Clima de revolta à bordo do porta-aviões São Paulo

Confira relato exclusivo feito por pessoal a bordo do navio
OBSERVAÇÃO: Blog enviou o relato à Marinha e ainda aguarda um posicionamento oficial.
Marco Aurélio Reis
Militares que servem no porta-aviões São Paulo e e seus familiares revelaram a O DIA com exclusividade um cenário preocupante a respeito da conservação da embarcação. A maior parte dos episódios internos, contam, não chega ao conhecimento do público, mas tiram o sono de esposas cada vez que seus maridos embarcam.
Desde agosto do ano passado, O DIA cobra explicações oficiais para as denúncias dos tripulantes. Elas ficaram mais detalhadas desde o dia 15 daquele mês, quando um incêndio na caldeira, outro na chaminé e outros dois nas máquinas, todos revelados com exclusividade pela Coluna Força Militar de O DIA, aumentaram a preocupação de quem serve embarcado no São Paulo.
Entre os relatos,o que mais assustam diz respeito a dificuldade de se saber onde podem ocorrer rompimentos de tubulações , vazamento de vapores e incêndios. “Elas (tubulações) são envelopadas. Não dá para saber onde estão as áreas com problemas”, contou uma das fontes que serve no São Paulo. “O navio não pode parar em função do custo do treinamento dos pilotos e da necessidade de mante-los em operação. Se não pousam e decolam com frequência perdem condições de operação e terão que passar por novo e caro treinamento fora”, conta outra fonte.
A pedido do jornal, mais de um militar a bordo compôs relatório preocupante, encaminhado por O DIA às autoridades. O relato dá uma dimensão do clima a bordo:
NAVIO VELHO
“Somos militares do Porta Aviões São Paulo e estamos vivendo em um estado de escravidão sem ter a quem recorrer. Trabalhamos no (…) em um navio sucateado e velho, sem condições de navegar em segurança que se arrasta há anos em reparos sem apresentar resultados.”
INCÊNDIOS CONSTANTES
“Na tentativa de viagem que fizemos (ano passado), logo no cais, antes do navio sair, houve um incêndio a bordo. Mesmo com o incêndio, o comandante decidiu continuar com o cronograma e manteve a viagem. No mar foram mais dois incêndios e alagamentos.
Quando isso acontece a tripulação tem de ser avisada através do serviço de fonoclama do navio. Mas nem em todos esses eventos isso aconteceu. Havia ordem para que não fosse divulgado, pois havia um almirante a bordo e se ele ouvisse talvez determinasse o retorno do navio (o que aconteceu em um incêndio posterior). As vidas dos militares que ali servem estão em risco constante. Redes de vapor vazaram novamente – lembrando que anos atrás militares morreram por esse mesmo motivo. E esses fatos estão sendo escondidos, para que não haja pressão dos próprios militares e familiares para a parada definitiva do navio.”
ALMIRANTES PRECISAM DO PORTA-AVIÕES
“O navio já era velho quando foi comprado pela Marinha, anos atrás por 12 milhões – valor que não compra um barco decente. Esse navio mantém a Marinha refém da França na compra de óleo e manutenção, que são caríssimos. Para piorar, se esse navio for aposentado, o Brasil não terá mais uma esquadra – pois é necessário um porta aviões para tal, e vários almirantes de esquadra seriam obrigados a ir para casa, para a reserva.”
