JOGOS MUNDIAIS MILITARES: ARQUIBANCADAS E HOTÉIS VAZIOS

DANIEL FAVERO
MÔNICA GAMA
A baixa frequência de público foi comum nas arenas de competições da 5ª edição dos Jogos Mundiais Militares. No entanto, o esvaziamento não ocorreu apenas nos estádios. De acordo com o Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio de Janeiro (SindRio), a competição não teve grande influência na ocupação hoteleira, que, neste sábado estava na casa média dos 70% esperados.
A reportagem do Terra percorreu três regiões do Rio de Janeiro, da zona norte à zona sul, passando pela região central, para saber o motivo de turistas e cariocas não terem mostrado muito interesse em acompanhar os Jogos Mundiais Militares.
Mesmo com a desburocratização na retirada de ingressos anunciada na terça-feira pelo comitê organizador não houve aumento de torcedores. Neste sábado, penúltimo dia dos Jogos, quando ocorrem várias semifinais e finais, as arquibancadas continuaram vazias, apenas um número um pouco maior de torcedores acompanharam os jogos de vôlei.
Falta de ingressos e arquibancada vazia
Embora algumas arenas como a construída no Posto 2, em Copacabana, onde aconteceram os jogos de vôlei de praia, as arquibancadas ficaram vazias. No entanto, a bilheteria não estava disponibilizando ingressos para as pessoas que queriam entrar para assistir, informando que não haviam ingressos disponíveis. De acordo com uma voluntária dos Jogos, não havia nem 100 pessoas assistindo a competição entre os brasileiros Rogério e Roberto contra os jogadores do Sri Lanka Rathnapala e Perera.
O pedagogo capixaba Carlos Rodrigues, que está de férias no Rio de Janeiro, tentou assistir ao jogo, mas se esforço para retirar ingressos gratuitamente na bilheteria na arena foi em vão.
“Minha esposa e minhas filhas foram até o centro, no SAARA (local de comércio popular no Rio de Janeiro). Eu queria ver o jogo, li na internet que era só chegar com uma hora de antecedência e retirar o ingresso. Mas falaram na bilheteria que não havia nenhum ingresso, e estou vendo daqui que está vazio. Acho uma palhaçada, um absurdo. É bem coisa de militar que quer controlar tudo e todos. Estou indignado. Agora não quero ver mais nada, perdi a vontade”, disse o pedagogo.
As maiores reclamações ouvidas pela reportagem apontavam a grande distância dos locais de competição, a total falta de condução, deficiência na divulgação de como eram distribuídos os ingressos gratuitos, horários dos jogos (geralmente durante a manhã e tarde, horário de trabalho da maioria das pessoas) e a incorporação de atletas civis nas Forças Armadas.
Para o corretor de seguros George Barreto, morador de São Gonçalo, os Jogos Militares eram somente para o público militar. “Não vi nenhuma propaganda, matéria ou anúncio, informando que a população civil podia assistir, e muito menos que os ingressos eram de graça”.
No entanto, ele considerou como positiva a inciativa das Forças Armadas de militarizar atletas civis paras os jogos. “Acho muito interessante a incorporação de atletas civis nas forças armadas. Num País onde o esporte não tem apoio, essa ideia só vem a ajudar os atletas a se manterem. O Brasil acha que só existe futebol, esses realmente não precisam de ajuda, pois já ganham muito dinheiro, mas o resto dos atletas não tem patrocínio e apoio de nada, e merecem toda e qualquer ajuda para continuarem lutando por medalhas”.
O auxiliar de telemarketing, Thiago Burity, 28 anos, também não sabia que os ingressos para as competições dos Jogos Mundiais Militares eram gratuitos. “Agora que sei que os jogos foram de graça vou levar minha filhinha em São Januário amanhã para assistir a final do futebol feminino. Estou cansado de assistir homem jogando futebol. Quero ir no jogo das mulheres”, afirmou o auxiliar ao lado de sua colega Amélia de Matos, que não pretende ir a nenhuma competição.
Já a turismóloga e funcionária pública Dayane Sampaio diz que ouviu falar dos jogos, mas não foi em nenhuma competição. Ela diz que acredita no potencial do evento, já que muitos empregos podem ser gerados, além de servir como teste para a realização dos Jogos olímpicos e Copa do Mundo. “É um evento com pessoas de vários países, que traz uma nova experiência não só para a cidade, como para a população do Rio de Janeiro. É importante para o Rio mostrar que tem capacidade”. No entanto, ela acredita que a população em geral não tem comparecido. “Quem vai, ou tem ligação com o esporte, ou tem algum conhecido competindo”.
O médico dinamarquês Sten Vammen diz que soube dos jogos, mas não trocaria um dia de férias no Rio para acompanhar alguma competição até mesmo de seu país. “Não sei onde estão e, no momento, não tenho muito interesse”, disse entre um gole e outro de cerveja nas areias de Copacabana.
O advogado e corretor Elcie Matos foi a vários jogos, mas reclamou da organização a natação, realizada no domingo. “O evento estava marcado para as 10h30, chegamos às 10h40, e já estava acabando. Como moro em Copacabana e estava na Barra, fomos ver o basquete ali perto”, diz. Ele afirma que a distribuição de ingressos pela internet foi falha. “Nos últimos dias as pessoas não estavam conseguindo se cadastrar no site, e ao chegarem no local não sabiam se a lotação estava esgotada”. Ele reclamou ainda do preço das bebidas e alimentos nos eventos. “Para um evento popular, cobrar R$ 5 por uma latinha de refrigerante, não tem como”, disse.
Baixa procura nos hotéis da cidade
De acordo com o presidente do SindRio, Pedro de Lamare, a competição não teve grande influência na ocupação hoteleira durante as últimas semanas. A ocupação média se manteve em 70%, número considerado normal.
Para Lamare, isso se deve ao fato dos atletas, técnicos e comissões estarem alojados em vilas específicas. Segundo ele, não há muito deslocamento de turistas interessados nos jogos.
O presidente afirmou ainda que no início do ano, alguns hotéis chegaram a preparar pacotes para os jogos. Mas com as reservas em baixa, os pacotes acabaram saindo de cena.

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