CARTA AO SENHOR JOBIM

Luiz Gonzaga Schroeder Lessa*
Como era natural, o senhor se foi, sem traumas, sem solavancos, subs-tituído quase que por telefone, não durando mais do que cinco minutos o seu despacho de despedida com a presidente, que, de forma providencial, já tinha até o seu substituto definido. Surpreso? Nem tanto.
Substituição aceita com a maior naturalidade, pois ela é parte da rotina militar.
O senhor talvez esperasse adesões e simpatias que não ocorreram, primeiro, pela disciplina castrense e, depois, pelo desgaste acumulado ao longo dos seus trágicos 4 anos de investidura no cargo de ministro da defesa.
E como um dia é da caça e outro do caçador, o senhor foi expelido do cargo de forma vergonhosa, ácida, quase sem consideração a sua pessoa, repetindo os atos que tantas vezes praticou com exemplares militares que tiveram, por dever de ofí-cio, a desventura de servir no seu ministério (veja que omiti a palavra comando, porque o senhor nunca os comandou).
O desabafo à revista Piauí, gota d’água para a sua saída, retrata com fidelidade e até mesmo estupefação o seu ego avassalador, que julgava estar acima de tudo e de todos, a prepotência, a arrogância e a afetada intimidade com os seus colaboradores no trato dos assuntos funcionais, o desconhecimento dos preceitos da ética e do comportamento militar, a psicótica necessidade de se fantasiar de militar, envergando uniformes que não lhe cabiam não apenas por seu tamanho desproporcional, mas, também, pela carência de virtudes básicas, como se um oficial-general se fizesse unicamente pelos uniformes, galões e insígnias que usa, esquecendo que a sua verdadeira autoridade emana dos longos anos de serviços prestados à Nação e da consideração e do respeito que nutre pelos seus camaradas. O senhor, de fato, nunca a entendeu e nunca foi compreendido e aceito pela tropa, por faltar-lhe um agregador essencial – a alma de Soldado.
Sua trajetória no Ministério da Defesa foi a mais retumbante desmistificação daquilo que prometeu realizar.
Infelizmente, as Forças Armadas ficaram piores, ainda mais enfraquecidas. Suas promessas de reaparelhamento e modernização não se realizaram. Continuam despreparadas para cumprir as suas missões e, na realidade, são forças desarmadas, só empregadas no cumprimento de missões policiais, muito aquém das suas responsabilidades constitucionais.
A Marinha poderá até apresentar um saldo positivo no seu programa de submarinos, mas a força de superfície está acabada, necessitando de urgente renovação, que não veio. A Aeronáutica prossegue sonhando com os modernos caças com que lhe acenaram, programa que desafia a paciência e aguarda por mais de 10 anos. O Exército parece ser o que se encontra em pior situação no tocante ao seu equipamento e armamento, na quase totalidade com mais de 50 anos de uso. Nem mesmo o seu armamento básico, o fuzil, teve substituto à altura. Evolução tecnológica, praticamente, nenhuma. O crônico problema sala-rial que, por anos, atormenta e inferioriza os militares que são tratados quase como párias, não teve uma programação que pretendesse amenizá-lo. A Comis-são da Verdade, em face da sua dúbia atitude, é obra inconclusa, que tende a se agravar como perigoso fator desagregador da unidade nacional
O que fez o senhor ao longo desses quatro últimos anos para reverter essa situação, Sr Jobim. Nada! Só palavrório, discursos vazios, promessas que não se cumpriram, enganações e mais enganações. Mas sempre teve a paciência, a lealdade e a fidelidade dos Comandantes de Força.
A Estratégia Nacional de Defesa é o maior embuste que tenta vender. Megalômana, sem prazos e recursos financeiros delimitados por específicos programas governamentais, é um documento político para ser usado ou descartado ao sabor das circunstâncias, como atualmente ocorre, quando é vítima dos severos cortes orçamentários impostos às Forças Armadas, que inviabilizam os seus sonhos de modernização. Mal sobram recursos necessários para a sua vida vegetativa.
O caos aéreo que prometeu reverter com a modernização da infraestrutura aeroportuária só fez crescer e ameaça ficar fora de controle.
Você (como gosta de chamar os seus oficiais-generais) foi um embuste, Jobim.
Por tudo de mal que fez à Nação, enganando-a sobre o real estado das Forças Armadas, já vai tarde. Vamos ficar livres das suas baboseiras, das suas palavras ao vento, das suas falácias, das suas pretensões de efetivamente comandar as Forças Armadas, mesmo que para isso tivesse que usurpar os limites constitucionais.
Você parte amargando a compreensão de que nada mais foi do que um funcionário ad nutum, como todos os demais, demitido por extrapolar os limi-tes das suas atribuições. A contragosto, é forçado a admitir que o verdadeiro comandante das Forças Armadas é a Presidente Dilma que, sem cerimônia, não tem delegado essa honrosa missão exercendo-a, por direito e de fato, na plenitude da sua competência.
Você acusou o golpe. Não teve, nem sequer, a disposição de transmitir o cargo que exerceu. Faceta da sua personalidade que a história saberá julgar.
Como no Brasil tudo o que está ruim pode ficar ainda pior, vamos ter que aturar o embaixador Amorim, que por longos 8 anos deslustrou o Itamaraty e comprometeu a nossa tradicional e competente diplomacia. Sem afinidade com as Forças, alheio aos seus problemas e necessidades mais premen-tes, com notória orientação esquerdista, só o tempo dirá se a sua indicação valeu a pena.
No fundo, creio mesmo que só ao Senhor dos Exércitos caberá cuidar das nossas Forças Armadas.
*General de Exército R1

8 respostas

  1. Muito boa esta carta, diz exatamente o que todos que compõem as Forças Armadas pensam inclusive os nossos Cmts. só estes têem medo de falar o que caracteriza os covardes.

  2. Impressionante como esses Generais "viram macho" quando vão para a Reserva; na ativa, cheios de mordomias e podendo ser indicados ao STM, à Petrobrás, às missões no exterior, etc, etc, etc… são verdadeiros cordeiros!
    Montedo, por favor: não dê mais espaço p/ este tipo de manifestação intempestiva. O seu blog é o melhor com assuntos da caserna, não precisa se desvirtuar nem dar moral p/ quem não merece!

  3. Amigo, o que me pauta é a qualidade da informação ou do texto.
    Oficiais da reserva, existem muitos falando e escrevendo por aí, mas a maioria eu não publico.
    O artigo do General Lessa é muito bom, por isso mereceu espaço aqui, o que ocorrerá sempre que eu assim entender.
    Agradeço pelo elogio, mas não se trata de desvirtuar o blog e sim, publicar material relevante para seu propósito.
    Grato pelo comentário.
    Opine sempre.

  4. ST R/1 ACOSTA

    Muito bem, concordo em parte com o anônimo, que ao passar para a reserva alguns Gen ficam machos, porém tambem acho que o Exmo Sr General está absolutamente certo, e que todos dependemos da opinão desses militares uma vez que a vóz deles tem muito mais força que a vóz de um St R/1. Se no Clube Militar tivesse pelo menos 10 ou 20 Of Gen que levantassem suas vozes talvez a classe militar seria ouvida finalmente. Parabens Exmo Sr Gen R/1.

  5. O que é um General no mundo político em que vivemos, basta ver a Ordem Geral de Precedência da Presidência da Republica, muito aquém de outras autoridades constituídas nesse País e que também pelas prerrogativas atinentes a função poderiam fazer e não fazem em defesa do País. Sua Excia, O Sr. General, pelo menos, expos de maneira radical, o seu pensamento, que representa o da maioria dos militares do Brasil.
    SO RM1

  6. O problema é justamente esse: quem deveria estar se coçando para a melhoria das FFAA deveria ser os Cmtes (mas estes estão mais preocupados em se livrar de investigações do MPM) e os demais Oficiais Generais (mas estes são, na maioria, pelegos esperando que lhes atirem uma migalha).
    Quando vão p/ a reserva sem previsão de pegarem mais alguma boquinha, aí concordo com o amigo acima o qual diz que "viram macho".
    Será que vamos continuar delegando às nossas mulheres a contestação pela nossa situação de penúria salarial e de estrutura?
    Uma vergonha isso…

  7. Acredito que o autor da nota retratou muito bem a personalidade e o égo do ex-Ministro Jobim, que aliás, muito se asemelha a arrogância de FHC. Ambos parecem ter um rei na bariga.

    Quanto ao comentário sobre o Ministro Amorim, o autor cometeu o mais básico dos equivocos: não reconhecer as virtudes dos "inimigo", na concepção do autor o Ministro Amorim não possui qualidades para o cargo por ser unicamente de esquerda. Esquecendo-se que a ampliação dos mercados realizado pelo Presidente Lula com o apoio do Itamarati é que esta garantindo juntamente com o mercado interno o folego suficiente para o Brasil atravessar crises oriundas do EUA e da Europa.

    Por outro lado, o Brasil nunca teve posição definida a nivel mundial, a não ser acompanhar o que os americanos nos determinava, os militares nunca foram tão bem tratados como foram nos últimos oito anos. Até as esposas deles fizeram movimento salarial, militares emitiram opiniões contra o governo e não ouve represalia. Então como dizer que as forças armadas estão em situação calamitosa? a restrição de verbas atingem por igual todos Ministérios e não só um.

    Acredito que o Ministro Amorim juntamente com a Presidenta Dilma saberão na hora apropiada reaparelhar as Forças Armadas porque com o Présal se tornou uma questão de prioridade nacional.

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