MILITARES IMPEDIDOS DE DESEMBARCAR
“O departamento de máquinas, junto com a tripulação, está pagando pelo estado da embarcação. Militares desses setores são impedidos de ir para casa ao fim do expediente por causa das máquinas que não funcionam, impossibilitando a prontificação do navio. O comando não aceita isso e pune! Já ficamos vários dias impedidos de sair por causa disso. As máquinas que deveriam ser em número de dois, só tem uma precariamente funcionado. No hangar há vários geradores prontos para uso em caso de falha do único gerador em funcionamento (a um aluguel de R$ 30 mil cada – mesmo que não sejam usados).”
LUVA PARA CHECAR A LIMPEZA
“Há uma ordem de que ninguém pode desembarcar do navio, ninguém pode ser transferido – o que é rotineiro na Marinha – ordem dada pelo comandante com o aval do comandante da Marinha. (…) O absurdo chegou ao ponto do comandante do navio criar um Postos de Limpeza (oposto aos Postos de Combate), onde os compartimentos são limpos e inspecionados pelo próprio comandante, que o faz munido de um cinto recheado de luvas brancas que ele usa para verificar se há poeiras pelo compartimentos. E se houver, o responsável pela limpeza é punido. Tudo respaldado por um código, cujo parágrafo único permite a um oficial punir um militar baseado no que ele achar que está errado, seja um olhar ou gesto diferentes.”
INSPEÇÕES FEITAS POR QUEM SERÁ INSPECIONADO DEPOIS
“As inspeções administrativas que existem não têm eficiência – elas poderiam reprovar o navio – pois os inspetores são os próprio oficiais. Eles inspecionam hoje e amanhã são inspecionados por quem inspecionaram. Seria necessário um órgão externo para realizar essa tarefa. Aí seriam vistas as licitações suspeitas, o enriquecimento de alguns oficiais (há relatos de compras realizadas onde apenas a nota fiscal foi entregue, o produto comprado nunca chegou). Fazem porque sabem que nós não podemos fazer nada, não podemos provar
por causa de punições e retaliações.”
MACARRÃO SEM MOLHO
“O trabalho na praça de máquinas é em turnos de quatro horas em temperaturas de 70 graus. Na hora da refeição, macarrão puro para comer! Arroz com hambúrguer. Zero de valor nutricional aqui. Mas os coquetéis não param!”
BOMBA RELÓGIO
“Estamos pedindo socorro antes que mais vidas sejam perdidas. Apenas com a ajuda da imprensa e do Ministério Público poderemos ter alguma esperança.”Estamos sofrendo.Além de situações de risco, como por exemplo, toda vez que o navio tenta sair, temos que voltar até meia noite do dia anterior para o navio, com todo o perigo que o Rio está atravessando, e por viajar com o navio em estado de perigo constante, pois mesmo depois do acidente de 2005, continuamos em cima de uma bomba relógio. Toda saída do navio vira uma preocupação dos nossos familiares.Mesmo depois de tantos gastos, a evolução é mínima. Praças que servem no porta-aviões há mais de 10 anos estão impedidos de desembarcar, ou seja, não podem pedir transferência. É constante ao pessoal a bordo ficar sem licença-pagamento.”

10 respostas

  1. eu servi no NAe em 2002 e ja estava critica a situação. e em uma viagem em que embarcou o FHC a Praça de Maquinas teve um vazamento de vapor, e não foi acionado o CAV (controle de avarias) a equipe do CAV que tentou descer pra auxiliar não conseguiu porque tava sem apoio, ja que não tinha sido dado o alarme, os militares que estavam dentro conseguiram sair e fechar o local, antes que a central de CAV acionasse o halon pra acabar o incendio. se os pessoal demorasse pra sair morreriam intoxicados.

  2. Estarrecedor. Depois dessa, e de outras, vou ser obrigado a concordar com a punição de alguns do tempo da ditadura. Talvez assim, os atuais arrogantes e cegos comandantes, baixem a crista e tratem com respeito e reponsabilidade os seus, ainda, comandados. Quer dizer que se surgisse, por hipótese, uma ação real desse navio, o importante seria não ter uma poeirinha nas dependências? Não seria melhor que todos os sistemas necessários, ou os mais importantes, funcionasse? Lembre-se que navio afunda rápido. Será que o excelentíssimo comandante quer ir junto? Duvido.

  3. Se ocorrer um trágico acidente com essa sucata, o que vai dizer o comandante? Que a culpa foi do marinheiro que não tirou a poeira?
    Talvez diga que foi sabotagem(é mais facil). Será que a academia está ensinando alguma coisa errada? No Brasil as tragédias se anunciam e são negligenciadas. Quando a turma de baixo não aguenta mais, aí vira caso de polícia. Se não tem condições de ter porta-aviões, encosta a coisa no porto, antes que aconteça uma tragédia. Parece um país de faz-de-conta. Por que compramos isso? Quem ganhou? É mais seguro colocar uma caravela pra navegar de novo.
    Se não tem emprego pra almirante, aposenta todos. Pra não fazer nada é melhor economizar.

  4. Militares precisa deixar de viver de fantasias, obedecendo comandantes incompetentes que querem mostrar serviço sacrificando a vida de bons profissionais, para que esse porta aviões, se não termos aeronaves? so parasatisfazer o ego de algum incompetente?

  5. qual é a novidade? desde o imperio que a mentalidade é essa. Por acaso alguem viu o comandante da marinha falar pelos mortos na estação da antartida? Mas abraçar pesquisadores, reitores, isto eles fazem muito bem… fica bonito na foto. Brincadeira este país..

  6. Fala sério, se o cara vai receber o pessoal é criticado…Se não vai é cruxificado!
    Difícil agradar…Quem sabe se olharmos para o lado no mundo atual e verificarmos quanto ganham os militares de países vizinhos!
    Não esquecámos que tanto nós como os oficiciais passam num concurso sem curso superior!
    Vamos estudar!

  7. nao somos os paises vizinhos camarada. sabemos o que estamos combrando do governo. pagamos os impostos mais caros do mundo. um operador de elevador do congresso ganha R$ 14.000 e um piloto de caça ganha R$ 5.ooo. Vc acha justo isso ??? trabalho em uma SIP e o trabalho é semelhante ao do INSS. A diferença é que no INSS o cara entra ganhando 8.000 e eu ganho 2.200. muito justo isso, né ?? Eu também estou estudando para sair, mas quero sair pela porta da frente, da mesma forma que entrei, pois sou concursado e não estou aqui de favor. Agora, deixa de ser sem noção camarada. Não é pq meu vizinho é favelado que devo tentar me igualar a ele…

  8. LAMENTÁVEL.
    Os relatos desses militares não são nem a metade das situações ridículas pelas quais o pessoal de bordo é obrigado a passar.
    Essa força, que é o braço armado do Estado, e tem o dever de defender o Brasil, é administrada por amadores, que a conduzem de forma a alcançarem seu objetivos e interesses pessoais.

  9. Nem metade dos acidentes de bordo são noticiados, a maioria dos casos é abafado ou tratado com normalidade!
    Enquanto cada um pensar somente em seus interesses pessoais será assim! Se a Marinha fosse uma empresa da iniciativa privada já estaria falida há muito tempo! Cada vez que o navio suspende, seja ele qual for, não só o Porta Aviões, as famílias ficam com o coração na mão, não só pelo risco que a situação traz por si só mas também pela precariedade de condições e pelo descaso das autoridades!! Os erros se repetem! Ninguém aprende nada com a história!! Apenas um gerador funcionando, sem contingência!! Será que não foram alertados? Dirão que não sabiam, a exemplo do ex-presidente! E quando acontece uma tragédia ainda ficam tentando tapar o sol com a peneira para que as autoriddes não saibam!! Soar o alarme, sim! Os almirantes precisam saber as condições de trabalho, todos precisam saber que não é tão lindo quanto parece!!

  10. A Marinha vive de aparência e é composta em sua maioria de Oficiais que alimentam essa boa aparência, não importando se para isso, coloquem a vida de seus militares em risco. Sou militar e passo por isso com frequência, mas fazer o que?? Dependo dela para comer o pão de cada dia! O melhor que faço é não bater de frente com o sistema, pois posso acabar me prejudicando!!

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