruz Missionaria nao atrapalharia em nada a entra de pedestres, bicicletas, motocicletas, carros. onibus ou carretas… apenas atrapalha a mente mediocre de quem nao a respeita.

  9. Pra gastar toda essa energia e tempo = dinheiro(nosso $$!!), esse Cmt só pode ser crente (sem sentido pejorativo)!! Faça o favor de colocar a mesma energia para resolver problemas referentes ao seu quartel e seus comandados!

    Ana Paula

  10. O Exército é uma instituição que cultiva tradições, sendo a cruz missioneira não um símbolo religioso, mas com alto valor cultural.

  11. A Cruz missioneira, para quem se interessar sobre o assunto, representa a escravidão dos índios garanis as padres católicos no século XVII e XVIII, os quais desejavam criar um Estado Teológico na região dos Sete Povos das Missões.

    A desculpa de evangelizar os índios causou apenas desgraça a eles, com a sua mudança de hábitos e a passagem à escravidão real, já que as missões eram alvos de ataques dos bandeirantes paulistas em busca de índios para venda como escravos.

    Quem já viu o filme "A Missão" sabe que o território dos Sete Povos das Missões foi trocado pelos portugueses com os espanhóis, os quais cederam a Colônia de Sacramento aos portugueses. Em represália, mais uma vez, os índios guaranis foram "usados" mais uma vez pelos padres para combater os portugueses e espanhóis.

    Em resumo, o termo "Sete Povos das Missões" deve ser lembrado como "vergonha" (pelo mau que causaram aos garanis e que nenhum benefício deixou a quem quer que seja) e não como orgulho pelos habitantes de hoje, que ocupam aquela área geográfica.

    Querem os habitantes de hoje homenagearem alguém? Que construam momumentos aos garanis daquela época e destruam de vêz a Cruz Missioneira.

    Analisem friamente os fatos históricos, sem "paixões" herdadas de opiniões parciais, mormente religiosas!

    Bons estudos aos que se interessarem pelo tema!

  12. "O Brasil é um país laico. Otimo, vamos acabar então com os feriados santos, natal, pascoa e que mais tiver por ai."

    Sou a favor de de que se cumpra o afastamento da religião do Estado, preconizado há mais de 200 anos pelos filósofos franceses!

    Se o preço do afastamento religião/Estado for a esse custo, que seja assim!

    De que adianta ter feriados religiosos se poucos praticantes cristãos realmente comemoram e vivem o sentido religioso das datas?

    Páscoa está ligada ao "coelhinho" e seus "ovos de chocolate"…

    Natal está ligado ao "ato de dar presentes"…

    Convenhamos, os feriados religiosos só nos servem para viajarmos, bebermos, sermos incovenientes com as pessoas e etc…

    Sejamos coerentes, os feriados religiosos não servem à sua finalidade, que sejam abolidos, ora…

  13. Para quem está preocupado com religião segue o relatório da Fundação Getúlio Vargas, com diversos parâmetros sobre renda, frequência a cultos, faixa etária, escolaridade, etc:

    http://www.fgv.br/cps/religiao/

    P.S. – Não consta no relatório, mas o ateísmo está em alta nos países da Europa Oriental e países nórdicos.

    Acredita-se que em 7 anos não haverá mais prática religiosa nesses países, em função de numerosos templos estarem sendo fechados por falta de público.

    A Europa, como sempre, na vangarda do pensamento e na libertação da homem de práticas escravizantes, como a religião!!!

  14. Caramba…. estamos perdidos mesmo preocupação rolha demais!! com certeza o alojamento dos soldados deve estar bom pra caramba ne?

  15. "Sou a favor de de que se cumpra o afastamento da religião do Estado, preconizado há mais de 200 anos pelos filósofos franceses!"
    vamos parar de copiar essas ideias falidas de idiotas de estrangeiros, Francese! Bah!.
    Os homens necessitam acreditar que existe algo mais do que somente a matéria, não importa se são católicos, espíritas, evangélicos, umbanda, protestantes,etc… acreditar no divino é uma necessidade Humana pois do divino descende o homem, se a cruz está lá deixe-a lá, pois de qualquer forma ela ajudou na evolução e é uma obrigação nossa aceitar todos os credo inclusive daqueles que ja partiram.

  16. "O Brasil é um país laico. Otimo, vamos acabar então com os feriados santos, natal, pascoa e que mais tiver por ai."

    Amigo, veja o que decidiu Portugal, um dos países de fé católica mais fervorosa da Europa sobre os feriados religiosos:

    http://economia.terra.com.br/noticias/noticia.aspx?idNoticia=201205091103_ABR_81182219

    Portugal cancela feriados para conter efeitos da crise econômica

    09 de maio de 2012 • 08h03 • atualizado 08h05

    Na tentativa de conter os impactos da crise econômica internacional, o governo de Portugal cancelou quatro de seus 14 feriados. A partir de 2013, ficam suspensos, por cinco anos, os feriados de Corpus Christi, celebrado 60 dias depois da Páscoa, cuja solenidade será transferida para o domingo seguinte, o Dia de Todos os Santos (1º de novembro).

    A medida vale ainda para as comemorações referentes ao Dia da Indenpendência (1º de dezembro) e ao Dia da República (5 de outubro). A decisão sobre o fim dos feriados religiosos foi negociada pelas autoridades portuguesas com a Igreja Católica, por meio do Vaticano.

    As medidas de austeridade adotadas pelo governo de Portugal incluem a redução dos salários dos funcionários públicos e o aumento dos valores dos impostos. O objetivo, segundo as autoridades, é diminuir o déficit orçamentário do país e lidar com a crise.

    No ano passado, o governo português fechou acordo para receber um pacote de 78 bilhões de euros repassados pela União Europeia, pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

  17. O nobre Comandante se esquece de que o Brasil foi descoberto sob o signo da Cruz. Primeiro nome: Ilha de Vera Cruz; Segundo nome: Terra de Santa Cruz. Deve mandar também retirar a Cruz do estandarte de sua Corporação. Deve mandar também retirar as cruzes das ambulâncias militares. Pelo que sei quem mais teme a Cruz é o demônio. Evangélicos, espíritas, católicos, Judeus, muçulmanos etc, não temem a Cruz e sim a respeitam pois nela morreu um Grande Líder da humanidade, chamado Jesus. Morreu inclusive pelo nobre Comandante.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo