Yoani Sánchez
A nova caderneta de racionamento nos surpreendeu nos finais de dezembro, justamente quando aumentavam os rumores funebres em torno deste caderninho de páginas quadriculadas. Chegou, como em cada ano, rodeada de ansiedade e tédio, submergindo-nos nesse conflito de evitação-aproximação que o subvencionado gera. Percebo em suas pequenas folhas a ausência de muitos produtos que uma vez integraram a quota mensal, hoje reduzida apenas a um repertório monótono com valores nutritivos insuficientes e preços em ascensão.
Pela primeira vez em nossa casa estamos todos situados na mesma faixa etária, definida pelo Ministério do Comércio Interior. Meu filho aparece na grupo de 14 à 64 anos, junto ao Reinaldo e eu, por pelo menos tres gerações de cubanos temos visto os merceeiros apontarem o que podemos levar à boca. Imobilizados pela menosvalia material, milhões de compatriotas são dependentes dos preços subvencionados para sobreviverem. O racionamento é trampolim e queda certa, dependência que todos querem acabar, porém da qual ninguém pode sair.
Olho meu nome junto ao de Teo e me assusta que sua prole também só receba leite até os sete anos, atribuam-lhe um sabonete a cada dois meses ou uma pasta insípida para escovar os dentes. Estremeço ao imaginar que daqui a trinta anos, ainda se deva certificar – com atestado médico – a existência de uma úlcera para ter direito à umas onças de carne ou uma porção de yogurt de soja. Com suas quantidades mínimas e sua qualidade duvidosa, o mercado racionado nos inculcou também uma gratidão malsã e um complexo de culpa que não podemos deixar de herança aos que vierem. Se chegar outro dezembro e nos entregarem uma caderneta, não será porque teremos vencido a crise econômica, senão porque descemos mais um degrau na nossa economia cidadã.
Traduzido por Humberto Sisley de Souza Neto

Geração Y (desde Cuba)

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